Ativistas protestam contra a impunidade do Massacre do Carandiru, em São Paulo

    Em intervenção artística, manifestantes pintaram mais de 111 corpos na calçada na frente do Tribunal de Justiça de São Paulo

    Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo
    Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    Na última quarta-feira, (02/11), Dia de Finados, um grupo de ativistas pintou mais de 111 corpos na calçada da frente do Tribunal de Justiça, na Praça da Sé, região central de São Paulo, em protesto à impunidade do Massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992.

    “O governador Fleury e seu secretário de segurança pública representavam o Estado no Massacre do Carandiru e nunca foram responsabilizados pelas 111 mortes. O comandante da operação, Coronel Ubiratan, condenado a 632 anos de prisão, após recurso, foi inocentado pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça e eleito deputado estadual ostentando o número 111, prova de que parte expressiva da sociedade apoia a atuação da polícia que mais mata (e mais morre) no mundo. O desenvolvimento do crime organizado e a sensação geral de que a violência e criminalidade só aumentam sob essa política de repressão do estado por meio de suas instituições como o Tribunal de Justiça e a Polícia Militar não parecem ser suficientes para convencer a sociedade de que este caminho é errado”, explicou P.N., um dos participantes da ação.

    O grupo acompanhava o Carnavato de los muertos, cortejo organizado pelo Arrastão dos Blocos, que milita, dentre outras pautas, pelo Carnaval de rua em São Paulo. A ação do dia de finados teve participação do Arrastão dos Blocos e do grupo artístico político Tanq_ ROSA Choq_

    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva

    De acordo com o ativista, a escolha do TJ ocorreu porque ” é preciso manter na pauta política, mais do que nunca, que o estado brasileiro, seja em forma de regime de exceção ou estado democrático de direito, atenta contra os direitos humanos de seus cidadãos diariamente, e que enquanto isso ocorrer, não haverá democracia de fato”,

    Essa foi a segunda ação do grupo que prefere se manter anônimo. Em outubro, estrearam com uma intervenção poético-política no centro de São Paulo. O resultado foi o vídeo Olho da Rua 2016, registro da ação em que colam o retrato do fotógrafo Sergio Silva na rua e derramam baldes de tinta vermelha para que os veículos que passam espalhem a tinta pelas ruas e cubram o retrato e a cidade de sangue. Silva teve o olho atingido por uma bala de borracha da polícia enquanto cobria uma manifestação em 2013.

    As duas ações fazem parte de um projeto maior do grupo: criar obras efêmeras e públicas, para que seus registros em vídeo componham um museu da Polícia Militar, com obras-ações que denunciem as atrocidades perpetradas não apenas contra a população, mas contra os próprios soldados.

    “A inquietação que gerou essa ideia é a nossa incapacidade de aprender com os erros; o Brasil não aprende com sua história. A ideia surgiu quando as pessoas começaram a morrer de frio em São Paulo. Queríamos fazer memoriais com a história de vida dessas pessoas. Com o golpe e o embrutecimento da PM, o foco mudou, mas mantivemos a ideia dos memoriais e de interferir no espaço público, e vamos tentar fazer uma série de ações para mapear essa violência”, diz B. A., o idealizador do grupo.

    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva

    De acordo com dados do 10o Anuário de Segurança Pública do Brasil, ao menos 9 pessoas morrem por dia em decorrência de intervenções policiais. E os próprios policiais também são vítimas: no ano passado, 393 foram assassinados, sendo um terço durante o seu horário de trabalho.

    Há pouco mais de um mês, uma semana antes do massacre completar 24 anos, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou os julgamentos que condenaram 74 policiais militares pela execução dos detentos. Condenados em todas as cinco etapas do julgamento, os réus receberam penas que variavam entre 48 e 624 anos de prisão. Porém, até segunda ordem, não irão cumprir um único dia. O desembargador Ivan Sartori tentou absolver os PMs alegando que agiram em legítima defesa, mas o que assegurou a anulação do júri foram as garantias do direito de defesa dos policiais, uma vez que é impossível individualizar sua conduta durante a operação.

     

    Veja mais fotos de Sérgio Silva, sobre a intervenção na frente do TJ de São Paulo

    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
    Foto: Sérgio Silva
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    Foto: Sérgio Silva
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