Cantora trans denuncia revista abusiva em aeroporto do Rio

    Mel Gonçalves, a Candy Mel, vocalista da Banda Uó, disse em suas redes sociais que a Polícia Federal a obrigou a ficar nua durante revista, no Aeroporto Tom Jobim

    A cantora Mel Gonçalves, a Candy Mel, vocalista da Banda Uó | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Durante turnê de despedida do grupo pop Banda Uó, que fará uma pausa, a vocalista Mel Gonçalves, a Candy Mel, que é trans, denunciou em sua conta no Instagram que foi vítima de uma revista abusiva. “Fui tratada como uma criminosa, como alguém que não tinha direito de escolher o procedimento, como se não tivesse direito algum. E marcando esse último show com um acontecimento muito violento comigo, com meu corpo, com minha vida, com a minha existência”, contou a cantora nas redes sociais.

    O caso aconteceu no domingo (4/3) durante viagem da banda do Rio de Janeiro para Brasília, onde se apresentaram à noite. Mel estava acompanhada dos outros músicos da banda que, de acordo com a vocalista, não foram revistados. Temendo por sua segurança, Candy fez questão de ser revistada na frente de todo mundo.

    A cantora alega que foi parada pelos policiais na revista porque em seu documento ainda constava que ela era do sexo masculino. “Eles me coagiram, me levaram pra uma sala com dois caras, querendo fazer uma revista em mim e eu não aceitei”, disse a cantora que no momento estava detida dentro do aeroporto.

    Como ato de protesto, a vocalista tirou a camisa e ficou com os seios despidos. “Minha forma de protesto desse ato foi ficar sem camisa, meus seios de fora, essa foi minha forma de gritar. Eles rapidamente resolveram o problema, eles queriam que fosse numa cabine”, alegou.

    O fato ocorreu três dias após a população trans no Brasil alcançar uma importante conquista, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu que que pessoas transexuais (que não se reconhecem com o gênero de nascimento) e travestis (que vivenciam o gênero feminino) podem alterar o nome sem necessidade de cirurgia de redesignação sexual, apresentação de laudos ou autorização judicial.

    Candy Mel ainda relatou que ficou bastante constrangida quando outros funcionários do aeroporto fizeram gracinhas com a situação dela. “Algumas das mulheres cis (que reconhece o gênero de nascimento) ficaram fazendo graça, como se eu fosse chacota”, desabafa.

    Nos vídeos, a cantora ainda informou que vai tomar providências. “Vou resolver isso na melhor forma possível dentro da lei”, disse.

    A Ponte tentou entrar em contato com a cantora e com a assessoria da banda, mas não obteve retorno.

    No show de despedida da capital paulista, que ocorreu no espaço de shows Tropical Butantã, nesta última sexta (2), Candy Mel se emocionou ao falar de sua trajetória na banda. “Se eu estou aqui hoje falando para vocês em cima desse palco, é porque eu sofri muito” disse. No término do discurso, agradeceu ao público por tudo que proporcionaram a ela e finalizou a fala com uma frase de uma das canções de mais sucesso do grupo, “Ninguém paga minhas contas”.

    Outro lado

    Procurada pela Ponte, a assessoria do Aeroporto Internacional Tom Jobim, mais conhecido como Aeroporto do Galeão, informou que o procedimento de inspeção de segurança é ditado pelas normas das Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), RBAC 107.121 – Resolução 207. “Quando o acionamento aleatório automático ocorre, como foi o caso da cantora, qualquer passageiro passa por busca pessoal realizada por um agente do mesmo sexo, em uma sala reservada ou em público, à escolha do viajante. Como o bilhete que a cantora apresentou constava nome masculino, houve o entendimento que um agente deveria fazer a revista. O RIOgaleão reforça que reprova qualquer forma de preconceito, zela pelo respeito a todos e pelo cumprimento da legislação”, informou a assessoria.

    A reportagem também contatou a assessoria de imprensa da Polícia Federal, mas até o fechamento da matéria não tivemos retorno.

    Matéria atualizada às 20h40 para incluir o posicionamento do Aeroporto

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas