Segundo testemunhas, menino de 12 anos estava cantando e dançando em plataforma da estação Botafogo quando, em discussão com seguranças, levou “gravata” e foi arrastado para fora da catraca
Uma criança de 12 anos foi retirada à força por seguranças da estação Botafogo do metrô, na última quinta-feira (28/2), no Rio de Janeiro. Imagens mostram que um dos funcionários dá uma “gravata” no menino, que começa a chorar e gritar “está me machucando” enquanto outro o arrasta pelo braço.
Segundo testemunhas, por volta das 19h15, dois meninos estavam cantando e dançando na plataforma quando os funcionários discutiram com eles. Em seguida, um dos seguranças imobilizou um deles, que vestia uma camiseta do Brasil, que chamaremos de M.T., com uma “gravata”. “Quando percebi que ele [segurança] não ia soltar [o menino], desci do vagão e fui atrás. Ele arrastou o menino por alguns metros sufocando-o pelo pescoço”, relatou à Ponte uma jovem que presenciou o momento.
A corretora de imóveis Daniela Pinto, que também acompanhou a ação, afirmou que viu os seguranças tirando algemas do punho do outro menino, que vestia camiseta branca, e que também foi arrastado junto com M.T. pelos funcionários até um caixa eletrônico após ultrapassar a catraca. “Na véspera de carnaval, o crime desses dois menores foi estar cantando e dançando no metrô”, desabafou.
Ainda de acordo com as testemunhas, a criança de camisa verde e amarela começou a passar mal e a espumar pela boca ao ser conduzida para uma sala envidraçada que serve de posto de controle dos funcionários. “Eu não vi nenhuma prestação de socorro e nenhum tipo de interesse na integridade física do menino”, disse Daniela.
Outra testemunha, que não quis se identificar, declarou que chegou a pedir para que M.T. tivesse atendimento médico, mas não foi ouvida. “Chegamos a solicitar uma ambulância e o seguranças disseram que o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) tinha sido chamado, mas quem acabou chegando foi a PMERJ”. Segundo ela, os policiais apenas conversaram com a criança antes de conduzí-la à delegacia. Os presentes apontam que não havia conselheiros tutelares no local para acompanhá-lo.
O advogado Rodrigo Mondego, uns do que passou a atuar no caso, disse que a ocorrência foi registrada como lesão corporal cometida e sofrida tanto pelo M.T. quanto pelo segurança e que a criança vai responder por ameaça ao funcionário. “Não tinha informação de que eles teriam cometido algum crime. Primeiro os seguranças queriam alegar que era furto, mas não tinha vítima nem objeto. Depois falaram em pertubação da ordem e que o menino [M.T.] agrediu o segurança, sendo que foi o contrário”, aponta. De acordo com o advogado o menino vive em situação de rua.
M.T. foi liberado e, segundo o advogado, está sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar e passa bem. Já o outro menino que teria sido algemado não chegou a ser levado para a delegacia.
“Eles tinham pagado a passagem, estavam brincando dentro do metrô e por serem dois meninos negros pobres que estavam sozinhos, os seguranças resolveram expulsá-los do metrô. Eles não estavam pedindo dinheiro, não estavam cometendo nenhum tipo de violência nem incomodando ninguém”, completa Mondego.
Outro lado
Em nota, a MetrôRio, empresa responsável pela administração da estação, declarou que os “agentes de segurança da concessionária foram acionados por passageiros na estação Botafogo para retirar um menor que estava incomodando os demais usuários dentro do vagão” e que o Conselho Tutelar e a Policia Militar foram acionados porque houve “resistência”.
A empresa também negou que houve registro de “convulsão enquanto o menor estava no local” e que a PM o levou à delegacia.
Quanto ao uso de algemas, a MetrôRio disse que “pertenciam aos menores e eram de brinquedo”. A nota diz, ainda, que “seguranças do MetrôRio podem usar algemas. Porém, neste caso, não houve necessidade do uso de algemas”.