Comissão Nacional da Verdade divulga relatório final

    Conheça a história de 434 vítimas da ditadura, saiba quem foram os civis e militares que colaboraram com os crimes contra a humanidade – e aqueles que se recusaram a participar – e entenda as recomendações irrevogáveis para um país mais justo e democrático

     

    Acesse o relatório final da Comissão Nacional da Verdade
    Acesse o relatório final da Comissão Nacional da Verdade

    O Brasil é o país da memória “sufocada”, do “esquecimento”, da memória “inconveniente”. Como se houvesse a possibilidade de sufocar a memória, de escondê-la, de domesticá-la. Durante décadas, tentou-se fazer da Anistia de 1979 o marco temporal do esquecimento das mortes, assassinatos, torturas e perseguições perpetrados pela Ditadura Civil-Militar que governou o país entre 1964 e 1985.

    Mas essa memória aflora aqui e ali em violência a provar que o passado é a matéria-prima de que é feito o nosso presente. Prova também que transformar o Brasil em um verdadeiro Estado de Direito passa pelo reconhecimento de tantas barbáries cometidas, e da construção de instrumentos democráticos que permitam que tais fatos não se repitam.

    Poderíamos dizer que o relatório que a CNV (Comissão Nacional da Verdade) apresenta nesta quarta-feira (10/12), depois de mais de dois anos de trabalho, é dessas peças que todos os que lutam por um país mais justo e humano têm a obrigação de conhecer. Mas é bem mais do que uma obrigação.

    Para nós, da Ponte, é uma honra e uma emoção participar de um momento histórico como esse. Em que, sem medo, como nunca antes, é apresentada uma narrativa corajosa e franca –e, mais importante de tudo, em nome do Estado Brasileiro–, sobre as graves violações dos Direitos Humanos cometidas em nosso país entre 1946 e 1988, particularmente aquelas que aconteceram durante a Ditadura Civil-Militar. Publicaremos textos sobre o trabalho da CNV ao longo do dia de hoje e durante toda a semana.

    Trata-se de fato inédito. O país decretou abolida a Escravatura depois de quase quatro séculos de absoluta negação de direitos aos negros sem que se desse ao trabalho de, pelo menos, analisar as sequelas de tanta dor e sofrimento na alma brasileira.

    O documento da CNV ilumina o presente. Elaborado por José Carlos Dias, advogado, defensor de presos políticos e ex-ministro da Justiça; por José Paulo Cavalcanti Filho, advogado e ex-ministro da Justica; por Maria Rita Kehl, psicanalista e jornalista; por Paulo Sergio Pinheiro, professor titular de ciência política da Universidade de São Paulo (USP); por Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada criminal e defensora de presos políticos; e por Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari, advogado e professor titular de direito internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP, mostra como as mega-empreiteiras que hoje controlam boa parte dos políticos com assento no Congresso Nacional e nos legislativos estaduais (sem contar os executivos), nasceram, cresceram e lançaram seus tentáculos sobre o Estado Brasileiro durante a Ditadura.

    Mostra como a parcela ultra-vip dos empresários brasileiros foi cooptada pela máquina de moer gente que funcionava nos órgãos de segurança do Estado.

    Mostra onde foi que os policiais do Bope, os mesmos que desaparecem com os Amarildos e arrastam as Cláudias hoje em dia, aprenderam a lidar com os excluídos.

    Mostra de onde vem o poder da Rede Globo e dos maiores conglomerados de mídia do Brasil.

    Mostra, mostra, mostra.

    Tudo em linguagem clara, cristalina, simples, didática.

    Que os lutadores pelos Direitos Humanos de nossos dias, em que tantas afrontas ainda são cometidas nas noites escuras e nas noites claras –e todos os dias, infelizmente–, leiam o relatório na íntegra. Conhecer o passado é uma iluminação e permite avançar com mais felicidade rumo ao futuro.

    Assista o evento de entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade:

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    1 Comentário
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    Christian Ribeiro
    Christian Ribeiro
    9 anos atrás

    Ditadura NUNCA mais!!!

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