Adolescente de 13 anos morre em operação policial na Maré, segundo moradores

    Além de uma morte, outras duas pessoas ficaram feridas; ONG que atua na comunidade mostra em levantamento que, no ano passado, a região teve uma morte a cada 9 dias

    Foto: Facebook Maré Vive

    O Complexo da Maré, formado por 16 favelas onde vivem 147 mil pessoas, amanheceu sob o som de tiros. Um adolescente de 13 anos teria sido atingido enquanto jogava futebol na Praça Nova Holanda, perto da sede da Associação de Moradores da comunidade de mesmo nome. Jeremias Morais foi levado para o Hospital Souza Aguiar, mas não resistiu aos ferimentos. Além dele, duas outras pessoas foram baleadas. Uma delas foi socorrida no Hospital Geral de Bonsucesso, mas não há informações do estado de saúde. Sobre a terceira vítima, não há mais informações.

    Segundo informações da Redes da Maré, ONG que atua na comunidade, duas operações do Comando de Operações Especiais da Policia Militar (Batalhão de Choque, BOPE e Batalhão de ações com Cães) estavam na região, desde as 6h da manhã, circulando a pé e em veículos blindados na Vila do Pinheiro, Vila do João, Salsa & Merengue, Conjunto Pinheiro e Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau. Por volta das 12h, a operação se estendeu para as comunidades do Parque Maré, Nova Holanda e Rubens Vaz. “Pelo menos 5 postos de saúde e das 44 escolas, 40 fecharam as portas devido aos confrontos armados na região”, informou a Redes da Maré pela página no Facebook. Às 19h24, a página Maré Vive no Facebook informou que a operação tinha acabado.

    Segundo um morador, que pediu para não ser identificado, no momento em que o adolescente foi atingido, muitas crianças estariam saindo da escola. “Era um horário de grande movimento ali na área”. Houve protesto na Baixa do Sapateiro e na Vila do João e alinha vermelha chegou a ser bloqueada. Ainda, segundo a fonte, os policiais teriam entrado na favela em busca do Cria, do Terceiro Comando Puro (TCP). “O cara tá tocando o terror na favela e não estava concordando com a gestão do TH [um dos traficantes que controla o tráfico na Maré]. Agora, é estranho mesmo a polícia dizer que não tinha operação. Só dá polícia em toda a favela”, afirmou.

    Ainda de acordo com a Redes da Maré, o adolescente foi atingido quando o Caveirão se aproximou do campinho e teria efetuado alguns disparos. O garoto foi aluno de um dos cursos da ONG.

    Na versão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, não havia uma operação em curso no local. Em nota no início da tarde, a corporação informa que “policiais militares do 22ºBPM foram acionados através do serviço de 190 devido a diversas denúncias que davam conta que policiais estariam sequestrados por traficantes na comunidade Nova Holanda, Complexo da Maré. Imediatamente, os policiais foram checar a denúncia e no local houve confronto. Os policiais supostamente sequestrados não foram encontrados. Logo após, o Corpo de Bombeiros socorreu um adolescente ferido”. Ainda na nota, a polícia informa que “os policiais do BOPE, BPChq e BAC atuavam somente nas comunidades do Timbau e Conjunto Esperança”.

    O caso está sendo investigado na Delegacia de Homicídios da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e o corpo do adolescente ainda estava no Instituto Médico Legal (IML) por volta das 20h30. A família, com auxílio de entidades que atuam na favela, estavam aguardando a liberação para seguir com velório e enterro.

    Outro lado

    A Ponte enviou um e-mail à PMERJ questionando sobre a primeira nota e também perguntando qual o posicionamento da corporação frente a denúncia de moradores de que o Caveirão teria disparado a esmo, mas, até o fechamento da reportagem, não havia resposta.

    Denúncia de violações na comunidade

    Nesta terça-feira (06/02), a ONG Redes da Maré divulgou um boletim em que mapeou os casos de violações aos direitos humanos ocorridas pelas forças policiais no ano passado. O entendimento da entidade é que, muito além dos casos em si, é o como essas situações afetam a vida de quem vive na comunidade. De acordo com o levantamento, em 2017, a cada 9 dias uma pessoa morreu na Maré em um confronto armado. As escolas ficaram fechadas por 35 dias, o que equivale a 17% do ano letivo. Para se ter uma noção do impacto para a população, mais de 8 mil jovens ficaram sem aula em dias de confronto. Os postos de saúde encerraram as atividades por 45 dias ao longo do ano passado. Ainda de acordo com o boletim, foram 57 feridos ao longo do ano, sendo 41 em operações policiais e 16 em confrontos entre grupos armados.

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