Desabrigados da Ocupação Douglas Rodrigues somam 1400 pessoas

    Incêndio destruiu barracos na madrugada de segunda-feira, dia 18/07

    Por Karla Dunder

    20160719 Caramante favela queimada
    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    Um incêndio atingiu a ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixando um saldo de duas mortes e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas. O incêndio começou pouco antes da meia-noite, no total, foram 35 viaturas enviadas ao local e os bombeiros levaram 3 horas para controlar o fogo. As causas ainda estão sendo investigadas.

    O barbeiro e lutador de jiu-jitsu, Deleandro da Silva, assim que avistou as chamas correu para o local. “Fui até lá para ajudar, nessas horas temos de ser solidários. Quando cheguei, os bombeiros já tinham tirado os moradores, mas tentei tirar móveis e bujões de gás para não ter novas explosões”.

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    Morador da comunidade da Funerária, no Parque Novo Mundo, próxima ao local atingido pelo incêndio, Deleandro conta que a situação ali na ocupação era precária: “Tenho amigos que moram naquela comunidade e posso dizer que a maioria das pessoas que estão ali vivem na absoluta pobreza, sem condições mínimas, puxando ‘gato’ de água e de luz”.

    Em agosto de 2013, um grupo de moradores ocupou um terreno abandonado de 50 mil metros quadrados, de frente para a Marginal do Tietê e próximo a Rodovia Presidente Dutra. No local funcionava um depósito da transportadora Dom Vital, mas os galpões foram abandonados há mais de 20 anos.

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    A área pertence a Ideal Empreendimentos, empresa do grupo Tenório, que deve um bilhão de reais em impostos ao governo federal e para garantir o pagamento de parte da dívida, a Fazenda Nacional obteve a penhora e o bloqueio da matrícula do imóvel, registrado no 17º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo.

    A área tomada por mato se transformou em uma comunidade com 2600 famílias, cerca de 8 mil pessoas, que vivem sob o temor da reintegração de posse – foram cinco pedidos de despejo. O último, em setembro de 2015, a 1ª Vara Civil do Fórum de Tatuapé havia determinado a reintegração de posse do local.

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    No entanto, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Reinaldo Nalini, adiou a retirada dos moradores, acatando um pedido da prefeitura, com apoio da Secretaria de Segurança Pública do Estado e do Ministério Público. Por questões de segurança, a prefeitura solicitou que o caso seja analisado pelo Grupo de Apoio às Ordens Judiciais de Reintegração de Posse (Gaorp) antes do cumprimento da retirada dos ocupantes.

    O Gaorp é um órgão coordenado pelo Tribunal de Justiça, criado em 2015 após violenta reintegração de posse na Avenida São João. Com representantes das três esferas públicas – municipal, estadual e federal-, o grupo busca a conciliação e a resolução pacífica de conflitos fundiários.

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    A relação com os vizinhos também não é das melhores. “Eles fazem muito barulho, tocam funk a noite toda, sem limite de horário, fora o aumento de furtos e assaltos na Rua Manguari, até então, uma via tranquila”, conta uma moradora que não quis se identificar. Vizinhos à ocupação fizeram um abaixo-assinado e entregaram para a prefeitura pedindo a retirada dos moradores.

    “Realmente tem algumas pessoas com casas de blocos e alvenaria e pequenos comércios ali, também é claro que alguns se aproveitam da situação, mas eu prefiro olhar para aqueles que hoje perderam tudo, ” diz Deleandro. Os moradores foram acolhidos por vizinhos e instituições religiosas. “Levei colchões e cobertores. Estamos aceitando doações de roupas de frio e tentando contribuir de alguma forma, ainda mais com as temperaturas em queda.”

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    Os moradores da Douglas Rodrigues são acompanhados pela organização não-governamental Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos desde o início das ocupações. A ONG, em parceria com a Defensoria Pública de SP, dá auxílio jurídico e conseguiu suspender os pedidos de reintegração de posse do local.

    No momento, também recebem doações de colchões, roupas, comida, água, itens de higiene pessoal, cobertores que podem ser doados na própria ocupação, na Rua Manguari, 250 ou na sede do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos: Rua Dom Rodó, 140 – Ponte Pequena (seg à sex, das 9h às 18h, Tel. 3322-8604)

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    Destruição na ocupação Douglas Rodrigues na madrugada do dia 18/07 deixou dois mortos e 350 famílias desabrigadas – 1400 pessoas – Foto: Deleandro da Silva/Especial para a Ponte Jornalismo

    Homenagem

    A ocupação leva o nome de Douglas Rodrigues em uma homenagem ao jovem de 17 anos assassinado com um tiro no abdômen por um policial militar no Jardim Brasil, bairro da zona norte de São Paulo e próximo a ocupação. Segundo testemunhas, os policiais chegaram atirando e o após levar o tiro, Douglas perguntou:

    – Por que o senhor atirou em mim?

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