Bloco Ilú Obá de Min traz em cortejo a união das vozes negras

    Bloco desfilou pelas ruas da região central de SP nesta sexta-feira (1/3) com o tema “Negras Vozes: O tempo de Alakan”

    Foto: Sergio Silva/Ponte

    Quem participa da festa carnavalesca na cidade de São Paulo, sabe que tradicionalmente o Bloco Afro Ilú Oba de Min é o primeiro a desfilar pelas ruas e, isso, não é à toa. Desde 2004, o movimento organizado em torno das culturas de matrizes africanas e afro-brasileiras, trabalha para manter o patrimônio das antigas tradições na região urbana. Nesta sexta-feira (1/3), o bloco ocupou as ruas da Praça da República, na região central.

    Cortejo do Bloco Afro Ilú Oba de Min, abre a noite de carnaval em São Paulo. Data: 01/03/2019. Local: Praça da República-SP. Foto: Sérgio Silva/Ponte
    Para o ano de 2019, o tema do cortejo foi “Negras Vozes: O tempo de Alakan” – a palavra alakan, do iorubá, significa alianças. “Queremos falar dessa militância das mulheres, dessas negras vozes unidas”, conta Beth, uma das regentes do bloco, em entrevista para a jornalista Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo.
    Foto: Sergio Silva/Ponte
    Com uma bateria composta por 450 mulheres, 40 bailarinos e 12 artistas na perna de pau, o grupo desfilou entre a Praça e o Largo do Paissandú. A linha de frente do bloco contou ainda com a forte presença de artistas e intelectuais negros, como por exemplo, a consagrada escritora Conceição Evaristo.
    Conceição Evaristo. | Foto: Sergio Silva/Ponte
    Um dos momentos simbólicos do cortejo ocorreu na chegada às escadarias do Teatro Municipal, localizado na Praça Ramos de Azevedo, no centro. No local, Conceição Evaristo leu uma carta/manifesto contra o racismo estrutural, a violência policial, a perseguição a homossexuais e em defesa da mulher negra.
    Foto: Sergio Silva/Ponte
    Foto: Sergio Silva/Ponte
    A carta lembrou que naquela mesma escadaria, 40 anos atrás, em pleno regime militar, o Movimento Negro Unificado (MNU) realizava um ato histórico na luta contra a discriminação racial no país:
    Nós, Militantes na década 70/90
    Olhamos os passos dados
    E lá atrás vemos a Ancestralidade
    Transformando as tiras de dor
    Em estímulo de ânimo, confiança e amor
    E assim… em meio ao mar…
    Entre as ondas do horror
    Nasceram as Abayomis
    Erica Malunguinho, eleita primeira mulher trans na Alesp | Foto: Sergio Silva/Ponte
    Por isso saudamos os que nos deram
    Confiança e esperança,
    No amparo ao destino incerto,
    E perante as Mulheres Negras ativistas,
    Que hoje tocam o Tambor,
    Nós dizemos: Abayomis…,
    Energias da ancestralidade universal,
    Com coragem ânimo e fé
    Nós estamos aqui…
    Nas Escadarias do Municipal,
    Mais uma vez!!”
    Foto: Sergio Silva/Ponte

    O cortejo encerrou seu desfile em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde o som dos tambores ecoou entre o vão dos prédios: uma noite inesquecível para os presentes.

    Foto: Sergio Silva
    Foto: Sergio Silva/Ponte

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