Guardas civis agridem grafiteiros em Mogi das Cruzes

    Quatro artistas apanharam e foram presos após fazerem grafite em muro durante evento de arte; secretário do município já foi comandante da Rota

    Durante um evento de skate e grafite que aconteceu neste domingo (12) em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, quatro grafiteiros foram agredidos e presos por guardas civis metropolitanos. De acordo com o BO (Boletim de Ocorrência), por volta das 17h40, os agentes viram os artistas pintando um muro particular branco, sem autorização. Assim os agentes os abordaram e encontraram maconha com eles. Durante a abordagem, os GCMs teriam sido agredidos, inclusive com uma madeira. Pela versão dos agentes, os quatro grafiteiros estão presos até agora.

    Mas um vídeo, gravado por João Fernandes, mostra que a versão apresentada é contestável. Houve uma abordagem, os suspeitos estavam detidos, mas questionavam o por quê estavam sendo algemados e jogados no chão. Até que um dos grafiteiros, já imobilizado, de fato, tenta chutar um GCM. Ele não conseguiu. Na sequência, a resposta veio bem mais forte. Um outro guarda civil dá um soco em seu rosto, que começa a sangrar. Um osso do nariz do suspeito quebrou, segundo uma familiar que pediu para não ser identificada.

    Tudo pelo o que os grafiteiros foram acusados | Reprodução/BO
    Tudo pelo o que os grafiteiros foram acusados | Reprodução/BO

    Um outro rapaz, que estava no meio dos guardas civis metropolitanos, também foi agredido e saiu do local inconsciente. Testemunhas relataram à reportagem da Ponte Jornalismo que, além de ter agredido fisicamente o rapaz, os agentes públicos atiraram spray de pimenta contra o rosto do grafiteiro.

    A reportagem pediu um posicionamento da Secretaria Municipal de Segurança Pública de Mogi das Cruzes, mas a pasta não se posicionou. Quem respondeu foi a prefeitura, em uma nota. Confira:

    “Durante o evento, uma parte do muro da estrutura foi liberada para a atuação de grafiteiros, que também participavam. No entanto, o limite disponibilizado não foi respeitado pelos presentes, que passaram a grafitar em toda a extensão, o que não havia sido autorizado.

    Dois guardas municipais que estavam no local solicitaram aos presentes que parassem com a ação e se limitassem ao trecho previamente autorizado. Estes guardas municipais foram hostilizados pelos presentes, quando foi necessária a solicitação de reforço. Com a chegada do efetivo, os guardas municipais foram novamente hostilizados e agredidos, sendo que dois profissionais ficaram feridos.

    Também foi registrada depredação de viaturas. Sendo assim, foi dado voz de prisão, que foi seguida de resistência por parte de alguns presentes. Quatro pessoas foram detidas e conduzidas ao 1º Distrito Policial de Mogi das Cruzes, onde foi registrado Boletim de Ocorrência por danos ao patrimônio público, porte de entorpecente, desacato e resistência à prisão.

    O vídeo disponibilizado em redes sociais apresenta apenas o momento final do ocorrido. A Secretaria Municipal de Segurança lembra que é uma preocupação da Administração Municipal o treinamento contínuo dos guardas municipais para o atendimento adequado de ocorrências, visando garantir a segurança da população e a integridade do patrimônio público.

    Por fim, informamos que está sendo instaurada uma sindicância para apurar os fatos. O prazo para o término é 60 dias.”

    Quem é o secretário municipal?

    O secretário de segurança de Mogi é um velho conhecido na área da segurança. Principalmente dos mais antigos. Eli Nepomuceno é um coronel da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Em 1975, o então comandante da Rota era responsável pelas equipes noturnas da considerada elite da PM paulista. Ele foi acusado de ter obstruído as investigações sobre o caso que aconteceu em 23 de abril daquele ano, quando três jovens ricos foram assassinados por membros da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. Segundo as investigações, ele teria omitindo e deturpando fatos, assim como teria ordenado a produção de evidências falsas que incriminassem as vítimas.

    As acusações, no entanto, nunca foram comprovadas. Mesmo assim, Nepomuceno era cotado para ser o comandante da Guarda Civil Metropolitana da cidade de São Paulo em 1997 e 2000. Justamente pela suspeita, o então prefeito, Celso Pitta, desistiu de fazer a nomeação. Em janeiro de 2009, no entanto, o prefeito de Mogi das Cruzes, Marco Aurélio Bertaiolli (DEM), não pensou nisso e nomeou Eli Nepomuceno como secretário municipal de Segurança de Mogi das Cruzes, comandando a Guarda Municipal, o sistema municipal de vigilância com câmeras e o Setor de Fiscalização.

    Veja a versão que foi apresentada pelos GCMs na delegacia:

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