Em carta, informante da Rota denuncia ter sido agredido em presídio de SP

    Marcos Massari foi um dos articuladores da Operação Castelinho, quando 12 integrantes do PCC foram mortos pela PM em rodovia, e virou inimigo da facção

    Arte: Junião

    O presidiário Marcos Massari, o maior colaborador e informante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais letal da PM paulista, diz ter sido agredido por funcionários da Penitenciária de Tupi Paulista, onde está preso, no mês passado.

    Em carta escrita de próprio punho, ele dá nome a pelo menos dois supostos agressores e relata medo de morrer.

    Leia íntegra da carta, o registro da ocorrência, a sindicância interna do caso e decisões judiciais aqui.

    Massari ajudou a Polícia Militar a montar a Operação Castelinho, em março de 2002, quando 12 integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) foram mortos por PMs na Rodovia Castelinho, em Sorocaba.

    Ele e outros três presos foram retirados da cadeia com ordem judicial e, infiltrados no grupo criminoso, convenceram os assaltantes ligados ao PCC a roubar um avião-pagador que jamais existiu, em Sorocaba.

    Além dos quatro presos, 54 policiais militares, todos subordinados ao extinto Gradi Militar (Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância) foram denunciados pelos homicídios.

    Todos acabaram absolvidos pela Justiça em novembro de 2014. Porém, para o Ministério Público Estadual, a Operação Castelinho foi uma “farsa macabra” e “a maior farsa da história policial no Brasil”.

    O Gradi foi criado em 2001 pelo então secretário estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, para combater crimes de intolerância. A Justiça autorizou o Gradi Militar a investigar e reprimir as ações do PCC, inclusive infiltrando presos entre os criminosos. Depois da Operação Castelinho, o grupo foi extinto. 

    Os quatro colaboradores da PM foram retirados da prisão dezenas de vezes e levados para o CPChoque (Comando de Policiamento de Choque), na Luz. Junto com PMs da Rota, eles eram infiltrados em ações do PCC.

    O então major Roberto Mantovan, à época coordenador do Gradi Militar, enviou ofício à Coordenadoria das Unidades Prisionais de São Paulo, sugerindo benefícios para amenizar a pena de Marcos Massari, em razão dos serviços prestados pelo preso à Polícia Militar.

    Um trecho do ofício diz que os PMs do Gradi testemunharam “lealdade, espírito de companheirismo e até honestidade dos mesmos nas reuniões com marginais, promovida por eles através de contatos telefônicos”.

    A sugestão do então major Mantovan, propondo, em abril de 2002,  benefícios à pena de Marcos Massari, até hoje vem sendo ignorada pelas autoridades do sistema prisional.

    Em cartas escritas na prisão no mês passado, Massari afirma que foi torturado física e psicologicamente por funcionários da Penitenciária de Tupi Paulista. Ele cita nominalmente o diretor de disciplina da unidade prisional, André Ricardo de Andrade, e o secretário-adjunto de disciplina, Alcimário Hungari, além do “corpo funcional do núcleo III”.

    Segundo o presidiário, um diretor da unidade o aconselhou a cometer suicídio. O advogado de Massari, João Francisco Ribeiro, prestou queixa à Polícia Civil.

    No boletim de ocorrência, datado de 6 de julho deste ano, consta que o advogado visitou Massari e outro cliente, e que constatou que ambos estavam com escoriações.

    O juiz Luiz Augusto Esteves de Mello determinou, no último dia 15/7, a imediata realização de exame de corpo de delito em Marcos Massari e no outro preso, que também diz ter sido agredido por funcionários.

    Os agentes penitenciários acusados pelos presos pela prática de tortura negam as agressões.

    Marcos Massari cumpria pena na Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, também destinada a autores de crimes sexuais.

    Segundo a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, em 20 de dezembro de 2017, ele foi transferido para Tupi Paulista porque vinha incentivando agressões a presos condenados por estupros.

    Apontado como maior “arquivo vivo” por ter informações detalhadas de ações criminosas praticadas pelo Gradi Militar, Massari fugiu armado e pela porta da frente da Penitenciária de Itaí, em agosto de 2004. Antes de escapar, ele ainda algemou um diretor do presídio.

    O criminoso foi recapturado em agosto de 2008, no bairro Vila Belmiro, em Santos, usando documento falso em nome de Eduardo Nascimento.

    No sistema prisional correm rumores de que Massari participou do assalto milionário ao Banespa, no centro de SP, em junho de 1999, quando ladrões ligados ao PCC levaram R$ 32,5 milhões da agência.

    Ainda segundo comentários feitos no sistema prisional, Massari não recebeu um centavo pela sua atuação no roubo e, por conta disso, se declarou inimigo do PCC e passou a delatar as ações da facção.

    O preso é considerado, atualmente, um dos maiores inimigos do Primeiro Comando da Capital. Massari teme por sua integridade física na prisão e pede à Justiça de São Paulo transferência urgente para a Penitenciária José Parada Neto.

    A Ponte procurou a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de São Paulo, gerida pelo coronel Nivaldo Cesar Restivo neste governo de João Doria (PSDB).

    Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) afirmou que as acusações apontadas pela reportagem são inverídicas. Ainda assim, a pasta informa que vai abrir procedimento de apuração interna. “Salientamos que o detento possui difícil convívio em quase todas as unidades, pois é denunciante contumaz e conhecido por suas histórias fantasiosas a fim de tentar remoções de uma unidade para outra, tendo em vista sua condenação de 134 anos, e por estar sempre cumprindo penas em medida preventiva de segurança”.

    A SAP informa que em 11/07/2019, o Diretor de Segurança e Disciplina da unidade obteve informações de que o preso Marcos havia combinado com outro detento que faria a prática de autolesão, com a intenção de, posteriormente, atribuir autoria a servidores da Pasta. “Mediante tal situação, a unidade adotou medidas de segurança para evitar danos a integridade física do sentenciado, que se encontra habitando uma cela individualmente”, diz a nota.

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