O que pensa o homem que é a voz da PM de SP

    Em um ano, major Emerson Massera disse que ouvidor da Polícia devia ser exonerado, que programa de proteção a testemunhas é “suborno” e que machismo e feminismo são a mesma coisa

    Major Emerson Massera (Foto: Reprodução/Rádio Joven Pan)
    Major Emerson Massera (Foto: Reprodução/Rádio Joven Pan)

    O major da Polícia Militar Emerson Massera Ribeiro ganha quase R$ 10 mil mensais, de acordo com o site da transparência do governo de São Paulo, para ser a voz da corporação junto à imprensa. É ele quem responde à denúncias (ou deixa de responder quando quer), repassa furos jornalísticos a seus chegados e esclarece fatos de interesse público (quando vale a pena).

    Somente durante este ano, ele argumentou que o ouvidor da Polícia, Julio Cesar Neves, não é honesto; que o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) não é um órgão isento; que um advogado teria feito algo ilegal para proteger uma vítima e acusar PMs; e que machismo e feminismo são a mesma coisa.

    Chamado de “amigo” por José Luiz Datena no programa policialesco “Brasil Urgente”, da Bandeirantes, ele sempre é convidado para prestar esclarecimentos, ao vivo, por telefone, de crimes que são exibidos pelo apresentador. Normalmente, ele fornece esclarecimentos sobre “injustas agressões por parte do meliante” contra policiais.

    Além disso, ele gosta de brincar. Em 13 de fevereiro deste ano, por exemplo, brincou de adivinhar os títulos de veículos de comunicação aos quais ele tem de se relacionar diariamente. Em uma brincadeira em que ele mesmo deu risada, ele diz que a PM não está empenhada em combater o Aedes Aegypti porque iria “aparecer um monte de gente para defender o inseto”. Veja abaixo:

    O homem que é a voz da PM junto à imprensa questiona a honestidade do homem que é o responsável por fiscalizar a corporação, Julio Cesar Neves, o ouvidor da Polícia de São Paulo. Em 11 de junho deste ano, ele afirmou que “a Ouvidoria poderia ser um órgão muito importante para a democracia, se o cargo fosse exercido por uma pessoa imparcial, honesta e equilibrada”. Com estas palavras.

    Para ele, “há a necessidade de se estabelecer um mecanismo que permita colocar no cargo uma pessoa com conhecimento e isenção. Enquanto isso, a Corregedoria da Polícia Militar é o único órgão com credibilidade na estrutura existente”. E, apesar das críticas que fez ao ouvidor e à Ouvidoria, ele deixou uma lição de moral: “As críticas devem existir para melhorar as instituições e não para destruí-las”.

    Ele questiona a credibilidade de Neves e do órgão público. “Enquanto a condição para exercer o cargo for o ódio contra a PM, em nada contribuirá para a melhoria das instituições”, afirmou. “Não basta exonerar esse (sic) atual Ouvidor, que não conhece nada sobre a PM, mas acha que deve dar palpites, sempre enviesados”, disse.

    Menos de uma semana depois, ele continuou a atacar quem fiscaliza a polícia. “O Condepe, como se sabe, está longe de ser um órgão isento”, afirmou em 17 de junho deste ano. “E não pode  ter a prerrogativa de indicar um profissional para um cargo que requer isenção, honestidade e coerência”, complementou sua opinião, cobrando uma mudança na escolha do ouvidor da Polícia de São Paulo. Para ele, quem deve escolher o ouvidor é a Secretaria da Justiça.

    Falando em Condepe, o advogado Ariel de Castro Alves, que pertence ao conselho, recebeu no dia 16 de junho uma acusação grave de Emerson Massera. O amigo do menino Ítalo, morto aos 10 anos durante uma fuga, entrou para o Programa de Proteção à Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça. O que Massera acha? Isto: “Uma proposta dessas equivaleria a um suborno? Acho que caberia, no mínimo, uma apuração da conduta do Ariel Castro…”

    massera-suborno

    Para Emerson Massera, feminismo e machismo são a mesma coisa e têm traços em comum em casos que terminam em estupro. “Eu acho que o feminismo extremado se iguala ao machismo. Vemos várias distorções na defesa dos Direitos Humanos. Essas distorções também se incluem entre as causas dos estupros”, afirmou na noite de 27 de maio.

    Antes desta análise feita pela cabeça do homem que fala pela Polícia Militar de São Paulo, ele afirmou que “nem mesmo os machistas mais imbecis defendem o estupro ou o estimulam. Se existe uma (sub) cultura do estupro, esta é a leniência com o crime, a impunidade, a vitimização do criminoso, a inversão de valores, entre outros”.

    Tudo isso, ele falou em menos de um ano. Recentemente, o major fechou suas redes sociais. Curiosamente, ele tomou esta decisão justamente após uma série de reportagens questionar o comandante de operações da Polícia Militar em diversas manifestações recentes em São Paulo, o tenente-coronel da PM Henrique Motta, que usou seu perfil no Facebook para ironizar a estudante Deborah Fabri, de 19 anos. Ferida por estilhaços de bomba atirada pela PM, a estudante perdeu a visão do olho esquerdo.

    Outro lado

    Procurada pela Ponte, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública respondeu: “A SSP esclarece que as declarações mencionadas pela Ponte refletem as opiniões pessoais do profissional e não da instituição a qual ele pertence”.

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    Antonio Marin
    Antonio Marin
    7 anos atrás

    Ponte, vai caçar assunto em outra freguesia. Quem são vocês para tentar arranhar a imagem deste oficial brilhante? Sugiro convidá-lo para um debate ao vivo, longe de suas interpretações tendenciosas e discriminatórias. Não sejam covardes e deêm verdadeiramente a oportunidade de encará-lo e ouvir sua maneira de pensar.
    Isso que fizeram é muito feio e antidemocrático.
    Ou vocês são pelêgos de quem?
    Se for isso desconsiderem. Por um momento pensei haver alguma seriedade, mesmo que tendenciosa.

    Claudemir Sola
    Claudemir Sola
    7 anos atrás

    Quando se tem a caneta na mão, escreve- se o que se quer sem medir a consequência, quando escreve-se uma matéria aparentemente por interesse ou no mínimo tendenciosa temos que ler isso que p jornalista escreveu.
    Esse tipo de matéria não contribui em nada com a segurança pública e muito menos com a democracia, gostariauito de ler a versão do SR Massera ( isso mesmo sem a patente) ara que ele pudesse expor sua versão dentro de um contexto total da matéria.

    Claudemir Sola
    Claudemir Sola
    7 anos atrás

    Quando citei Sr Massera (isso mesmo sem patente) , me referi ao cidadão que independentemente da patente ou de quanto recebe legalmente….tem o direito como cidadão de defesa e/ou de dar a sua versão.

    antonio everton de souza
    antonio everton de souza
    7 anos atrás

    Demonstração inequívoca de falta de conhecimento do militar em relação ao CONDEPE e a OUVIDORIA DAS POLICIAS. Uma demonstração de força, e abuso de autoridade que precisa ser reprimida com rigor. Este policial não representa a sociedade e muito menos a grande maioria dos policiais militares, que são treinados para dar segurança a população e não investir contra ela. Acho que mereceria uma aposentadoria, antes que causasse prejuízos irreparáveis para a população, contaminando outros policiais, com esse pensamento e essa forma de agir autoritariamente. Com a palavra as autoridades competentes, lembrando que o País está mudando e não aceita mais comportamentos desse tipo de “servidores públicos” que são pagos pela população.

    Elson
    Elson
    7 anos atrás

    Como assim “as declarações mencionadas pela Ponte refletem as opiniões pessoais do profissional e não da instituição a qual ele pertence”? Ele não é porta-voz? Não é exatamente a pessoa que ocupa esse cargo que tem a função profissional de apresentar a fala institucional a qual ele pertence?? ¯\_(ツ)_/¯

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