Artigo de Larissa Ibúmi Moreira, especial para a Ponte
Em artigo publicado na Ponte, a escritora e historiadora Larissa Ibúmi Moreira analisa os efeitos midiáticos e os reflexos culturais do julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard.
A atriz se divorciou de Depp e se apresentou ao tribunal com hematomas no rosto provocados por ele. O caso ganhou repercussão na mídia e ambos moveram processos um contra o outro por difamação.
No julgamento em que ambos perderam, ela condenada a pagar US$ 15 milhões e ele a pagar US$ 2 milhões, o júri considerou três declarações do artigo de Heard e uma do ex-advogado de Depp como difamatórias.
Para Larissa, o “grande cico midiático” produzido em volta da transmissão do julgamento permitiu uma dimensão cruel do riso e análises sobre as expressões e a postura principalmente da atriz.
“O comportamento de Heard foi analisado com uma lupa e julgado centímetro por centímetro, o de Depp foi naturalizado. O choro de Heard virou piada, o riso de Depp era apenas o ídolo ‘mitando’”, aponta.
“Tais vídeos e memes expuseram a profunda e naturalizada misoginia com a qual convivemos, a desconfiança de mulheres, a empatia com o abusador”, frisa a historiadora.
A historiadora avalia que o julgamento possa abrir precedentes perigosos que atingirão ainda mais mulheres menos privilegiadas que Amber Heard, na tentativa de silenciá-las.