Mototaxista é morto por PMs no Complexo do Alemão, no Rio

    Conhecido como Shrek, o mototaxista Aguinaldo José de Nascimento levava uma passageira grávida na garupa de sua moto quando foi alvejado com tiros de fuzil por policiais militares da UPP

     

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    Aguinaldo José de Nascimento, conhecido como Shrek, era mototaxista no Conjunto de Favelas do Alemão. Foto enviada à Ponte

    Por volta das 4h30 da madrugada deste sábado (23/04), o mototaxista Aguinaldo José de Nascimento, de 36 anos, que os amigos chamavam de Shrek, trabalhava no ponto de mototáxi conhecido como Largo do Birosca, na região de Fazendinha, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele levava uma passageira grávida na garupa de sua moto quando foi baleado por quatro policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade e morreu. Segundo testemunhas, foram três tiros de fuzil, um deles no pescoço. A passageira foi ferida na perna com os estilhaços dos projéteis de fuzil que mataram o mototaxista.

    “Foi na hora em que os policiais desceram para fazer a revista das pessoas que estavam no baile. Aí os policiais mandaram um moleque que estava na rua parar e o moleque saiu voado. Nisso, o Shrek estava passando com a garota na garupa e os policiais deram três tiros nele. Ele estava levando a passageira em casa, trabalhando, usando a blusa do mototáxi”, conta à Ponte Jornalismo uma testemunha, que não quis se identificar.

    Moto de Francelino no local onde o mototaxista foi morto. / Foto enviada à Ponte
    Moto de Aguinaldo no local onde o mototaxista foi morto. Foto enviada à Ponte

    “Eles ficaram uns cinco minutos olhando para a cara um do outro, viram que fizeram besteira, e aí começaram a fazer reanimação cardíaca nele”, relata. Moradores ouviram os policiais dizendo “vaza, vaza, antes que eu te dê um tiro também!” para a moça, que saiu correndo do local onde Aguinaldo foi morto. “Eles mandaram ela embora para não ter testemunha caso eles fossem alterar a cena do crime”, diz uma testemunha.

    Segundo outra testemunha, os policiais simplesmente jogaram o corpo de Aguinaldo dentro do carro e o levaram embora. “Eles jogaram ele dentro do carro que nem bicho, que nem bandido”, revolta-se. “Sendo que ele estava com colete de mototáxi. Não deixaram ninguém chegar perto”, completa a testemunha, que afirma que não houve troca de tiro no local.

    Aguinaldo tinha outro emprego durante o dia e trabalhava no mototáxi no turno da noite para complementar a renda. Ele tinha um filho de 4 anos, para quem recentemente tinha comprado um jogo de corrida porque não queria que o menino brincasse com “jogo de tiro”, segundo amigos seus.


    Outro lado

    A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Polícia Pacificadora para pedir esclarecimentos sobre o fato. A resposta enviada foi a seguinte:

    “Segundo o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Fazendinha, policiais estavam em patrulhamento pela Rua Austregésilo, no fim da madrugada deste sábado (23/4), quando avistaram homens armados no Beco da Claro. Houve troca de tiros. Os suspeitos fugiram e, em seguida, os agentes foram avisados de que um homem havia sido atingido. Os PMs localizaram o ferido e o socorreram para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. O homem não resistiu aos ferimentos. Outras UPPs do Complexo do Alemão se juntaram à UPP Fazendinha para realizarem buscas pelos suspeitos. Três jovens, sendo dois menores e um maior de 18 anos, foram abordados por policiais da UPP Adeus/Baiana na Rua Uranos em atitude suspeita. Ao ser realizada revista, os agentes encontraram um revólver calibre 38 com oito munições em posse do maior, além de três cartuchos de munição no bolso do mesmo. Já agentes da UPP Nova Brasília que realizavam buscas pela Estrada do Itararé foram alvos de disparos de armas de fogo efetuados por traficantes quando passavam pela esquina com a Rua Aristóteles Ferreira. Os PMs não chegaram a revidar o ataque. As ocorrências foram registradas na Central de Garantias, da Cidade da Polícia e a Divisão de Homicídios da Polícia Civil esteve no Beco da Claro realizando perícia no local. O Grupamento de Intervenções Táticas (GIT) das UPPs reforça o policiamento no complexo de favelas.”

     

     

     

    * Reportagem atualizada às 19:17 para correção de informação. O nome da vítima, na verdade, é Aguinaldo José de Nascimento.

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