Estudante sai para comprar coxinha, é espancado, detido pela PM e desaparece

    Ao procurar a Corregedoria da PM de SP, familiares de jovem receberam como resposta: aguardem dez dias úteis para saber alguma coisa

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    Wallace Araújo Souza, 18 anos, foi levado por PMs, no sábado (25/06), segundo amigos. Até agora, gestão de Alckmin não saber responder onde o estudante está – Foto: André Caramante

    A gestão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não sabe responder onde está o estudante Wallace Araújo Souza, 18 anos. O rapaz é morador da favela de Heliópolis, uma das maiores da cidade de São Paulo e filho de um coletor de lixo.

    O jovem foi visto pela última vez no início da noite de sábado (25/06), ao ser agredido por um grupo de policiais e, com vida, ser colocado em um carro da Polícia Militar, na divisa entre os bairros do Ipiranga e do Sacomã (zona sul de São Paulo).

    Wallace tinha sequelas de um atropelamento sofrido aos nove anos de idade. No acidente, ele teve afundamento de parte de sua cabeça, que ficou sem parte da caixa craniana.

    Ao registrar o desaparecimento de Wallace no Corregedoria da PM, na terça-feira (28/06), familiares do rapaz receberam a seguinte resposta do órgão: “Voltem daqui dez dias para saber no que deu [a investigação]”. Em tempo, um documento da Corregedoria entregue à família de Wallace diz “dez dias úteis”.

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    Corregedoria da PM de SP pediu para que familiares de jovem aguardasse dez dias úteis para saber sobre seu paradeiro – Reprodução

    Ao lado de dois amigos, um de 14 e outro de 11 anos, o rapaz saiu de casa, na favela Heliópolis, por volta das 18h, para comprar coxinhas.

    Um dos amigos de Wallace, identificado nesta reportagem sob o pseudônimo de Jota, afirmou que os dois e o menino de 11 anos caminhavam pelo cruzamento das ruas Silva Bueno e Lima e Silva, no Ipiranga, quando foram surpreendidos por um homem que, armado, estava em um veículo Gol, cinza, acompanhado de uma mulher e uma criança.

    Jota conta que o motorista do Gol, com a arma em punho, parou o carro perto do trio de jovens e gritou “perdeu, ladrão!”, o que causou espanto nos garotos, pois os três pensaram que seriam roubados.

    O motorista do Gol gritou, logo em seguida, que era policial militar e mandou que os três apresentassem seus documentos. Como apenas Wallace estava sem identificação, ele foi separado dos amigos, que acabaram liberados pelo motorista.

    Enquanto se afastavam de Wallace e do motorista, Jota e o menino de 11 anos viram que ele foi conduzido para uma parede, onde passou a ser esmurrado e chutado. Os dois foram testemunhas oculares das agressões contra o amigo.

    Imagens das câmeras de segurança instaladas na rua Lima e Silva, onde Wallace foi abordado com seus dois amigos, mostram que, às 18h35min58, Wallace é conduzido contra uma parede.

    No vídeo abaixo, acima do número 18 que marca as horas do último sábado (25/06), é possível ver as pernas do jovem e de seu agressor.

    Após o espancamento, Wallace e seu agressor permaneceram no mesmo local até as 18h38min23, quando um carro da Polícia Militar de São Paulo se aproximou pela contramão e estacionou no meio da rua. Os dois PMs desembarcaram do veículo e caminharam na direção onde estava Wallace e seu agressor.

    A câmera de segurança gravou a movimentação policial até as 18h39min57, quando há um salto na imagem, que volta às 18h40min14, já com a tampa do chiqueirinho do carro da Polícia Militar sendo fechado por um PM. Ao lado desse militar estava o homem que agrediu Wallace, segundo os dois amigos dele.

    Às 18h40min28, o agressor de Wallace está cercado por quatro PMs (os dois que chegaram para ajudá-lo no carro da PM e outros dois que seriam da Rocam, grupamento que atua com motos). É possível ver quando o agressor foi cumprimentado por um dos PMs e, na sequência, ele se afastou, acompanhado por uma mulher que vestia blusa branca e calça escura.

    Quando o relógio marcava 18h40min53, os quatro PMs se aproximaram do vidro traseiro do carro militar e observaram a parte do chiqueirinho.

    Os PMs abriram a tampa do compartimento e ficaram observando até que, às 18h41min20, o agressor de Wallace apareceu dirigindo seu veículo Gol, estacionou perto do carro da PM e também desceu, juntando-se ao grupo de PMs fardados.

    Quando o agressor de Wallace ficou ao lado dos quatro militares fardados, a mulher dele atravessou a rua, às 18h41min24, ouviu a conversa do grupo e viu quando o chiqueirinho foi fechado pela segunda vez. Às 18h42min03, a mulher embarcou novamente do Gol do marido, que, com as mãos nos bolsos, continuou a conversar com os militares fardados.

    Desde o sábado (25/06), familiares de Wallace já percorreram hospitais, IMLs (Instituto Médico Legal) e delegacias da Polícia Civil em busca do rapaz, mas nenhuma informação foi encontrada.

    “Isso só aconteceu porque somos pobres”, disse um tio de Wallace, que pediu para não ter seu nome revelado.

    Wallace não tem antecedentes policiais e, de acordo com levantamento no sistema prisional e judiciário de São Paulo, feito junto à SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) e Tribunal de Justiça, ele não está preso nem foi apresentado para participar de audiência de custódia, padrão para prisões ocorridas na cidade de São Paulo.

    Outro lado

    A reportagem fez as seguintes perguntas à Secretaria da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin:

    1 – Onde está Wallace Araújo Souza, portador do RG XX.XXX.XXX-X?

    2 – O que a Corregedoria da PM fez até agora para encontrar Wallace, visto pela última vez por volta das 18h30 do dia 25 de junho de 2016, sendo colocado em um carro da PM?

    3 – Quem são os PMs que abordaram Wallace no sábado? O que os policiais faziam lá? Como foram acionados?

    4 – Os policiais envolvidos no caso continuam atuantes em suas funções profissionais?

    5 – O nome do Wallace foi consultado no Copom?

    6 – Por que a Corregedoria da PM pediu um prazo de 10 dias para que a família volte a buscar informações sobre o Wallace?

    A resposta da Segurança Pública:

    “A SSP informa que o desaparecimento de Wallace Araújo Souza, de 18 anos, é investigado pela 4ª Delegacia de Pessoas Desaparecidas do DHPP e pela Corregedoria da PM. As polícias irão analisar as imagens apresentadas pelo reportagem. A Corregedoria da PM esclarece que o denunciante foi orientado a voltar após 10 dias da denúncia para ser informado sobre o andamento da investigação, que foi iniciada imediatamente. O DHPP informa que irá apurar a conduta da delegada por ter entregue o oficio de solicitação de imagens à família da vítima.”

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