Documentário da Ponte é um dos vencedores do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo

Massacre do Carandiru: 30 anos de Impunidade, que traz as vozes sobreviventes de umas das maiores chacinas promovidas pelo Estado, ficou em segundo lugar na categoria “Documentário”

O documentário Massacre do Carandiru: 30 anos de Impunidade, produzido e lançado pela Ponte Jornalismo no Youtube, ficou em segundo lugar na categoria “Documentário” do 39º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. O anúncio dos trabalhos vencedores foi feito nesta quarta-feira (30/11) pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) que instituiu a premiação em parceria com a sede gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS).

O vídeo conta a história de um dos casos mais emblemáticos de violência de Estado que ocorreu dentro da Casa de Detenção de São Paulo, em 1992, deixando 111 pessoas mortas. Sidney Salles, Maurício Monteiro, Kric Cruz e Luiz Carlos Paulino, testemunhas e sobreviventes do massacre, explicam a sequência dos fatos, quando dezenas de policiais militares invadiram o Pavilhão 9 e promoveram torturas e execuções contra os detentos. 

Além das gravações feitas no Parque da Juventude, local que abrigava o Complexo Penitenciário do Carandiru, na zona norte da capital paulista, imagens registradas pela TV Cultura naquele 2 de outubro também foram cedidas. A direção é assinada pelo repórter Gil Luiz Mendes, que conduziu a reportagem, o diretor de redação da Ponte, Fausto Salvadori, que divide com Gil o roteiro, e o fotógrafo Daniel Arroyo, responsável pela captação das entrevistas e edição. A produção e a reportagem contaram com o apoio do editor Amauri Gonzo, e a arte é assinada pelo diretor de projetos da Ponte Antonio Junião.

Autor de uma grande reportagem que acompanha o documentário, Gil esteve imerso nos registros históricos sobre o Massacre, entre livros e músicas, desde o início do ano. Para ele, é importante que a memória do caso se mantenha viva para que se possa cobrar respostas das autoridades. Mesmo depois de 30 anos, nenhum agente de segurança foi responsabilizado, apesar de a condenação de 74 PMs ter sido confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STF). Um pedido da defesa para reduzir a soma de mais de 600 anos de prisão pelos homicídios ainda será analisado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e a prisão deles segue indefinida.

“É um caso único no Brasil”, pontua o repórter. “Por ser um crime que ganhou notabilidade internacional por uma série de violações dos direitos humanos, [por se tratar de] pessoas que estavam sob a custódia do Estado e o Estado cometer esse massacre como uma pena de morte mesmo, da execução sumária de 111 pessoas, é importante que passadas as três décadas as novas gerações também saibam o que ocorreu. É um papel também do jornalismo fazer com que isso não caia no esquecimento”, prossegue.

No documentário, Gil recorda como acompanhou pela TV as cenas da Polícia Militar entrando no presídio, sem ter ideia da dimensão do massacre. Ao entrevistar as testemunhas, o repórter diz que ficou impactado pela forma de como cada uma delas conta a história destacando os detalhes daquele momento. “Você pensar que quem viveu essa barbaridade, viu de perto, é uma coisa que para a gente é inimaginável. A gente nunca vai saber o que foi aquilo mesmo. Eles sempre estão usando onomatopeias, usando sons de tiros, de gritos, de bombas, como se tudo aquilo ainda estivesse muito vivo na cabeça deles porque eu acredito que esteja”, observa.

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Em relação ao prêmio, o jornalista reconhece que é uma vitória tanto da equipe que se envolveu no projeto este ano quanto do jornalismo independente que defende os direitos humanos. “Há o reconhecimento de um trabalho que busca resgatar a memória de um país que a gente sabe que não a valoriza tanto. Estou bem feliz com essa premiação porque mostra que ainda é relevante lembrar coisas que o Estado não quer que a gente relembre”, completa.

A cerimônia desta edição do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, que teve como tema a intolerância, está marcada para acontecer em Porto Alegre (RS) na próxima sexta-feira (9/12), data que marca os 74 anos da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU.

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