A cada 3 horas, uma pessoa é morta pela polícia no Brasil

    Em 2015, 3.345 pessoas foram mortas por agentes das forças de segurança no país

    Ato de secundaristas na Escola Estadual Caetano de Campos - Foto: Daniel Arroyo
    A cada 3h, uma pessoa é morta por membro das forças de segurança no Brasil – Foto: Daniel Arroyo

    As polícias do Brasil mataram uma pessoa a cada três horas em 2015 _ são nove mortes por dia.

    Foram 3.345 mortos em decorrência de atuações de agentes dos 26 Estados e do Distrito Federal ao longo de 12 meses. Comparando com o mesmo período de 2014, houve o aumento de 6,3% no total de mortes causada por policiais, com quase 3.150 óbitos no ano anterior.

    São Paulo é o Estado com maior número de ocorrências: 848 mortes causadas por policiais. Ao se somar com o Rio de Janeiro, com letalidade de 645 pessoas, as duas unidades da federação representam juntas 45% de todas as mortes decorrentes de intervenções policiais no país ao longo do ano passado.

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    Os números da polícia brasileira contrasta com a de outros países. Somadas, as corporações de Inglaterra e País de Gales mataram 55 pessoas entre 1990 e 2014, de acordo com levantamento do jornal britânico “The Guardian”.

    “É a continuação e o agravamento do nosso sistema de segurança pública. Não tem outra definição”, sustenta o tenente-coronel daReserva da Polícia Militar de São Paulo Adilson Paes de Souza.  “Não resta dúvida de que a política de segurança pública do nosso pais é a politica de eliminação física da pessoa que comete crime. A opção é pela eliminação do transgressor. Os números deixam claro, não tem como alegar outra situação. Eles só aumentam. Ou seja, mostra que, cada vez mais, a politica de segurança pública é a de enfrentamento. E não há ações de nenhuma autoridade, não há nenhuma medida, esforço para mudar isso”.

    Policiais mortos 

    O Brasil também tem número elevado nas mortes de policiais. Foram 393 agentes mortos em 2015, média superior a um por dia. Houve a diminuição em relação a 2014, com 16 vítimas a menos.

    O maior risco é quando o policial está fora do serviço, no chamado “bico” (trabalho extra corporação) ou  na folga, representando risco três vezes maior de perder a vida do que exercendo sua função: 290 fora do experiente, 103 em ação. Porém, aumentou em 30,4% os crimes fatais contra policiais em serviço, contra a queda de 12,1% nas mortes fora dele.

    O Rio de Janeiro lidera a violência contra os policiais, com 98 mortos, seguido de São Paulo, com 60. Apesar de estar na segunda posição, SãoPaulo registrou queda de 24 mortes de policiais quando comparado com o total do ano anterior.

    “As autoridades não estão preocupadas em estudar o porque da alta letalidade no país ou o motivo de muitos policiais estarem morrendo. Aconteceu o corte de verba para cursos, estudos. Só se pensa em alimentar a lógica bélica. Infelizmente, a situação só tende a piorar. Tenho falado isso há tempos”, lamenta  Souza.

    Um assassinato a cada nove minutos

    Os números gerais de assassinatos no Brasil são assustadores. Em 2015, 58.383 pessoas foram mortas intencionalmente no país, o que representa 160 vítimas por dia, uma a cada nove minutos.  Os dados apresentam retração de 1,2% quando comparado com o total de 2014 (59.086), considerando os crimes de homicídios dolosos (intencionais), latrocínios (roubo seguido de morte), lesões corporais seguidas de morte, mortes causadas por confronto com as polícias e policiais mortos.

    “Era algo para parar tudo, todo o país. Ter manifestação de cinco milhões de pessoas na avenida Paulista se fossemos um lugar que respeitasse a vida humana”, critica Rafael Alcadipani, professor de Estudos Organizacionais da FGV-EAESP e Visiting Scholar no Boston College, dos EUA.  “São números estagnados em 10 anos de Anuário. Vamos reformar o sistema criminal ou não? Tem de ser feito!”, afirma.

    Para ele, a principal mudança a ser feita é a descriminalização das drogas. Alcadipani sustenta que a regulamentação do consumo tiraria muita gente do sistema prisional, pois, no Brasil, a maior parte dos presos no sistema penitenciário está lá por consequência da chamada “guerra às drogas”.

    “Prendemos muito por droga, dano a patrimônio e pouco por homicídio. Matamos mais do que a Síria, que está em guerra, e só 15% dos presos no Brasil são encarcerados por homicídio. A maior parte da massa carcerária é formada pelo pequeno traficante e pelo aviãozinho. O que tem ganhado corpo é opção radical, do confronto. O pior de tudo é que, caso o confronto resolvesse, se quiséssemos esquecer os direitos humanos e analisar os resultados, ainda assim, na prática, nunca houve tanto crime  no país. Não resolveu. Mesmo tirando os direitos humanos na análise, algo muito errado, ficou claro que matar não resolve. Nunca teve tanto roubo, crime, latrocínio, estupro…”, argumenta.

    Os dados sobre a violência no Brasil fazem parte da 10ª edição do Anuário de Segurança Pública, produzido pela ONG (organização não-governamental) FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

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