Anderson, o ‘pai amoroso e marido maravilhoso’ morto com a vereadora Marielle

    Como sua mulher sofria com os atrasos salariais do governo fluminense, Anderson fazia bico como Uber para complementar a renda. Numa dessas viagens, foi assassinado

    Agatha e Anderson | Foto: Facebook

    Os projéteis de 9 mm que perfuraram o carro onde estava a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) deixaram um rastro de viúvas e crianças órfãs. Além da parlamentar, os disparos também mataram o motorista Anderson Pedro Gomes, 39 anos, que dirigia o automóvel pelo aplicativo Uber para colaborar na renda familiar.

    “Anderson era uma pessoa muito boa, ele ajudava todo mundo no que ele pudesse. Um pai muito amoroso, um marido maravilhoso. E, como muitos nesse estado atual, fazendo bico pra tentar sustentar a família”, contou Ágatha Arnaus Reis, mulher de Anderson, em entrevista à TV Globo.

    Embora a maioria dos disparos tenham sido direcionados a Marielle, pelo menos três tiros atingiram o motorista. Segundo Ágatha, Anderson não relatou ter sofrido ameaças ao trabalhar com Marielle. “Nosso medo aqui é o Rio de Janeiro em si, não de ele trabalhar com a Marielle. A gente vê tantas vezes essa cena se repetindo que não sabe se é (crime) corriqueiro, porque infelizmente isso se tornou corriqueiro, ou se tem algo a mais. Já virou banal, é todo dia”, disse à Rádio Gaúcha.

    O casal tinha um filho de um ano que nasceu com má-formação. Funcionária pública, Ágatha convive com atrasos salariais por conta da crise financeira vivida pelo estado do Rio de Janeiro. Desde novembro de 2016, o funcionalismo local tem vencimentos pagos posteriormente ao dia correto, parcelado ou, então, atrasado e acumulado pra meses seguintes.

    “A gente tá vivendo um momento horrível. E Deus levou meu marido, não sei com que propósito. Ainda é difícil aceitar”, lamentou a viúva. “É difícil pensar como vou ficar agora sem ele. Como vou explicar isso para o meu filho? A revolta existe, mas a dor é maior”, diz.

    O velório de Anderson Pedro Gomes e Marielle Franco aconteceu na tarde desta quinta-feira (15/3) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Uma multidão prestou homenagens na porta do local com coros destacando a luta empenhada pela parlamentar. Por volta de 16h, os corpos saíram do local. Marielle será enterrada no cemitério do Caju e Anderson no cemitério de Inhaúma, ambos na zona norte do Rio.

    Uma assessora de Marielle também estava no carro junto das duas vítimas. Ela fez ligações pedindo socorro após o ataque, feito por um carro que parou ao lado do veículo que a levava, junto da vereadora e de Anderson. A assessora foi ouvida pela Polícia Civil nesta quinta-feira (15/3), junto de uma segunda testemunha.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    1 Comentário
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    trackback

    […] de março de 2018. 21h30. Um veículo emparelha o carro dirigido pelo motorista Anderson Gomes na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, centro da cidade do Rio de Janeiro. 13 disparos são […]

    mais lidas