Todo dia, pelo menos um policial militar desiste da profissão em SP

    Em média, 440 policiais militares deixam a corporação todo ano, o equivalente a 1,2 por dia, segundo dados da própria Polícia Militar do Estado de São Paulo

    Formatura de PMs realizada em 2016 |Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG/Fotos Públicas
    Formatura de PMs realizada em 2016 |Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG/Fotos Públicas

    Entre janeiro de 2010 e maio de 2016, 2.638 policiais militares pediram baixa da corporação por diversos motivos. Em média, 440 PMs deixam a polícia por ano, o equivalente a 1,2 por dia. Para o sociólogo Eduardo Viveiros de Freitas, o número de saídas pode indicar uma dificuldade de muitos funcionários em “aceitar o ambiente militarizado” da PM.

    Dados tabulados pela própria PM indicam que a corporação perdeu 440 pessoas em 2010, 320 em 2011, 489 em 2012, 462 em 2013, 489 em 2014 e 439 em 2015. Até maio deste ano, 164 deixaram aos fileiras da PM paulista, que emprega quase 100 mil pessoas.

    A PM informou à reportagem que só no ano passado começou a analisar os motivos que levaram aos pedidos de demissão. De acordo com o estudo interno, dos policiais que deixaram a PM em 2015, 45% deram como motivo “ir para outra área de atuação”, 15% apontaram  “não adaptação à atividade policial militar” e 12% se disseram “insatisfeitos com a instituição”. Outros 12% disseram que saíam porque o trabalho ficava distante das suas residências e 16% apresentaram outros motivos.

    Um policial militar, que preferiu não se identificar, disse pra a reportagem que uma das situações que mais desanimam os agentes é a demora para subir de patente. Segundo ele, é comum casos de soldados que demoram cerca de 10 anos de serviço para se tornarem cabos. E, mesmo quando isso acontece, a diferença no salário é pouca.

    Formatura de PMs realizada em 2016 |Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG/Fotos Públicas
    Formatura de PMs realizada em 2016 |Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG/Fotos Públicas

    Para o sociólogo e professor da Estácio de São Paulo, Eduardo Viveiros de Freitas, se os policiais militares estão trocando a farda por outras atividades, a decisão pode levar em conta dois fatores: insatisfação, ou seja, decepção com a militarização excessiva, e a não adaptação, que passa pelo reação do indivíduo à disciplina.

    “A saída expressiva de policiais da PM demonstra a inadequação que muitos apresentam para lidar com o ambiente militarizado da força policial, as pressões e diferenças culturais e de formação que a vida numa sociedade complexa como a atual apresentam. Valores como disciplina, honestidade, obediência, caráter são constantemente postos à prova tanto dentro como fora da corporação. Lidar com as contradições no comportamento de comandantes, oficiais, chefias imediatas tanto no período de formação quanto no cotidiano da atuação policial exige do policial uma formação e uma prática que só a maturidade e uma sólida personalidade trarão”, analisa.

    Os dois anos em que mais policiais deixaram a PM foram 2012 e 2014, ambos com 489 saídas. O ano de 2012 foi marcado por uma guerra velada entre PMs e o crime organizado, que teve como saldo a morte de 106 policiais militares, quantidade semelhante ao registrado seis anos antes, período dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) contra as forças de segurança pública do Estado.

    Freitas também enxerga a violência como uma fator predominante para os pedidos de baixa na funcional de policial militar. “É muito difícil para um jovem que busca estabilidade, reconhecimento e perspectiva de futuro lidar com essas contradições e com o risco que sua vida corre, dada a natureza do trabalho”, diz.

    Outro lado

    Em relação à quantidade de PMs que deixaram a corporação, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou, em nota, que a reposição foi feita com a contratação, desde 2011, de 18.791 pessoas no Estado. Já sobre as medidas para evitar o êxodo de PMs, o órgão afirmou que o governo investe na valorização e reestruturação da carreira policial, que teve um reajuste total de 47,5% no salário desde 2011 (alta de 13,6% acima da inflação).

    A SSP também informou que há um ano e meio implantou um programa de bonificação para metas alcançadas e a Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar), “que possibilitam ao policial um ganho extra ao trabalhar facultativamente em seus horários de folga”.

    “O Governo do Estado de São Paulo vem investindo na valorização e na reestruturação da carreira policial”, afirma a nota. “De acordo com o Anuário da Segurança Pública de 2015, São Paulo é o Estado que mais investe em policiamento em todo o país. Foram investidos pelo Governo do Estado R$ 8,9 bilhões em 2014, bem acima do investido pela União, R$ 1,3 bilhão.”

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas