Polícia quer reconstituir execução de PMs contra jovem, mas caso emperra

    Thiago Vieira da Silva foi morto com 10 tiros quando voltava de uma casa noturna com amigos, no Jardim São Luís, zona sul de SP, em 9 de dezembro de 2014

    Cinco meses atrás, o vendedor Thiago Vieira da Silva, então com 22 anos, foi executado por dois PMs (policiais militares) no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo. O caso foi revelado pela Ponte Jornalismo através de um vídeo obtido com exclusividade. Desde o homicídio – reconhecido assim pelos órgãos que investigam o crime -, o caso está praticamente parado. Os policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho dispararam 10 vezes contra Thiago, que, segundo amigos e família, voltava de uma casa noturna na noite do dia 9 de dezembro de 2014.

    A Ouvidoria das Polícias de São Paulo informou que, no dia 31 de março – último andamento do caso -, policiais que investigam este assassinato afirmaram que a execução de Thiago Vieira da Silva ainda está em fase de instrução, aguardando o recebimento de laudos periciais para, só depois, deliberar à autoridade policial a reconstituição do crime. Os agentes também disseram que são aguardados vídeos e imagens, mesmo esses documentos já tendo sido anexados no inquérito policial e em reportagens jornalísticas.

    Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenes Coelho, afastados da 1ª Companhia do 1ºBatalhão da Polícia Militar, afirmaram na delegacia que houve uma troca de tiros e que Thiago e um outro rapaz estavam traficando drogas no momento do suposto confronto.

    A reportagem da Ponte Jornalismo esteve no local logo após o acontecimento e constatou que havia marcas de bala em apenas um lado da calçada, dando a entender que apenas os policiais atiraram. Moradores da rua onde o crime aconteceu e a família do vendedor, que trabalhava em um comércio com o pai, afirmam que o rapaz não estava com drogas, nem arma e que foi executado.

    Thiago Vieira da Silva tinha  anos
    Thiago Vieira da Silva tinha anos

    Logo após o crime, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os policiais prenderam, em flagrante, Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, com uma bolsa carregada de drogas, depois de a corporação ter sido acionada para atender uma denúncia de tráfico. A pasta informou, ainda, que o rapaz foi detido após ter se entregado, e que Thiago tentou fugir. Ao lado do corpo, segundo a secretaria, foi encontrado um revólver calibre 38. A versão foi desmentida por todos que presenciaram a ação. Um policial civil à frente do caso afirmou que foi relatado ao Poder Judiciário e ao MP (Ministério Público) o suposto crime de tráfico praticado por Leandro.

    O amigo que foi à balada com Thiago aquela noite, não identificado por motivos de segurança, disse que eles conversavam na rua no momento da abordagem. “Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar para casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”, afirmou à reportagem da Ponte. Um morador da região, que ouviu Thiago pedir socorro antes de ser executado, disse que os policiais voltaram à rua, depois da execução, para revistar os celulares das pessoas. “Apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, relatou.

    Um outro morador afirmou à reportagem que ele e seus vizinhos não viram a mochila que foi apreendida com Leandro, cheia de drogas, muito menos uma arma com Thiago. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila. Estavam dando risada na rua”. A mãe da vítima, que pediu para não ser identificada, disse que o filho sempre foi trabalhador e que espera, pelo menos Justiça, para que seu filho “não tenha sido morto como marginal”.

    O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, condenou com veemência a ação dos policiais. “O policial militar não está aí para matar alguém, para executar uma sentença de morte. O policial militar está aí para prender e para levar esse cidadão para um distrito policial”, afirmou.

    Policiais não respeitaram orientação

    A ação dos policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimezes Coelho não respeitou a orientação dada a todos os agentes de segurança pública: o método Giraldi. De acordo com essa orientação, durante uma abordagem que requer a contenção de um suspeito, o policial deve disparar apenas duas vezes, caso seja necessário. Se o suspeito estiver armado e reagir, o agente deve seguir com mais dois disparos seguidos até que a situação fique segura.

    Isso não aconteceu com Thiago Vieira da Silva. Ele gritou socorro três vezes antes do primeiro disparo, quando ele parece já ter desacordado. O PM Dartora deu os quatro primeiros disparos, seguidos. Depois, o policial Rodrigo Gimezes Coelho, que estava na cobertura do primeiro agente, também atirou. Ao todo, 10 tiros foram disparados contra o vendedor que voltava da balada com os amigos.

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