Mural compunha exposição por causa do ‘Novembro Negro’; deputado Daniel Silveira parabenizou o colega de partido Coronel Tadeu pelo ato: ‘mais negros cometem crimes’
O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu um mural que compunha a exposição (Re)Existir – Trajetórias Negras Brasileiras, montada na Câmara dos Deputados, por causa do Novembro Negro e o dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20/11). A placa trazia uma arte de Carlos Latuff e um texto que trazia informações sobre a violência de Estado contra negros, pobres e periféricos.
Parlamentares e outras figuras públicas negras se manifestaram nas redes sociais logo após o ocorrido afirmando que a atitude do coronel foi motivada por racismo. “Racismo não é questão de opinião. É crime. 111 tiros no caso de Costa Barros, mais de 200 tiros em Evaldo, a morte de Agatha. Essa casa está lotada de deputados racistas. Não vamos nos calar”, afirmou a deputada federal Taliria Petrone (Psol-RJ) em vídeo postado no Twitter em que menciona casos de violência policial no Rio.
Antes de quebrar a placa, o deputado Coronel Tadeu postou em sua conta do Twitter um discurso em que tenta justificar o ato que cometeria. “Isso é racismo. Um policial, de boina preta, arma na mão, um sujeito negro. Isso quer dizer o que? Que a polícia só mata preto? Isso aqui não fica na parede. Isso aqui é contra a polícia”, afirma. O vídeo foi postado com a seguinte mensagem: “Policiais não são assassinos. Policiais são guardiões da sociedade, sinto orgulho de ter 600 mil profissionais trabalhando pela segurança de 240 milhões de brasileiros”.
Logo após o ocorrido, em discurso racista na Câmara, o colega de partido dele, Daniel Silveira (PSL-RJ), parabenizou o coronel e também criticou a placa com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a arte de Carlos Latuff. “Essa mentira do genocídio da população negra não existe. Os negros são as principais vítimas da ação letal das polícias. Só que também, como a maior parte da população carcerária é formada por negros no Brasil, é porque mais negros cometem crimes. E vão dizer mais uma vez ‘Eu não tive oportunidade da sociedade. Não quis estudar, preferiu furtar. Não venha atribuir à PM do estado do Rio de Janeiro as mortes porque um negrozinho bandidinho comete crime. Vai ficar vendendo discurso de que não pode matar. Claro que pode. Como é que vocês vem aqui e colocam numa casa legislativa que a polícia é responsável pela morte de jovens negros. Eu não vou permitir isso aqui enquanto estiver aqui”, disse o parlamentar.
O advogado Irapuã Santana, que é doutorando em Direito Processual na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e membro da Educafro, também manifestou repúdio e apontou o teor criminoso no ato do parlamentar. “O deputado Coronel Tadeu em uma atitude violenta e racista depreda uma exposição na Câmara dos Deputados que tinha como tema a diversidade, a questão racial no Brasil, um dia antes do dia da Consciência Negra. Isso é quebra de decoro parlamentar e espero que ele seja punido”, escreveu em sua conta no Twitter. Logo depois, informou que a Educafro está elaborando uma representação requerendo a punição do Deputado junto ao Conselho de Ética da Câmara.
O deputado federal David Miranda (Psol-RJ) também manifestou repúdio ao compartilhar a cena da depredação do mural. “Isso é racismo, quebra de decoro e dano ao patrimônio público! Já prestamos queixa e vamos entrar com representação no Conselho de Ética”, escreveu.
A colega de partido, deputada federal Aurea Carolina (Psol-MG), também se manifestou nas redes sociais e lembrou que o caso aconteceu no mesmo dia em que a Polícia Civil do RJ concluiu que foi a PM quem matou Agatha Félix por ter cometido um erro na operação policial.