Após 18 anos, GCMs são condenados por morte de líder comunitário em SP

por Jennifer Mendonça

Reprodução de reportagem sobre o caso de Leandro em 2003 no jornal Agora São Paulo

Em abril de 2022, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou os guardas civis metropolitanos Orlando Santos e José Donizete a 6 anos de prisão em regime inicial semiaberto pela morte de Leandro em 3 de novembro de 2003.

O julgamento foi marcado depois que a Ponte cobrou o Tribunal sobre o andamento do processo. O pai de Leandro faleceu sem ver o desfecho do caso e até hoje a família não recebeu indenização da Prefeitura de São Paulo.

O pai de Leandro, José, e a mãe, Maria, mostram faixa feita por amigos, em 12/5/17. José faleceu em 2019 sem ver o julgamento do caso | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Em 2003, o líder comunitário havia ido buscar a mamadeira da filha que estava na casa de uma amigo no Grajaú, zona sul da capital paulista, quando foi baleado ao passar em frente a uma base da GCM.

Foto: Daniel Arroyo

Naquela época, a cidade passava pela primeira onda de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), com 44 ofensivas contra delegacias e bases da polícia e GCM.

Foto: Daniel Arroyo

A família nega que Leandro estava em posse de uma arma. “Ele tinha na pochete só o ofício, uma receita médica para pegar o óculos e R$ 50 que eu dei para a condução do evento que ele ia fazer”, contou Mbatha Lucio, ex-companheira de Leandro

Foto: Daniel Arroyo

Foto: Daniel Arroyo

Leandro trabalhava como vendedor de cocos em Santo Amaro e atuava como voluntário em movimentos sociais. Horas antes de ser alvejado, Leandro tinha ido à base da GCM pedir proteção para um dos eventos que organizava.

“A gente entende que naquela época estavam acontecendo ataques contra policiais e eles estavam preocupados. Mas quando a mídia disse que meu irmão era do PCC, a gente passou a ser visto de forma diferente”, relatou o irmão Oseias.

Foto: Daniel Arroyo

O GCM Oscar Goyano Neto, que presidiu a sindicância na Corregedoria, disse que estranhou a arma encontrada no local por se tratar de uma garrucha, “uma arma arcaica” que não era mais utilizada na época.

Foto: Daniel Arroyo

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Na versão dos GCMs, Leandro teria batido no portão da base, dito que precisava entregar um ofício e pulado para o lado de dentro, colocando a mão na cintura como se fosse sacar uma arma.

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Leandro foi atingido por dois disparos: um na cabeça e outro o peito. A reprodução simulada da Polícia Científica não deu detalhes da origem dos tiros e considerou tanto a versão dos guardas como a possibilidade de a vítima ter sido atingida caída no chão.

A promotora Rosana Colletta contestou a versão sobre Leandro ter pulado o portão: “o que está em jogo aqui também é a imagem do Leandro que está sendo violada quando colocam que ele estava com uma arma”.

Foto do laudo de reprodução simulada feita em 2006 pela Polícia Científica conforme relatos dos GCMs | Foto: reprodução

Apesar da alegação da defesa dos acusados de que a ação teria sido cometida por erro justificável, o júri manteve o entendimento de homicídio doloso.

Foto: Daniel Arroyo

Entenda todos os pontos do julgamento na reportagem de Jeniffer Mendonça.