‘Com raiva, decepcionados, sem perspectiva’, diz a avó de Rebeca, 7, e tia de Emily, 4, mortas na Baixada Fluminense

    Familiares das crianças prestaram depoimento sobre mortes nesta terça-feira (8/12). “A ficha ainda não caiu porque estamos com sangue quente, mas quando tudo acabar vamos sentir forte a dor”, lamenta Lídia dos Santos.

    Protesto contra a morte de Emily e Rebeca em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense | Foto: Fransergio Goulart / IDMJR

    Nesta terça-feira (8/12), as mães e a avó das duas crianças mortas na sexta-feira (4/12) por bala perdida em Duque de Caxias, prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense.  Segundo Lídia dos Santos, de 51, tia de Emily e avó de Rebeca, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), disse que vai tomar providência sobre o caso mas que, no entanto, não prometeu nada. A investigação está sendo feita em sigilo de justiça. 

    Lídia contou à Ponte que estava chegando em casa do trabalho na sexta-feira quando ouviu uma rajada de tiros. “Eu ia descer do ônibus quando escutei aquele barulho. Tentei me proteger, esperei um pouco e saltei. Vi que tinha um carro de polícia parado na minha rua, até aí tudo bem. Quando eles foram embora eu fui em direção a minha casa, foi quando me deparei com uma criança caída no chão em frente ao meu portão. Não reconheci”, disse a auxiliar de limpeza.

    “Olhei para o chão e vi um cérebro, ele estava meio dentro da cabeça e o resto fora. Minha irmã gritou que mataram a filha dela, quando vi que era a Emily desmaiei. Acordei e gritei, chamei ‘Rebeca!’, ela estava no quintal, peguei nos braços e ela deu um suspiro. Sai correndo com ela no colo, falei que estava viva e precisava de um hospital. Coloquei dentro do carro, pedi ajuda e levamos pra UPA”, contou. 

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    As duas primas estavam brincando na rua e, de acordo com Lídia, havia adultos por perto. “Elas não estavam sozinhas. Tinha tia, pai, vizinhos. Era sexta-feira à noite, todo mundo estava na rua bebendo cerveja e conversando com os amigos. Não houve confronto porque a gente não é louco de deixar criança brincar na rua com tiroteio”, comentou.

    Lídia disse que o sonho de Rebeca era ser médica para poder trabalhar todo dia ao lado da avó. “Minha neta morava no mesmo quintal que eu, Emily na mesma rua praticamente. Rebeca falava que queria ir todo dia comigo para o hospital. Perguntei se ia ser da limpeza também e ela disse que não, seu sonho era ser médica. Sendo médica, poderia ficar no mesmo hospital que eu”, acrescentou. 

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    Os familiares de Emily e Rebeca não pararam desde o ocorrido. “A gente quer justiça. A ficha ainda não caiu porque estamos com sangue quente, mas quando tudo acabar vamos sentir forte a dor. Agora, estamos com raiva, decepcionados com a nossa segurança, sem perspectiva. Queremos que algo seja feito”, completou Lídia.

    “Tudo o que a polícia está falando é mentira. Eu perdi duas meninas por causa de um irresponsável. Hoje, tenho medo de chegar perto de uma viatura. Por enquanto não temos nenhuma resposta concreta ainda da instituição. Só quero justiça”, finalizou. 

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    Através de nota, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que na noite de sexta-feira (4/12), uma equipe policial do 15º Batalhão de Duque de Caxias estava em patrulhamento na Rua Lauro Sodré, altura da comunidade do Sapinho, quando disparos de arma de fogo foram ouvidos. A nota afirma que não houve disparos por parte dos policiais militares e a equipe seguiu em deslocamento. Os policiais foram encaminhados para prestar depoimento e as armas apresentadas na delegacia. 

    Procurada, a Polícia Civil disse que as investigações estão em andamento pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense. Os cinco policiais militares que estavam na região foram ouvidos e tiveram as armas apreendidas para realização de confronto balístico. 

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