Ataque a jovens na zona sul de SP ainda é mistério para polícia

     Um dos rapazes esfaqueados morreu no hospital. Militantes LGBTs acreditam que o crime foi homofóbico

    O ataque a 3 jovens na noite de sábado, 13/09, nas dependências do Terminal Rodoviário do Jabaquara, zona sul de São Paulo, ainda é um mistério para a polícia, para os amigos e também para os responsáveis pelo terminal, que liga a capital ao litoral paulista. O ato, cometido a golpes de faca por volta das 21h15, resultou na morte de um homem e deixou outros 2 feridos. Para militantes LGBTs, o crime teve motivação homofóbica. Samuel Pacífico da Rocha, 23 anos, era gay. “Isso não pode ficar impune”, disse Helcio Beuclair, da ONG Movimento LGBT da Sociedade Civil.

    Segundo relato de amigos, Samuel vivia em São Paulo havia 7 meses. Veio de sua cidade natal, Criciúma, em Santa Catarina. Trabalhava no ramo de eventos. No sábado, após prestar serviços no Centro de Exposições Imigrantes, no bairro da Água Funda, o jovem foi até o Metrô Jabaquara, a cerca de 2 quilômetros. Antes de seguir para a linha Azul do Metrô (Samuel morava nas imediações da Estação Ana Rosa), o rapaz foi ao banheiro do terminal, onde aconteceu o ataque. Ao lado de Samuel estavam C.M., 36 anos, e M.A.S., 32, que também foram esfaqueados.

    Samuel recebeu um único golpe que o atingiu diretamente no abdômen. Ainda teve forças para sair do banheiro e correr até o pátio de estacionamento do supermercado Pão de Açúcar, vizinho ao terminal rodoviário. Segundo relato de seus amigos, caído, urrando de dor, e agonizando, o rapaz passou seu celular para uma funcionário do estabelecimento e pediu que entrasse em contato com seus amigos e familiares. Ele chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) mas morreu ao dar entrada no Hospital Doutor Arthur Ribeiro de Saboya – Pronto-Socorro Jabaquara. Os outros 2 homens foram socorridos no mesmo PS. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, M.A.S teve alta no dia 17, e C.M. um dia depois.

    Alegre, agregador e excelente cantor

    A primeira pessoa a ser avisada do ocorrido foi o namorado de Samuel, com quem ele havia começado um relacionamento um mês antes, de acordo com pessoas próximas aos rapazes. Ele foi correndo para o supermercado. Quando chegou lá, já haviam removido Samuel para o PS. Coube ao companheiro reconhecer o corpo. “Foi horrível, sábado passado ele iria para o videokê. Estávamos esperando e ele nunca chegou. Quando ficamos sabendo, acabou a festa”, conta um amigo.

    Samuel Pacífico da Rocha era um rapaz alegre. “Ele passou a frequentar um videokê chamado Muss na rua Bento Freitas, centro de São Paulo. Ia pelo menos duas vezes por semana no Muss. Em pouco tempo acabou conquistando todo mundo com a sua simpatia e alegria contagiante. Era muito brincalhão e divertido. Eu encontrava com ele semanalmente lá, conversávamos e nos divertíamos”, lembra o amigo e ator Osvaldo, de 38 anos. “Ele cantava muito bem.”

    Investigação

    A Socicam, responsável pela administração do Terminal Rodoviário do Jabaquara, informou que o local “possui um Circuito Fechado de Televisão (CFTV) que monitora as áreas internas do empreendimento, auxiliando na operação, controle e segurança do local”. Em nota, a Socicam disse não ter registro de briga no local e informa que “a empresa permanece à disposição dos órgãos competentes, para contribuir nas investigações”.

    A reportagem da Ponte perguntou à Secretaria de Segurança Pública se o caso é tratado como crime de ódio motivado por homofobia. A pasta informou que “o delegado Levi D’Oliveira, titular do 35º DP, abriu inquérito e as investigações estão em andamento”. Não há informações de detidos, contrariando boato de que pelo menos 1 acusado teria sido preso.

    O corpo de Samuel foi enterrado em Santa Catarina. Em homenagem ao rapaz, um vídeo com fotos de viagens, passeios e momentos descontraídos foi publicado no Youtube. Em um trecho, a frase “partiu para alegrar outras moradas” resume o perfil do rapaz .

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    Talita Antunes
    9 anos atrás

    Conheci o Samuel… eu era mais uma amiga dele, menino espetacular….nao deixava a gente triste .Estudavamos juntos, andavamos juntos, e ve-lo em uma noticia como essa e muito chocante e muito triste. Vai ficar sempre na nossa memoria.

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