‘As culturas têm que pedir ao poder público para dar porrada de oportunidade’, diz ativista Darlan Mendes

    Organizador dos rolezinhos e administrador da Mansão Space Funk participou do 5º episódio do Papo de Rap, série de lives da Ponte: “Não tem apologia [ao crime]. As pessoas têm que entender que o rap narra o que acontece nas realidades das comunidades e das favelas”

    O 5º episódio do Papo de Rap, série de lives da Ponte, foi um papo reto sobre funk, violência policial e direitos humanos com Darlan Mendes, diretamente dos estúdios da Mansão Space Funk, casa de conteúdo digital que ele administra. Cria de Guaianazes, zona leste de São Paulo, ele é um dos criadores e organizador do fenômeno rolezinho, encontros da juventude periférica da Grande SP que aconteceram na cidade a partir de 2013. Além disso, é padrinho da campanha Viva Melhor Sabendo Jovem, projeto de prevenção IST/ AIDS na Juventude da Unicef.  Um constante colaborador da Ponte com denuncias de violência policial nas quebradas da capital paulista, Darlan também é ativista pelos direitos humanos.

    Foi na adolescência que ele começou a organizar festas no bairro onde mora. Mas, já na época, olhava para fora dos limites da periferia. “A gente vê tantas barreiras. O jovem da periferia tem que nascer na periferia, estudar na periferia, morrer na periferia. Eu falei ‘não, não pode ser desse jeito’”.  Ao acompanhar os primeiros rolezinhos no Shopping Itaquera em 2013, percebeu que poderia usar sua experiência para ajudar a organizar os eventos.

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    Ele avalia que, a princípio, o crescimento dos rolezinhos se deu de forma desordenada, pois os “famosinhos”, como eram conhecidos os influenciadores digitais da época, não conheciam sua própria força nas redes sociais. Foram três meses entre o primeiro rolezinho até a parceria com o poder público, quando o evento passou a ter estrutura. O local escolhido foi a Praça do Morcegão, no bairro de Arthur Alvim, zona leste de São Paulo. “Não tem dinheiro no mundo que pague você poder fazer o que você curte”, afirma.

    Para Darlan, participar desse movimento fez com que ele se tornasse mais ousado.  “Além do funk, quem fez eu ter a força que eu tenho, não ter medo de nada, foi o rolezinho. Ali foi minha escola”, diz orgulhoso. “Em mais de 90 eventos que a gente realizou em toda capital, nunca tivemos uma ocorrência policial registrada”. A organização prezava por ordem e disciplina para realizar eventos em diversos bairros dos extremos de São Paulo.

    Celular como legitima defesa

    Engajado no combate a violência policial, Darlan criticou também a falta de preparo do poder público para lidar com eventos como o fluxo de rua. Para ele, o uso do serviço de inteligência seria um grande aliado para ações menos desastrosas. Ele ainda apontou os policiais militares do 28º Batalhão de Policia Militar Metropolitano como “o que mais tem cometido violência em bailes funks.[…] Isso eu tenho falado e o ouvidor da polícia não me escuta”.

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    Uma das grandes armas contra o abuso policial é gravar as ações policiais com o celular. Vale lembrar que esta inclusive é uma campanha da Ponte: Celular em legitima defesa. Darlan não apenas apoia a campanha, mas deu o exemplo do MC Salvador da Rima, caso que a Ponte acompanhou em fevereiro. Durante o trajeto até a delegacia, o celular do artista continuou transmitindo ao vivo e registrou o momento quando os PMs combinavam de se machucar a fim de acusar Salvador da Rima.

    “Galera, indico para vocês: abordagem policial violenta? Já pega o celular, já faz aquela live”, orientou Darlan, indicando o Facebook como melhor plataforma, pois, mesmo se o aparelho for desligado, o conteúdo fica salvo na rede.

    Funk x rap?

    O editor da Ponte e apresentador do Papo de Rap, Amauri Gonzo, destacou durante a conversa que ainda existe quem diga que rap é denuncia e funk é festa. Ele lembrou de artistas do funk que já trazem críticas e denúncias a violência policial no seu trabalho, como Paulin da Capital e Salvador da Rima.

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    Darlan lembrou que ambos os ritmos foram – e são – acusados de fazer apologia ao crime. “Não é apologia. As pessoas têm que começar a entender que o rap narra o que acontece nas realidades das comunidades e das favelas”. Ele ainda pontua as parcerias que o funk tem feito com outros ritmos. “O funk é uma cultura que os outros estilos musicais estão trazendo para perto”.

    Para o ativista, as culturas “têm que se unir”. “As culturas têm que pedir para o poder público dar porrada de talento, porrada de oportunidade, porrada de mostrar para o poder público que eles não tão fazendo nada, que não tem nem aí pra cultura, nem pra educação”, defendeu.  

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