Artigo | Megan Rapinoe: orgulho dentro e fora de campo

    Atacante da Seleção Feminina de Futebol dos EUA, protagonista do tetracampeonato e ativista em diversas causas: quem é a mulher que se recusou a ir à Casa Branca receber homenagem de Donald Trump

    Em sua terceira Copa do Mundo, Megan Rapinoe marcou gols dentro e fora do campo | Foto: Getty Images

    O futebol feminino não será mais o mesmo depois da oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, realizada na França no último mês. Pela primeira vez na história, a audiência do campeonato foi recorde: onze milhões de telespectadores pararam para ver os jogos. Aqui no Brasil, mais de 30 milhões pessoas acompanharam a Seleção Brasileira trazer duas gerações para tentar, pela primeira vez, conquistar o título da Copa do Mundo.

    Apesar de serem eliminadas nas quartas de final, as brasileiras foram recebidas com uma legião de mulheres no Aeroporto de Guarulhos. Vimos Formiga disputar seu sétimo mundial. Acompanhamos a estreia de Ludmila Silva, uma das promessas da nova geração, estrear na Copa do Mundo. Comemoramos o 17º gol de Marta, que se tornou a maior artilheira dos mundiais de futebol, entre homens e mulheres. Também vimos Marta pedir igualdade entre os salários, ao apontar para a sua chuteira, sem patrocínio, e discursar sobre a importância de apoiar o futebol feminino, já que ela, Formiga e Cristiane não estarão ali para sempre.

    Só teve uma coisa que não mudou nessa Copa. Pela quarta vez em oito edições, os EUA foi o time campeão. A seleção americana, liderada pela capitã e atacante Megan Rapinoe, bateu o time da Holanda por 2 x 0 neste domingo (7/7). Um dos destaques em campo foi justamente Rapinoe, que marcou o primeiro gol da vitória.

    Mas é impossível falar de Megan Rapinoe, 34 anos, sem falar da mulher por trás da jogadora. Desde 2006, a atacante representa a seleção americana e já somou mais de 150 jogos. Dias antes da final, ao ser questionada se iria à Casa Branca, receber a homenagem já tradicional – como acontece em diversas outras categorias esportivas, como na NBA -, Megan foi enfática: “não irei à merda da Casa Branca”, por não concordar com os valores do atual presidente, Donald Trump. Megan é uma crítica ferrenha do governo de Trump, a quem a jogadora chama de “sexista”, “misógino”, “mesquinho”, “curto de ideias”, “racista” e “má pessoa”.

    O presidente, então, usou uma rede social para provocar a jogadora, alegando que primeiro ela teria que vencer para depois falar. Antes do jogo decisivo, Megan Rapinoe escolheu o silêncio: não cantou nenhum verso do hino nacional de seu país. Depois do protesto silencioso, calou Trump com o incontestável futebol jogado e conquistou o título de Campeã Mundial de 2019. Mas Megan não parou por aí. Também foi eleita a melhor jogadora da competição, faturando a Bola de Ouro, e levou o prêmio de artilheira, com seis gols marcados no campeonato, conquistando o troféu de Chuteira de Ouro. Megan, de fato, marcou gols dentro e fora de campo e não hesitou, em nenhum instante, frente ao eterno debate sobre misturar futebol e política. Enfim, escolheu ser coerente.

    Isso porque as vitórias de Megan Rapinoe nesta edição do mundial feminino falam muito mais do que parecem dizer. Não é de hoje que Rapinoe incomoda pessoas moralistas como Trump. Megan nunca se calou, sempre levantou a sua voz para defender os seus valores e seus direitos. Mulher lésbica assumida, em uma sociedade que ainda não aceita pessoas LGBT+ em sua pluralidade de corpos e ideias, usa seu nome para pedir o fim da LGBTfobia. Megan é casada com Sue Bird, tetracampeã olímpica com o time de basquete dos Estados Unidos, e o casal foi o primeiro LGBT+ a estampar a capa de uma revista esportiva.

    Mulher jogadora de futebol, em um mundo machista e patriarcal que ainda valoriza mais os homens, usa seu nome para pedir igualdade salarial. Rapinoe está entre as jogadoras responsáveis pelo processo movido pelas atletas da seleção norte-americana contra sua federação. A acusação é de que há discriminação contra as mulheres e favorecimento à equipe masculina, que tem melhores salários e patrocínios, em uma realidade onde, diferente do cenário brasileiro, a seleção feminina tem muito mais títulos do que a dos homens.

    Mas as lutas de Rapinoe não falam só sobre si. Recentemente, ela falou sobre o irmão, Brian, preso aos 15 anos quando levou metanfetamina para a escola. Acabou sendo apreendido em um centro de detenção de menores. Mais tarde, já quando atingiu a maioridade penal, que nos EUA é de 16 anos, foi preso novamente e passou 10 anos no cárcere. Nessa época, eles se comunicavam por cartas e telefonemas. Hoje, Brian está em liberdade, em processo de reinserção, com uma tornozeleira de monitoramento. Depois de viver uma década vendo o sofrimento do irmão, Megan passou a lutar, também, pelas pessoas com dependência química.

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