O JULGAMENTO DE HEARD E DEEP E AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Artigo de Larissa Ibúmi Moreira, especial para a Ponte

Em artigo publicado na Ponte, a escritora e historiadora Larissa Ibúmi Moreira analisa os efeitos midiáticos e os reflexos culturais do julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard.

A atriz se divorciou de Depp e se apresentou ao tribunal com hematomas no rosto provocados por ele. O caso ganhou repercussão na mídia e ambos moveram processos um contra o outro por difamação.

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“Tornei-me uma figura pública representando o abuso doméstico e senti toda a força da ira de nossa cultura pelas mulheres que se manifestam”, escreveu Heard em um artigo ao The Washington Post em 2018.

No julgamento em que ambos perderam, ela condenada a pagar US$ 15 milhões e ele a pagar US$ 2 milhões, o júri considerou três declarações do artigo de Heard e uma do ex-advogado de Depp como difamatórias.

“Decisão intrigante, pois o fato de Heard se colocar como vítima de violência doméstica em um artigo é, portanto, difamatório, mas dizer que ela mentiu sobre o abuso também”, analisa a historiadora.

“No entanto, independentemente do veredito, já havia uma derrota certa. Amber Heard já havia perdido no tribunal paralelo da internet, o tribunal da opinião pública. E — como ela previu — a ira de nossa cultura ganhou os mais perversos contornos”.

Para Larissa, o “grande cico midiático” produzido em volta da transmissão do julgamento permitiu uma dimensão cruel do riso e análises sobre as expressões e a postura principalmente da atriz.

“O comportamento de Heard foi analisado com uma lupa e julgado centímetro por centímetro, o de Depp foi naturalizado. O choro de Heard virou piada, o riso de Depp era apenas o ídolo ‘mitando’”, aponta.

“Tais vídeos e memes expuseram a profunda e naturalizada misoginia com a qual convivemos, a desconfiança de mulheres, a empatia com o abusador”, frisa a historiadora.

A historiadora avalia que o julgamento possa abrir precedentes perigosos que atingirão ainda mais mulheres menos privilegiadas que Amber Heard, na tentativa de silenciá-las.

Leia a análise em ponte.org