‘Preto tem que se amar duas vezes mais’, diz Drik Barbosa em show

    Em turnê pelo primeiro EP, produzido pela Laboratório Fantasma, selo de Emicida, rapper foi única mulher em festival no vão do Masp, em SP

    Drik Barbosa, à direita, com banda durante show em SP | Foto: Paloma Vasconcelos/Ponte

    “Isso daqui mostra que é tudo nosso, a gente pode ocupar o espaço que a gente quiser”. Foi dessa forma que Drik Barbosa começou os diálogos com o público durante o seu show. Quatro meses depois do lançamento do primeiro EP, a turnê de divulgação de Espelho começa a ganhar as ruas.

    Única mulher do Das Days Block Party, evento que faz parte do braço de skate da Adidas, Drik Barbosa manteve o público animado do começo ao fim do show que durou cerca de uma hora, acompanhada pela sua irmã Kelly Souza, pelo músico Rodrigo Santos Digão, que começou a acompanhar Drik no novo formato de show, e pelo Dj Faul.

    “O nome da Drik veio direto da Adidas, esse projeto tem visão de trazer os novos artistas, as pessoas que estão em ascensão e ela tem sido um dos nomes revelações do rap, principalmente por meio do Rimas & Melodias [coletivo de rap e R&B, só de mulheres]. É legal ver cada uma das meninas com o seu projeto autoral e solo, então o nome dela veio exatamente por isso e pelo link com o lançamento do disco dela”, contou à Ponte a produtora Rebeca Duarte, 35 anos, responsável pelo evento.

    O show teve início às 17h30, com trechos o poema “Não desiste”, da poeta Mel Duarte, integrante do Slam das Minas (batalha de poesia só de mulheres): “Não desiste negra, não desiste/ Ainda que tente lhe calar/ Por mais que queiram esconder/ Corre em tuas veias força ioruba axé pra que possa prosseguir”. Em seguida, Drik começou uma das músicas com os versos mais pesados do seu disco: Camélia, que cita grandes nomes de personalidades do movimento negro, dentro e fora do Brasil, e traz referência ao período abolicionista.

    Além das músicas do novo trabalho, Drik trouxe canções como Mandume e Avuá, ambas ao lado do rapper Emicida, e os trechos das cyphers (quando vários rappers se juntam em uma canção) Poetas no topo 3.1 e “Poetisas no topo”, essa última só com mulheres. Em Mandume, a rima favorita do público, a rapper fez uma pequena modificação no som: “nunca deu nada pra nóiz, nunca lembrou de nóiz” para “o Temer nunca deu nada pra nóiz, nunca lembrou de nóiz”. Durante as músicas, Drik deu outros recados. “Amor próprio não é mimimi, não, a gente que é preto tem que se amar duas vezes mais”, enfatizou a rapper.

    Drik Barbosa, direita, ao lado da irmã e backing vocal Kelly Souza | Foto: Paloma Vasconcelos/Ponte

    Em conversa com a Ponte depois do show, Drik destacou a alegria de poder divulgar o seu trabalho em eventos de rua, shows abertos para o público geral. “Eu fico feliz pra caralho de tocar em um espaço foda como esse, a gente ainda tem que estar mais inserido para passar a nossa mensagem mesmo, saca? Principalmente porque é um show aberto e com uma estrutura legal. Do lançamento do EP pra cá está sendo incrível. Agora é trampar pra caramba, fazer cada vez mais som”, contou a rapper.

    Para o público, composto por maioria de mulheres, Drik Barbosa é uma referência. “Eu acho daora, ela enquanto uma mulher negra conquistar esse espaço que é tomado por tantos homens. Ela representa a gente”, diz a estudante Dandara Dracena, 20 anos.

    A percepção de Ketlen da Silva, 23 anos, profissional de marketing, também segue a linha da importância de ter uma mulher dominando a cena do rap. “Eu acho incrível, porque a mulher negra tem que dominar mesmo esse espaço, que ainda é conquistado mais pelos homens”, diz a jovem.

    Evandro Fióti, que é sócio da marca LAB ao lado do irmão Emicida, contou à Ponte como surgiu a ideia de ter a rapper entre os artistas da gravadora. “A gente vem acompanhando o trabalho da Drik desde 2010, quando a conhecemos na Batalha do Santa Cruz. Já tem um tempo que a gente vinha trabalhando junto, desde 2012, mas não tínhamos recurso pra fechar com ela. Nos últimos dois anos, a gente conseguiu, não só fazer mais coisas com ela, como realmente oficializar a parceria”, explica o cantor.

    Para Fióti, trabalhar com Drik é um aprendizado diário. “Está sendo um momento muito importante, além da gente estar apoiando uma mina tão inteligente, com um espírito tão bom, além de muito talentosa, está sendo um processo de aprendizado, pois trabalhar com artista mulher é completamente diferente do que trabalhar com artista homem e nesse sentido a gente tem ensinado muito pra ela e ela pra gente. A Drik ainda vai ocupar um lugar muito importante dentro da indústria da música brasileira como um todo, ela tem potencial para isso. É um privilégio ter a bênção dela pra construir esse caminho”, conta.

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