Cinco pessoas são mortas em operação da PM no Complexo do Alemão, no RJ

    Wesllen Santos, 18 anos, é a única vítima identificada até o momento; Complexo da Maré também foi alvo de operação policial com tiros e helicópteros

    Cinco pessoas foram mortas durante uma operação policial no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (18/9). Um PM, o cabo Felipe Brasileiro Pinheiro, ficou ferido e está internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas, em estado grave. A operação foi realizada pelo Comando de Operações Especiais (COE) e policiais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A informação do número de mortos foi dada pela PM à Ponte no final da tarde desta quarta-feira.

    Logo cedo, por volta das 6h, a comunidade acordou ao som de tiros, helicópteros e “caveirões” circulando pelas vielas, como mostram vídeos gravados por moradores. A PM informou, em nota, que houve confronto quando policiais entraram na comunidade e foram “alvo de criminosos armados”. Três suspeitos de tráfico foram presos.

    “É muito difícil, porque as escolas estão fechadas, unidade de saúde fechada e a comunidade pouco recebe políticas públicas. Ao contrário, recebe mais violência”, desabafou à Ponte uma moradora do Complexo do Alemão, que, por medo, pediu para não ser identificada.  

    De acordo com ela, a operação começou por volta das 5h. “Tudo isso está acontecendo, mas a gente não pode fazer nada. Há uma força maior do que a própria população e as pessoas não querem arriscar as próprias vidas, portanto não reivindicam os seus direitos. Todo mundo sofre calado”, declarou. Além disso, há relatos de bombas não acionadas que ficaram entre as vielas da favela. “Estamos desesperados”, dizia uma mensagem em um grupo no Whatsapp de moradores do local.  

    Moradores pedem paz no Complexo do Alemão| Foto: reprodução/Voz da Comunidade

    Durante a operação, uma cena comoveu: duas jovens gritando “violência nunca mais”, enquanto balançavam um pano com a frase “queremos paz” escrita com canetinha.

    Reportagem da Ponte publicada em junho deste ano, trazia os dados de aumento de operações policiais no estado depois da chegada de Wilson Witzel (PSC), que tem adotado uma política de combate. Foram 1.148 operações policiais e patrulhamentos somente de janeiro até junho, o que representa mais de seis ações a cada dia. Comparado com o registrado pela intervenção federal de março até o fim de junho de 2018, há um aumento de 84% só nas operações, que pularam de 218 para 403 no mesmo período do governo Witzel. No primeiro semestre deste ano, a polícia do RJ matou 881 pessoas, um índice de 5 mortos por 100 mil habitantes.

    Segundo informações oficiais, policiais militares do Batalhão de Ações com Cães (BAC), do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), Grupamento Aeromóvel (GAM) e Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) foram até o Complexo do Alemão com o objetivo de “reprimir o tráfico e realizar a readequação de cabines blindadas”.

    Por meio do Twitter, o Voz das Comunidades divulgou vídeos da operação para alertar os moradores da região. Às 8h, eles também divulgaram que aulas foram canceladas em 12 escolas, incluindo creches. As imagens compartilhadas também mostravam os blindados circulando pelas ruas. A Ponte apurou que fios de energia foram atingidos e moradores ficaram sem luz.

    Uma costureira disse para o Voz das Comunidades que os policiais invadiram uma casa sem autorização. “Policiais entraram na casa da minha mãe com um moleque batendo nele, asfixiando. Expulsaram todos lá da casa é tão lá na casa da minha mãe. Um absurdo isso! Meus irmão e tia que estavam na casa, estão no vizinho porque eles não deixam entrar na própria casa”, dizia o relato. Ela não quis se identificar.

    Pouco depois, o Complexo da Maré, zona norte do Rio, também virou alvo de operação. Dessa vez, uma “ação de inteligência” da Polícia Civil buscava o paradeiro de um traficante. Segundo informações oficiais, o suspeito seria chefe do tráfico da comunidade. Vídeos mostram que na Maré também houve troca de tiros e helicópteros sobrevoando o território.   

    Morador da comunidade, Laerte Breno passou mal por conta da operação. O colunista do site Voz das Comunidades e educador popular enfatizou a dor que sentiu ao ver helicópteros sobrevoando escolas. “A gente luta, mas até quando a gente vai precisar lutar para isso?”, questionou.  

    “Eu postei no Twitter, ontem mesmo, dizendo que toda vez antes de dormir eu não queria me preocupar com: Será que vai ter operação no dia seguinte? E está tendo operação”, comentou. “As crianças estão chorando, gritando. Eu não consigo falar, eu não consigo”, finalizou, com a voz embargada. 

    Em agosto, um estudo da Redes da Maré indicou que, apenas no primeiro semestre, 15 pessoas da comunidade foram mortas em ações do tipo.

    A Polícia Civil do Rio de Janeiro, responsável pela operação na Maré, enviou nota dizendo que se tratou de uma “ação de Inteligência”, que contou com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O texto ainda dizia que a ação tinha sido concluída sem registro de feridos e elencava os objetos apreendidos: munições, granadas, rádio comunicador e drogas embaladas para serem vendidas.

    A Polícia Militar informou que a operação no Complexo do Alemão apreendeu “um fuzil, quatro pistolas, 47 artefatos explosivos, 13 carregadores, munições, coletes táticos, além de 141 kg de maconha, 177 trouxinhas de maconha, 860 pinos de cocaína, 4 kg de cocaína e 68 pedras de crack foram apreendidos”.

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