Luiz Eduardo Soares: ‘Os governadores não comandam as suas polícias’

Texto de Gil Luiz Mendes Imagens: Reprodução

A Câmara dos Deputados ressuscitou um projeto de lei que visa tirar o controle das polícias das mãos dos governadores. Mas, o que mudaria na prática? O antropólogo Luiz Eduardo Soares avalia que o PL só formalizaria algo que já existe desde a ditadura.

Desejo antigo do presidente Jair Bolsonaro, a mudança do comando das PMs é uma das propostas do PL 164/2019 que tramita na Comissão de Segurança Pública da Câmara. O texto também prevê que a própria corporação administre seu orçamento

Segundo o PL, a escolha dos comandantes das PMs aconteceria por meio de uma eleição interna para definir uma lista tríplice que seria entregue ao governador. Apesar da pressão da bancada da bala, o projeto só deve ser discutido após as eleições de outubro.

Para Luiz Eduardo Soares, especialista em segurança pública e autor de obras como "Elite da Tropa" e "Desmilitarizar", atualmente nenhum governador do país comanda as suas polícias, pois estas já são subordinadas ao comando do Exército.

"No caso da segurança pública, o modelo policial organizado pela ditadura foi preservado na Constituição de 88. Isso foi uma imposição dos militares e acabou sendo aceita por uma série de equívocos", aponta.

"Nós tivemos ao longo de todo esse tempo polícias que não se compreendiam como instrumentos da Constituição para a realização da democracia e da cidadania, mas como instrumentos a serviço de um projeto que nada tinha a ver com a democracia", destaca o antropólogo.

Segundo Soares, a transição democrática das polícias não aconteceu por diversos fatores, mas principalmente pela manutenção das mesmas estruturas organizacionais anteriores e a omissão do Ministério Público quanto ao controle das atividades policiais, com aval do Judiciário.

Segundo Soares, a transição democrática das polícias não aconteceu por diversos fatores, mas principalmente pela manutenção das mesmas estruturas organizacionais anteriores e a omissão do Ministério Público quanto ao controle das atividades policiais, com aval do Judiciário.

Soares também acredita que o projeto impediria "o exercício da vontade popular" ao retirar a presença política das polícias. "O governador é titular da vontade soberana popular para imprimir orientações, sempre respeitando os parâmetros constitucionais", afirma.

Luiz Eduardo Soares defende medidas contrárias ao que o projeto de lei propõe: "o caminho tem de ser recomeçar, refundar as polícias como se nós estivéssemos agora em 1988".