‘A gente tem que se fazer visível’, diz criadora de websérie que aborda o universo lésbico e bissexual

    Produção universitária ‘Labrys’ retrata temas como lesbofobia, machismo, saúde sexual e relacionamentos abusivos

    Personagens Isabela e Jéssica em cena da websérie Foto: Divulgação

    Incomodadas pela ausência de representatividade lésbica e bissexual em produções audiovisuais, Leticia Cozoli, 22 anos, e Julice Maria de Carvalho Campos, 27, resolveram produzir uma websérie que abordasse histórias de relações entre mulheres que fugissem dos estereótipos das narrativas LGBT+.

    “Eu nunca me senti representada no audiovisual. As histórias sempre têm aqueles clichês de que a lésbica morre, trai a mulher com um homem ou é hiperssexualizada. É muito bom ver personagens LGBT+ em filmes e séries, mas a gente não vê histórias com finais felizes como em narrativas heterossexuais”, explica Letícia, diretora e roteirista da websérie Labrys.

    O nome da produção é uma referência ao machado de lâmina dupla, símbolo do movimento lésbico. A obra surgiu como um trabalho de conclusão de curso de jornalismo na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.

    Disponível no Youtube há um mês, o primeiro dos cinco episódios já alcançou mais de 20 mil visualizações. Cada capítulo tem de 8 a 10 minutos e narra a história pelo ponto de vista de uma personagem. No enredo, questões como lesbofobia, saúde sexual, machismo e preconceito contra bissexuais são abordadas entre os diálogos.

    Letícia conta que a inspiração para o roteiro veio de vivências pessoais. “Quando eu era mais nova, costumava ter preconceitos contra bissexuais. Eu pensava que se saísse ou namorasse com uma menina bissexual, teria mais chances de ser traída. Eu só fui amadurecer essa ideia com o tempo, sabe?”, explica.

    Gravação do episódio “Gabriela” | Foto: Divulgação

    A pluralidade de corpos também foi uma preocupação para a equipe. “Queríamos fazer uma série que abordasse a diversidade e a diferença. O objetivo era tratar a vida da comunidade LGBT+ sem perpassar pelos padrões mainstream, mostrando também pessoas fora do padrão”, afirma Julice.

    Uma análise realizada pelo site Autostraddle mostrou que, em 2017, 70% das personagens LBT (lésbicas, bissexuais e transsexuais) eram representadas por atrizes brancas em produções audiovisuais em língua inglesa.

    Apesar de trazer uma mensagem positiva, a produção também discutiu temas densos, como relacionamentos abusivos. “Muitas pessoas pensam que relacionamentos entre mulheres são mais fáceis e não é necessariamente assim. Existem relacionamentos lésbicos problemáticos também”, defende Letícia.

    “Ficamos tão ocupadas lutando por reconhecimentos básicos, como casar ou andar de mãos dadas, que deixamos de discutir as nossas pautas. Eu acredito que um assunto só deixa de ser tabu quando falamos sobre ele. A gente tem que ser fazer visível, precisamos mostrar que os nossos problemas existem”, completa.

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