Após protestos, PM que matou motociclista no MT é preso

    Jonathan da Silva Rosário, de 23 anos, morreu ao levar um tiro na coxa em Chapada dos Guimarães (MT): ‘se os PMs tivessem feito a coisa certa meu irmão teria parado’

    Jonathan trabalhava com distribuição de água | Foto: Arquivo/Ponte

    Ver justiça sendo feita é o que espera Helen Silva do Rosário, desempregada de 19 anos, seis dias depois de seu irmão ser morto pela PM de Mato Grosso. Jonathan da Silva Rosário, 23 anos, levou um tiro fatal no dia 1º de outubro.

    Policiais tentaram culpá-lo pelo disparo, dizendo que o rapaz tentou fugir de uma blitz. Era madrugada quando tudo aconteceu, em torno de 1h20 da manhã.

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    Segundo os PMs relataram em boletim de ocorrência, conforme publicado pelo G1, Jonathan fazia algazarra ao dirigir uma moto e, ao passar pela batida, jogou a moto na direção dos policiais. Um deles atirou em resposta.

    Imagens de câmera de segurança registraram a cena, com situação diferente da contada pelos policiais. No vídeo, um PM chuta a moto de Jonathan e, depois, outro já atira em sua direção.

    Uma amiga de Jonathan descreve à Ponte que um dos policiais saiu de trás de uma árvore ao abordá-lo, o que teria feito o jovem se assustar. Ela pediu para não ser identificada por medo se sofrer perseguições.

    “[O PM] Saiu de trás da viatura, deu um chute no pneu traseiro e um deles atirou”, relembra. “Isso de blitz nunca aconteceu. A viatura estava na calçada, debaixo de uma árvore com a sirene desligada”, continua.

    Irmã do rapaz, Helen conta que ele conseguiu andar por mais 10 metros antes de tirar o capacete e cair no chão. Explica que ele voltava da casa da namorada quando tudo aconteceu.

    “Dá para ver [no vídeo] que não teve nenhuma blitz, nada parecido. Quando meu irmão foi passar os policiais cercaram ele. Estava escuro e ele assustou”, conta Helen.

    Leia também: PMs são filmados agredindo jovem e policial aposentado em bairro pobre

    Uma tia a avisou sobre a situação. Ela estava em Cuiabá, capital do estado, distante 64 quilômetros da Chapada, e foi com sua mãe ao local.

    Quando chegou, diz ter ouvido dos policiais que eles tentaram o socorrer, mas Jonathan não resistiu. A jovem questiona os socorros prestados ao irmão.

    “Meu irmão levou um tiro na coxa bem acima do joelho, tiro que atingiu a artéria dele, e perdeu muito sangue. Se eles tivessem [socorrido], mesmo, não teria acontecido a morte”, rebate.

    Um dia depois da morte, parentes e amigos fizeram um protesto para demonstrar revolta com o crime. Eles cobraram resposta do governo de Mauro Mendes (Democratas) sobre a ação da PM. Além de discursos, houve uma carretada com motos.

    Segundo Helen, Jonathan trabalhava em uma empresa de distribuição de água fazendo carga e descarga de caminhões. Conta que a moto usada no dia da morte era dele.

    Ao ser questionada se o irmão furaria uma blitz, ela nega. “Não, nunca fez isso. Se os PMs tivessem feito a coisa certa meu irmão teria parado sim, por mais que não tivesse carteira de habilitação ainda”, afirma.

    Helen alerta para a existência das imagens e questiona se, sem elas, os policiais seriam afastados. “Imagina se não tivesse o vídeo?”, questiona. “Foi muito diferente do que eles falaram”.

    O PM que efetuou o disparo fatal foi preso no sábado (3). O outro policial envolvido na ação está fora do serviço nas ruas por determinação da PM do Mato Grosso, mas mantém o recebimento do salário.

    A família não recebeu apoio de órgãos do governo ou de entidades locais, como conta a irmã. “Queremos justiça, que os PMs paguem. Que algo igual a morte do que irmão não aconteça com outros jovens”, diz.

    A Ponte questionou a Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Publica) do Mato Grosso, administrada pelo secretário Alexandre Bustamante dos Santos, sobre a morte de Jonathan.

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    Em e-mail, a secretaria não respondeu as perguntas enviadas e solicitou que a reportagem buscasse informações diretamente com a assessoria de imprensa da PM, que não respondeu o contato.

    Já o Ministério Público do Mato Grosso, responsável pelo controle externo da atividade policial, não respondeu os questionamentos.

    A OAB (Ordem dos Advogados) do Brasil no estado disse que encaminhou a demanda à Comissão de Direitos Humanos, mas sem se posicionar sobre a morte de Jonathan.

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