Após morte de jovem em baile funk, 15 PMs são investigados

    Caso chegou à Polícia Civil como morte em confronto, mas policiais não deram nenhuma versão de como Kelri Antônio Claro, 23 anos, foi morto

    Kelri Antônio Claro era chamado de Alemão pelos amigos | Foto: Arquivo Pessoal

    Um grupo de 15 PMs do 39º Batalhão da capital paulista é investigado pela morte de um jovem durante um baile funk de Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo, no último domingo (9/2). Kelri Antônio Claro, de 23 anos, morreu vítima de um tiro que, segundo sua família, foi disparado pela tropa.

    Conforme registro da Polícia Civil, um baile funk acontecia na Avenida Caititu, local da morte. Os PMs apontam que estiveram na região na noite anterior em ação de “perturbação do sossego” e que não agiram no baile.

    Os policiais contam que fiscalizaram veículos com som alto e não o baile. Ao comunicar o caso como “morte decorrente de intervenção policial”, os 15 PMs não explicaram como o confronto ocorreu, nem como Kelri morreu.

    Todos os PMs, segundo o capitão Ramos, supervisor regional de policiamento da área, negaram “qualquer ação presencial no baile funk” e também disseram não ter disparado o tiro que matou Kelri.

    A informação de que uma pessoa havia sido baleada chegou ao sistema da PM apenas às 5h do mesmo dia, quando Kelri já estava sendo atendido na Unidade de Pronto Atendimento de Itaquera. Ele morreu no local.

    Vídeos registrados por testemunhas da ação mostram a chegada de motos da PM e a dispersão do encontro por volta de 2h. Os familiares de Kelri sustentam que as imagens são da madrugada do dia 9 de fevereiro.

    Em gravações obtidas pela Ponte, uma multidão está no baile e começa a correr ao ouvir o barulho da sirene da PM. As pessoas se dividem em três grupos e correm pelas ruas do bairro. Pelo menos cinco motos da Rocam (Rondas Ostensivas com apoio de motocicletas) aparecem para dispersar o baile. Um dos policiais joga uma bomba, que explode em meio às pessoas.

    Em outra imagem, um homem filma a ação dos policiais, que estariam encurralando as pessoas. “Os caras já chegam tacando bomba, tacando o pessoal tudo lá dentro do rio”. Neste vídeo, é possível ver três motos e uma viatura da PM.

    A versão da família do jovem morto aponta para ação da polícia no baile em Itaquera naquela madrugada. A mãe e um irmão declararam à Polícia Civil terem presenciado a ação à 1h40 do dia 9 de fevereiro.

    Os dois descreveram que a tropa chegou de forma agressiva, com uso de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar as pessoas. Detalham ter visto um PM disparar duas vezes na direção de uma viela, onde os jovens corriam.

    Logo em seguida foram avisados de que Kelri estava caído, pois “teria sido baleado por policiais”. Ele foi resgatado na Unidade de Pronto Atendimento de Itaquera pelos moradores da região, mas não resistiu.

    Alemão, como Kelri era chamado, foi atingido por um tiro no ombro direito, que transfixou e saiu pela axila. O disparo o acertou quando passava por uma ponte em uma viela entre a avenida Caititu e a rua Terra Brasileira.

    Ponte Jornalismo conversou com um familiar do jovem, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, Kelri é vítima da truculência da PM, que não tentou ajudá-lo depois de ferido. “Se foi a bala do PM, a perícia vai dizer. O vídeo mostra o momento em que o PM atirou”, disse. “Infelizmente, nada trará ele de volta”, lamentou.

    O delegado Vander Cristian Rodrigues, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa, responsável inicialmente pela apuração do caso, mudou a tipificação apresentada pelos PMs de morte decorrente de intervenção policial para homicídio doloso.

    Segundo Rodrigues, ainda que o comando local da PM negue ação no baile funk, acredita-se que tenha ocorrido uma ação para apreender veículos. “Há notórias contradições na versão apresentada pelo capitão da PM quando comparada com os relatos do irmão e da genitora da vítima”, explicou.

    O delegado ainda chama atenção para um “lapso significativo” entre o horário da ocorrência e a comunicação à PM. “O que causa certa estranheza em relação à conduta policial”, disse. Assim, definiu que a equipe de investigações responsável pela área do crime apure a ação dos PMs.

    Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre a morte de Kelri e as ações da PM no local. A InPress, assessoria de imprensa terceirizada da pasta, explicou que “todas as circunstâncias” da morte do jovem “são apuradas por inquéritos” das Polícias Civil e Militar.

    “Policiais que realizavam uma operação para apreender veículos irregulares nas proximidades quando foram acionados via Copom para atendimento a uma ocorrência de um homem ferido por arma de fogo. A vítima foi socorrida por parentes e levada até a UPA 26 de Agosto, mas não resistiu aos ferimentos”, detalhou a assessoria da pasta.

    A reportagem também solicitou um posicionamento da PM, questionando se houve ou não ação dos policiais no baile funk da Caititu, mas a corporação não retornou.

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