Sem interferência da PM, 3° ato do MPL é pacífico

    O 3° protesto contra o aumento nas tarifas do transporte público em São Paulo ocorreu de forma pacífica. Desta vez, o clima durante todo o ato foi muito mais tranquilo do que nos outros dois realizados neste mês
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    Terceiro grande ato contra a tarifa. Foto: Rafael Bonifácio /Ponte Jornalismo.

    O 3° protesto contra o aumento nas tarifas do transporte público em São Paulo ocorreu de forma pacífica na tarde desta terça-feira (20/1). Desta vez, sem escopetas de balas de borracha, bombas de gás e efeito moral, o clima durante todo o ato foi muito mais tranquilo do que nos outros dois realizados neste mês, quando, de um lado, houve depredações, e, de outro, truculência policial. Inclusive, na sexta-feira (16), quando o 2° ato do MPL (Movimento Passe Livre) tentava sair de frente da prefeitura, W., de 22 anos, levou um tiro de bala de borracha no olho. Ele ainda não sabe se voltará a enxergar.

    O protesto foi o primeiro Grande Ato convocado para fora da região central da cidade. Antes, os pontos de encontro foram o Theatro Municipal e a praça do Ciclista. Desta vez, o MPL decidiu se encontrar às 17h na praça Sílvio Romero, no Tatuapé, zona leste da capital. Por volta das 18h40, após assembleia com cerca de mil pessoas, ficou decidido que os manifestantes iriam percorrer ruas do bairro até chegar ao largo do Belém, na mesma região. No horário, a PM (Polícia Militar) contabilizava 800 pessoas.

    Este ato trouxe pessoas de fora da capital. Na assembleia, diversas reuniões em bairros periféricos de São Paulo foram anunciadas para que os trabalhadores que vivem nos extremos da cidade possam se orientar sobre a ideologia do movimento. Para a auxiliar administrativa Laura Melo, de 18 anos, moradora de Cotia, valia cada quilômetro percorrido estar ali. “É muito bom saber que tem pessoas querendo o melhor. Não acho legal pessoas acomodadas. Em Cotia, a passagem também aumentou. Foi a cidade com o maior aumento: R$ 0,60”, afirmou.

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    Foto: Rafael Bonifácio /Ponte Jornalismo

    Com os policiais “garantindo o direito à manifestação”, conforme a própria corporação afirmou pela primeira vez em seu Facebook, integrantes do MPL se preocuparam ao máximo para que o ato não terminasse em vandalismo. À frente do ato, haviam dois mascarados apenas. Por diversas vezes e por integrantes do Passe Livre intercalados, lhes era recomendado que ficassem atrás da faixa que era levada pelo movimento “para a segurança de todos”.

    Quando a manifestação estava na radial Leste, pouco depois da estação Tatuapé do Metrô, um integrante do MPL foi mais incisivo com um dos dois black blocs. “Vocês quebram as coisas e depois fogem para não levar bala de borracha. Aí quem leva somos nós!”. O mascarado respondeu que se garantia, porque estava na linha de frente e não ia fugir. “Não vem me ensinar quais táticas devo usar. Eu fiz ciências sociais. Você fez também?”, questionou.

    A discussão foi adiante. Segundo o integrante do MPL, o ato é uma “publicidade” para que a tarifa dos ónibus e do metrô volte a ser baixada. O black bloc retrucou: “publicidade? Cara, depredação faz parte da publicidade de vocês. Se não tiver um vidro de banco ou de concessionária quebrado, o ato de vocês vai virar uma notinha na última página do jornal”. Mais adiante, os dois black blocs tentaram entrar na radial Leste sentido bairro e ir para cima de uma concessionária da Ford. Os próprios manifestantes barraram os dois, que prometeram “agir por fora do ato”.

    O trajeto

    Assim que deixou a praça Sílvio Romero, a manifestação desceu a rua Serra de Bragança. Na sequência, a rua Itapura, que, no final, daria na radial Leste. Duas quadras antes de chegar à via principal, o trajeto deu meia volta e passou a subir a rua Serra do Japi. Até mesmo quem fazia parte do percurso se perdeu. No local, um jogral cobrando a readmissão dos metroviários foi feito. “Os metroviários apoiam o MPL nessa luta. O acordado seria passar em frente a sede do sindicato, não sei porque não passou”, disse o presidente do sindicato dos metroviários, Altino Melo Prazeres.

    Após rodar por mais de 40 minutos pelos ruas estreitas do bairro, a marcha chegou às 20h no cruzamento entre as ruas Melo Freire e Francisco Pinheiro. Perfilados, cerca de dez homens da Força-Tática estavam fincados no local, sendo o suficiente para levantar o boato de que a PM não deixaria os manifestantes acessaram a principal ligação Centro-Zona leste. Após o clima ficar tenso pela primeira vez durante o ato, a PM liberou o caminho, passando a escoltar mais de perto os manifestantes, que, nesta hora, já havia ganhado mais adeptos, chegando a 5 mil presentes.

    Na radial Leste, além dos policias da Força-Tática e do helicóptero Águia 6, o contingente policial teve o reforço da Tropa do Braço e do 3° Batalhão de Choque. Porém, diferentemente dos atos anteriores, a discussão que se viu foi entre civis. A reportagem da Ponte Jornalismo presenciou apenas uma agressão durante o ato, entre um fotógrafo e um homem que fazia parte da manifestação. Após passar pela estação Belém do Metrô, os manifestantes seguiram até o largo do Belém, onde o ato foi encerrado.

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    Estação Belém fechada pela tropa de choque. Foto: Rafael Bonifácio /Ponte Jornalismo

    Bombas na dispersão

    A Tropa de Choque da PM atiraram bombas de gás na estação Belém na dispersão do ato. Segundo a corporação, a medida ocorreu após manifestantes tentarem fazer um “catracasso”, ou seja, pular a catraca da estação. Funcionários do Metrô decidiram fechar as portas da estação e os manifestantes reagiram atirando pedras contra os funcionários e quebrando a bilheteria do local. Segundo o capitão Storai, que comandou a operação desta terça-feira, afirmou que sete pessoas foram detidas “acusadas de terem envolvimento nos atos de vandalismo”. Todas as pessoas foram levadas ao 8º DP (Distrito Policial).

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