Artigo | Qual a relação da produção de mortes em favelas e o Estado de Israel?

De governos ditos progressistas a conservadores, há anos técnicas e tecnologias das forças militares israelenses têm sido adotadas pelos executivos estaduais brasileiros e suas polícias

A política de segurança pública do Estado RJ diariamente produz genocídio e encarceramento em massa nos territórios de favelas, de maioria negra. E o que o Estado de Israel e seu governo tem haver com esta produção de mortes?

Israel produz uma luta colonial e racista contra o povo palestino, e nesse processo histórico, o Estado de Israel que invadiu e sequestrou espaços e territórios palestinos tem produzido em larga escala tecnologias de produções de mortes:  desde treinamentos militares, a armamentos cada vez mais letais e novas tecnologias como drones não tripulados que atiram e genocida, cotidianamente o povo palestino.

E toda essa produção que não é produzida de hoje, vem sendo importada pelo governo brasileiro, dos governos ditos progressistas aos mais conservadores, impactando na produção de mortes realizada em operações policiais cotidianas nas favelas de todo o estado do RJ.

Há anos, tecnologias militares testadas em palestinos vêm sendo utilizadas no Brasil. Temos visto isto, através  de empresas como a ISDS – International Security & Defence Systems, fundada por espiões israelenses, grande fornecedora aos governos brasileiros de pacotes de treinamentos e armas para as polícias. Essa relação vem se potencializando desde os megaeventos no Brasil (Jogos Pan-Americanos, Copa do Mundo, Olimpíadas e Jornada Mundial da Juventude), ou seja, Israel vem protagonizando junto ao Brasil um intercâmbio com trocas globais entre as forças militares e policiais mais brutais do mundo.

Durante os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, um muro foi construído segregando o conjunto de favelas da Maré, algo semelhante ao muro segregacionista de Gaza. Vale salientar que o muro da Maré foi levantado e supervisionado sob a presença da ISDS no Brasil através de um contrato oficial com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos numa tentativa de estender um contrato de 2,2 bilhões assinado entre Israel, o Comitê Olímpico e o governo brasileiro. 

No ano de 2013, denúncias feitas por moradores de favelas do estado do RJ já apontavam o uso de caveirões israelenses na repressão e ocupação de favelas. Ao início daquele ano, foram comprados pelo estado fluminense oito deles por cerca de R$6 milhões da empresa israelense Global Shield. 

Recentemente destacamos 2 momentos: a aprovação em 09 de dezembro do Projeto 228/2021 na Câmara Federal, que tem como principal objetivo produzir a cooperação militar entre Israel e Brasil e às aquisições de armamento e orçamentos destinados para a produção de guerra pelo governo do Estado do RJ como comprova  em março deste ano (2023), a pesquisa produzida pelo Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial (IDMJR), intitulada de: Dossiê de Olho na Alerj com uma análise da legislatura passada(2019-2022) na alerj e uma perspectiva da nova legislatura que se iniciou em 2023 sobre segurança pública, revela que ao longo do monitoramento, acompanhamento os extratos contratuais orçamentários de aquisições de armamento de diversos tipos foram comprados pelo Executivo.

Uma das principais empresas que o Poder Executivo aciona para a compra e as licitações de armas e munições é a empresa Israel Weapon. São contratos de alto valor financeiro, com compras de arsenal de guerra e conta com justificativas superficiais e vazias sobre a necessidade e justificativa destes equipamentos. 

Mas diante deste intercâmbio genocida, também vem sendo produzida resistência articulada entre movimentos e organizações sociais do Brasil e Palestina. Anualmente movimentos de favelas, movimentos de mães e familiares vítimas de violência do terrorismo do estado no Brasil e o BDS – Boicote de Desinvestimento a Israel vem produzindo o Julho Negro espaço de articulação mundial contra o apartheid. Este ano além do Julho Negro estamos articulando no Brasil a Campanha Espaços Livres de Apartheid que conta com a participação das organizações e movimentos sociais brasileiros  Jubileu Sul, PACS, IDMJR, Maré 0800, Ceasm, Museu da Maré, Justiça Global, Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência do Estado, Cidades/Uerj em parceria com SANAUD e BDS.

Todo esse processo genocida e de acumulação do capital, só nos apresenta uma chance de continuar vivos nas favelas e nos territórios palestinos, produzirmos a luta pelo fim do capitalismo, sustentado pelo racismo e toda sua militarização.

Em 2023 a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial vai deflagrar e potencializar uma discussão sobre Desfinanciamento das Polícias como um dispositivo de controle das polícias e esta discussão passa pela construção também de um boicote do Brasil a Israel de compras de armas e tecnologias de produção de morte e outras questões.

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A diplomacia brasileira de um governo que se coloca ao lado do povo, não pode manter negócios com Israel um país produtor de guerra e de construção de inimigos a partir da guerra contra o povo palestino que teve seu território roubado por Israel e o projeto imperial dos EUA. Qual é o posicionamento dos ministérios: da Igualdade Racial,  dos Direitos Humanos e da Presidência da República frente a guerra colonial e racista produzida contra a Palestina? O governo federal e estadual continuará comprando armas e tecnologias que nos matam nas favelas ? Prevalecerá a política internacional de acumulação do capital ou de preservação das vidas?, no caso brasileiro de vidas negras.

* Fransérgio Goulart é historiador de coordenador executivo da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR)

Publicado originalmente no site da IDMJR

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