Com Racismo Não Há Democracia: movimento busca visibilidade para questão racial

    Para representantes da campanha, o antifascismo não pode se sobrepor ao antirracismo: ‘queremos protagonizar esse movimento’

    Protesto destaca o papel do racismo na morte de Guilherme Guedes, na zona sul de SP | Foto: Arthur Stabile

    O assassinato de George Floyd, homem negro americano sufocado por um policial em Minnesota, nos Estados Unidos, gerou manifestações pelo mundo. Atos contra a violência policial e pelo antirracismo. No entanto, aqui a pauta virou outra, como critica movimento cuja luta é exatamente colocar a questão racial no centro do debate.

    Com Racismo Não Há Democracia é um movimento nascido da Coalizão Negra por Direitos, articulação que envolve mais de 100 organizações e coletivos, e outras entidades ligadas aos movimentos negros, como Legítima Defesa e Frente 3 de Fevereiro. Além de combater o histórico de invisibilidade, o movimento luta para manter o foco do debate sobre os desafios da população negra.

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    Os integrantes afirmam que há dificuldade em pautar a questão racial até mesmo com a repercussão da morte de George Floyd e outros homens e jovens negros mortos pela polícia do Brasil, como João Pedro, 14 anos, no Rio de Janeiro, e Guilherme, 15, em São Paulo.

    “Queremos protagonizar esse movimento, somos sempre chamados para apoiar pautas, não para liderarmos uma pauta. Isso tem a ver com o racismo, também”, resume a advogada Sara Branco, citando exatamente as manifestações puxadas no último mês. “O motivo de ir para a rua era a luta antirracista, e no Brasil virou um movimento antifascista“, analisa.

    Os integrantes do movimento defendem que, o longo dos atos, a visibilidade para os movimentos antifa ganharam mais espaço do que a luta racial na mídia brasileira, que preferiu discutir quem eram as torcidas de times de futebol que enfrentavam apoiadores do governo Jair Bolsonaro do que levantar os atos antirracistas.

    “Mostra a dimensão das questões raciais no Brasil, sempre colocando outras coisas em cima de nós, da nossa pauta. Não é antifa, é antirracismo. Acabar com a violência que vivemos o tempo todo”, prossegue Sara. “A ideia toda é continuar gritando por nós mesmos, do movimento negro falar por ele mesmo”.

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    “O Brasil é um país em dívida com a população negra – dívidas históricas e atuais. Portanto, qualquer projeto ou articulação por democracia no país exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo”, defende o manifesto do movimento.

    A Coalizão Negra por Direitos surgiu em 2018, com início de suas ações ao longo de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro. Denuncia nacional e internacionalmente violações de direitos da população negra.

    “A proposta é de unificar a pauta negra, tanto do campo quanto na cidade”, resume Biko Rodrigues, coordenador da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e representante da Coalizão.

    Biko prossegue a explicação incluindo na pauta central o número de assassinatos de jovens negros, a falta de implementação de políticas públicas para a população negra e a segurança pública brasileira, que criminaliza corpos negros.

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    De acordo com o gestor ambiental, é necessário explicitar o “racismo institucional impetrado em nossa sociedade e a falta de direito de oportunidades” aos negros no país.

    “O racismo tem marcado muito a gente. Às vezes, quando a bala não mata, é a falta de oportunidade. E temos visto reflexo do racismo e do processo de escravidão ao longo dos 128 anos desde a falsa abolição”, afirma.

    Biko usa como exemplo a pandemia de coronavírus. “Vimos na saúde pública aquilo que se olhava e fingiam que não se conseguia ver. A pandemia escancarou para todo mundo a desigualdade social tão gigantesca que temos nesse país”, afirma.

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