Após absolvição de PM, policiais intimidam familiares de Guilherme Guedes

Policiais Militares estiveram durante o final de semana na casa da avó do adolescente assassinado em 2020 e fizeram fotos do local

A família de Guilherme Guedes está sendo intimidada por policiais militares do estado de São Paulo. No último final de semana agentes de segurança estiveram, pelo menos, duas vezes na casa da avó do garoto assassinado em junho de 2020, quando tinha 15 anos. As abordagens ocorreram dois dias após o julgamento do sargento Adriano Fernandes de Campos. O júri absolveu o militar da acusação pela morte do jovem. 

Vídeos obtidos pela Ponte mostram que PMs estiveram na noite do último sábado (16/10) na casa da avó de Guilherme fazendo perguntas e no domingo (17/10) pela manhã tirando fotos do local.

Às 23h11 do sábado (16), três policiais desceram armados da viatura M-12097 (da Força Tática do 12º Batalhão de Polícia Metropolitano) e bateram à porta da residência, enquanto um quarto policial estacionava o carro. A avó do rapaz atende e conversa com os policiais por cerca de dois minutos e retorna para o interior da casa. Os PMs permanecem na rua por pelo menos mais dois minutos.

No domingo (17), às 9h40, a viatura M-22002 (da Força Tática do 22º Batalhão de Polícia Metropolitano) vai até o mesmo local e dessa vez dois policiais descem, também armados, e averiguam a rua e tiram fotos do imóvel da família de Guilherme. No final da tarde do mesmo dia, quatro viaturas do 7º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) passam pela mesma rua, enquanto duas mulheres conversam na calçada. O sargento Adriano Fernandes de Campos faz parte do 6º Baep.

“Essas viaturas do Baep nós nunca vimos passar por aqui, depois que o policial foi absolvido eles começaram a passar”, revela um parente de Guilherme que não quis se identificar por questões de segurança. A família do jovem está tendo apoio jurídico da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio.

Guilherme Gudes foi sequestrado na porta de sua casa, na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, no dia 14 de junho de 2020, e encontrado morto horas depois em um terreno no bairro Eldorado, na divisa entre a capital e Diadema. A morte do menino revoltou moradores da região, que realizaram protestos. Adriano foi preso três dias depois e, com a absolvição, foi colocado em liberdade.

O julgamento de Adriano Fernandes Campos foi realizado no dia 14 de outubro, no Fórum da Barra Funda. Dos sete jurados, quatro entenderam que o sargento não foi o autor dos disparos que matou o adolescente, nem que os tiros causaram a morte.

O ex-soldado Gilberto Eric Rodrigues também teria participado do crime. Ele foi preso no dia 13 de maio, após ser encontrado escondido em uma chácara na área rural de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. Os dois foram acusados pelo Ministério Público por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima) pela morte de Guilherme com tiros na cabeça.

De acordo com o Ministério Público, Campos e Rodrigues atuavam juntos como seguranças na região onde aconteceu o crime. A dupla teria confundido o adolescente com uma pessoa que possivelmente havia roubado um canteiro de obras da Globalsan, empresa terceirizada da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), em que Campos era responsável pela vigilância. 

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No caso do ex-PM, está agendada uma audiência em 17 de novembro em relação ao caso de Guilherme, já que o processo foi desmembrado.

A reportagem questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre as abordagens feitas pelos policiais militares no último final de semana. Até a publicação desta matéria não tivemos retorno da pasta.

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