Adolescentes são torturados por PMs que procuravam suspeito de balear policial em SC

    Quatro policiais agrediram cinco menores de idade por cerca de 20 minutos em local longe de câmeras de segurança na cidade de Joinville
    Adolescente foi espancado por PMs (Foto: Divulgação)
    Adolescente foi espancado por PMs (Foto: Divulgação)
    Por Adrieli Evarini, especial para a Ponte Jornalismo

    Pancadas, socos, chutes, coronhadas e uma arma colocada dentro da boca. Foi assim que a tarde do domingo (6) terminou para cinco adolescentes no Parque São Francisco, bairro Adhemar Garcia, em Joinville, Santa Catarina. A chuva intensa que atingia a cidade por volta das 17h30 fez com que os garotos que costumam frequentar o parque para andar de skate se abrigassem sob a estrutura da lanchonete, aguardando para poder ir para casa. Foi quando uma viatura da CPT (Companhia de Patrulhamento Tático), com quatro policiais, parou em frente aos menores – que têm entre 14 e 16 anos. “Eles desceram chutando já e perguntando pelo Pepo, mas a gente não conhece ele, só de ouvir falar no bairro. Aí que a gente apanhou mais e o policial colocou a arma na boca dele”, contou um dos adolescentes à reportagem da Ponte Jornalismo.

    Na madrugada anterior, sábado (5), o policial militar Alexandre Mauro Padilha foi baleado próximo ao local onde os garotos estavam na tarde de domingo. E o suspeito era um adolescente conhecido como Pepo, que se entregou à Polícia Civil na tarde de terça-feira (8), confessando a tentativa de homicídio contra o PM e outros dois crimes. O menor foi encaminhado ao Casep (Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório). Porém, a localização do Casep para onde Pepo foi levado não foi revelado por medida de segurança. Segundo o delegado da DIC (Divisão de Investigação Criminal), Fabiano Silveira, nem o local onde estava escondido, nem o local para onde o adolescente foi levado será revelado. “A gente trabalha com a intenção de levar a pessoa até a Justiça e preservar vidas”, afirmou.

    De acordo com um dos adolescentes torturados pelos policiais, após a abordagem, eles foram obrigados a ir para a parte de trás do local, onde câmeras de segurança não conseguem registrar imagens. Foram cerca de 20 minutos de agressão e tortura psicológica para tentar descobrir o paradeiro de Pepo. Segundo a mãe de um dos garotos, que não terá a identidade revelada por segurança, os policiais agiram dessa maneira porque queriam encontrar o adolescente que teria atirado no companheiro de corporação deles e se vingar. Além disso, para ela, eles agem com covardia porque eram adolescentes e não havia ninguém no parque devido a chuva. “Eles agem assim, é covardia. Pensam que ninguém vai ver e que todo mundo vai ficar quieto. A gente pode até ter medo, mas se não denunciar eles vão continuar cometendo abusos”, disse à Ponte.

    Adolescente foi espancado por PMs (Foto: Divulgação)
    Adolescente foi espancado por PMs (Foto: Divulgação)

    O adolescente ainda disse que após a sessão de tortura, os policiais ordenaram que saíssem correndo do local, ou iriam atirar. “Só três bateram, um disse que não iria bater, que com ele era na bala. Depois ainda disseram: corram pra casa ou vão levar bala”, contou. Escoriações pelo corpo, inchaços e costelas quebradas. Na segunda-feira (7), duas mães foram até a Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de Joinville para registrar Boletim de Ocorrência, ao IGP (Instituto Geral de Perícias) realizar exames de corpo de delito e ao 8º BPM (Batalhão de Polícia Militar) registrar Boletim de Ocorrência na Corregedoria.

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    Porém, como o local é de abrangência do 17º BPM, segundo informações da Corregedoria do 8º Batalhão, o BO foi encaminhado ao Batalhão responsável nesta segunda-feira (14). Para o corregedor do 17º Batalhão de Polícia Militar, Gabriel Corrêa, assim que receber a documentação fará a análise, mas adiantou que nesse tipo de caso existem duas possibilidades: abertura de sindicância — que tem como prazo padrão 30 dias — ou abertura de IPM (Inquérito Policial Militar), caso haja indício de crime militar. No segundo caso, o prazo pode ser de até 60 dias para a conclusão. “O encerramento do caso inteiro vai se dar só ano que vem, isso eu não tenho dúvida”, avaliou.

    Dois dos adolescentes já mudaram para casas de familiares em outros Estados, por medo de represálias. Menos de doze horas antes de os cinco menores serem torturados pelos policiais do Tático, sete pessoas foram assassinadas na cidade em um intervalo de três horas.

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