Em SP, PCC já realizou fugas maiores que a ocorrida em prisão do Paraguai

    Em 2001, 106 integrantes fugiram da Casa de Detenção e até hoje não houve punição; no Paraguai, autoridades estão presas por causa da fuga do domingo (19/1)

    Interior da cela onde foi feito o túnel em presídio de Pedro Juan Caballero, no Paraguai | Foto: Reprodução/Fiscalía Paraguay

    O diretor-geral e 30 agentes da Penitenciária de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, continuam presos a mando da Justiça daquele país por suspeita de facilitação de fuga de 75 presos na madrugada do último domingo.

    Dentre os foragidos, 35 são paraguaios e os outros 40 são brasileiros e integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil.

    As autoridades paraguaias descobriram um túnel de 20 metros de extensão. O buraco ligava uma das celas ocupadas por presos ligados ao PCC à área externa do presídio, rente à muralha. No xadrez, havia 200 sacos de terra. Abaixo, foto de 60 dos foragidos. Dentre eles, integrantes da facção paulista.

    Na imagem, 60 dos foragidos do Paraguai, entre eles, os que pertencem ao PCC | Foto: reprodução

    Em São Paulo, o PCC protagonizou fugas em massa, por túnel, semelhantes à registrada na semana passada em Pedro Juan Caballero.

    A diferença é que no Paraguai, funcionários suspeitos foram presos. Aqui em São Paulo jamais houve notícias de prisão de agentes prisionais subordinados à SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) nos casos levantados pela Ponte

    Uma das fugas em massa coordenadas pelo PCC em São Paulo ocorreu em 9 de maio de 1996, na Casa de Detenção de São Paulo, no Carandiru, zona norte da capital.

    Ao menos 53 detentos fugiram por um túnel de 100 metros, que ligava o setor de laborterapia do Pavilhão 7 até a casa de número 83 da rua Antônio Santos Neto, situada nos fundos do presídio.

    As escavações foram coordenadas por um detento engenheiro. O túnel tinha ventiladores, iluminação e as paredes eram escoradas com madeiras e forradas com cobertores.

    Centenas de sacos de terra foram escondidos no poço de um elevador desativado. As escavações duraram meses. Agentes penitenciários disseram nunca ter visto nada estranho. Ninguém foi preso à época. 

     Em 8 de julho de 2001, outros 106 presidiários escaparam cinematograficamente do Pavilhão 8 da Casa de Detenção. Dessa vez foi cavado um túnel de fora para dentro da unidade prisional.

    O túnel ligava a galeria externa de água e esgoto à parte interna do presídio, bem rente à muralha do Pavilhão 8, perto do antigo campo de futebol. No local, os presos montavam até barracas para receber as visitas. 

    O trabalho de escavação também foi realizado por equipe de profissionais. Havia no buraco sistemas de iluminação, ventilação e escoramento das paredes.

    Na lista de foragidos estavam traficantes de drogas, assaltantes de joalherias, bancos e carros-fortes, além de sequestradores. Todos eram ligados ao PCC. À época, não houve notícia sobre o possível envolvimento de funcionários com a fuga e muito menos sobre prisão de algum agente.

    A Casa de Detenção já era mundialmente conhecida por causa da matança de 111 presos do Pavilhão 9, em 2 outubro de 1992, executados por policiais militares. O episódio foi chamado de “Massacre do Carandiru”. Até hoje também ninguém foi punido pela carnificina. Com relação às vítimas, poucas tiveram alguma reparação do Estado. Uma reportagem da Ponte publicada em março do ano passado mostrava que, de 10 famílias de vítimas do Carandiru, apenas 2 receberam indenização por danos morais.

    Não muito longe dali, em novembro de 2001, ainda no Carandiru, 99 presos escaparam da Penitenciária do Estado também por túnel. O buraco ligava a parte interna do presídio à galeria de água e esgoto da avenida General Ataliba Leonel.

    Um dos fugitivos era Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o líder máximo do PCC. 

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    Essas três fugas ocorreram na gestão do PSDB, partido que até hoje está no poder em São Paulo. A Polícia Militar era responsável pela guarda das muralhas dos presídios.

    Outras fugas não em massa, porém não menos vexatórias, também ficaram na história do Complexo do Carandiru. Uma delas ocorreu em 11 de janeiro de 1999, na Casa de Detenção.

    Segundo as autoridades carcerárias, Marcola, hoje cumprindo pena na Penitenciária Federal de Brasília, fugiu da Casa de Detenção com seu parceiro de crime Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho.

    Marcola foi recapturado no mesmo ano. Fuminho, considerado o maior traficante de drogas do País, está foragido há 21 anos. Ele é o homem mais forte do PCC nas ruas. 

    Em março de 2006, Sônia Aparecida Rossi, a Maria do Pó, escapou da Penitenciária de Sant’Anna, no Carandiru, antiga Penitenciária do Estado, berço dos presos do PCC.

    O presídio, transformado em unidade feminina, estava em reforma. Anos antes, Maria do Pó havia sido presa com 300 kg de cocaína em Campinas, no interior de São Paulo. Mesmo assim foi liberada por policiais civis. Ela continua foragida.

    A Ponte questionou a SAP às 14h57 de terça-feira (21/1), através de e-mail enviado à assessoria de imprensa da pasta, sobre o desfecho desses casos elencados pela reportagem. Perguntando se alguém foi punido, exonerado ou preso por possível envolvimento nas fugas mencionadas acima.

    Até as 12h desta quinta-feira, mais de 48 horas após o pedido formalizado pela Ponte, a SAP ainda não havia dado uma resposta.

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