Reportagem: Jeniffer Mendonça Fotos: divulgação
Alvo de um novo inquérito do Ministério Público do Paraná, a AlfaCon Concursos é uma velha conhecida da Ponte. Desde 2019 denunciamos a atuação da escola que ensina técnicas de tortura e assassinatos a futuros policiais, mas segue impune.
Em 2020, a Ponte contou que a AlfaCon é uma escola voltada às pessoas que prestam concursos da PM, tem sede no Paraná e uma unidade em São Paulo.
Evandro Bitencourt Guedes, fundador e atual presidente da Alfacon, é ex-agente penitenciário federal e ex-policial militar no Rio de Janeiro. Nas aulas, ele ensina formas de torturar presos e faz declarações transfóbicas para explicar erroneamente o feminicídio.
Foi nesta mesma escola que, em julho de 2018, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que, para fechar o STF, bastariam "um cabo e um soldado".
Outro docente do curso era Norberto Florindo Júnior, ex-capitão da Polícia Militar de São Paulo, advogado e conhecido como “professor caveira”, que aparece em uma série de vídeo-aulas exaltando a tortura: ‘vai socorrer?! Com esta mão você tampa o nariz e com esta, a boca’.
Em outra aula transmitida, Noberto comemora a letalidade policial: “falo para o pessoal: não sou o melhor professor de Direito da AlfaCon, mas sou o que tem mais homicídio nessa porra aqui. São 28 assinados, um embaixo do outro, mais uns 30 que não assinei [risos]".
Em outubro de 2019, a Ponte apurou que o ex-PM foi expulso da corporação em 2009 após um processo interno por uso de cocaína no alojamento da Diretoria de Ensino da PM, quando dava aulas de Direito.
Após as denúncias da Ponte, tanto a Corregedoria da PM quanto o Ministério Público abriram uma investigação sobre Norberto pelos assassinatos e chacinas que revelou ter cometido.
Parlamentares do PSOL também acionaram a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão para apurar “apologia à tortura, incitação ao ódio e misoginia” nas aulas.
No entanto, mesmo com as denúncias, a escola seguiu apoiada pelos grandes empresários e divulgou aulas que continham discursos racistas de Evandro. As investigações pedidas pelo MP às Polícias Civis de São Paulo e Paraná não chegaram a ser concluídas.
Em maio deste ano, uma aula da AlfaCon viralizou na mesma semana em que Genivaldo de Jesus, homem negro de 38 anos diagnosticado com esquizofrenia, foi morto por policiais que transformaram uma viatura em uma câmera de gás.
Em um trecho da aula da AlfaCon, o professor e policial rodoviário federal Ronaldo Braga Bandeira Junior recomenda usar spray de pimenta contra uma possível pessoa rendida.
O advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, diz que se trata de “uma aula criminosa”. À reportagem, Ronaldo Bandeira, que atualmente está na PRF de Santa Catarina, disse que a situação foi “fictícia” e “tirada de contexto”.