Exército foge 3 vezes da mesma pergunta: polícia sabia de militar infiltrado?

    Respostas enviadas pelo Exército não guardam a mais remota relação com o que foi perguntado

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    Entre 26 de dezembro e 6 de janeiro, a Ponte Jornalismo enviou quatro e-mails ao Centro de Comunicação Social do Exército perguntando se a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo havia atuado em conjunto com o capitão do Exército Willian Pina Botelho na prisão de 21 jovens no Centro Cultural São Paulo, na zona sul da capital, em 4 de setembro.

    A Comunicação Social do Exército deu três respostas. Nenhuma delas guarda a mais remota relação com o que foi perguntado. Acompanhe.

    Ponte – O Exército deu duas versões diferentes sobre a relação do capitão Botelho com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Na primeira versão, o comandante-geral do exército, general Eduardo da Costa Villas Boas, afirmou à Rádio Jovem Pan que “houve uma absoluta interação” do Exército com a SSP no episódio da prisão de 21 jovens no Centro Cultural São Paulo. Dois meses depois, em resposta dirigida a um ofício do deputado federal Ivan Valente (PSOL), o general de divisão Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva afirma que o governo paulista não sabia das ações de Botelho nem teria passado informações à polícia que levaram à prisão dos manifestantes.
    Pergunto:
    Por que o Exército deu duas versões diferentes?
    Em qual delas o general envolvido faltou com a verdade?

    Comunicação Social do Exército – Doutrinariamente, é constante a troca de conhecimento com os Órgãos de Segurança Pública, o que permite a adoção de medidas preventivas e capacidade de antecipação aos acontecimentos. A interação permanente e contínua entre os diversos órgãos de inteligência é condição fundamental para que haja uma atuação oportuna, eficiente e objetiva, gerando o mínimo de danos colaterais para a nossa população. No entanto, a cada operação interagência, legalmente estabelecida, e conforme a sua peculiaridade, os órgãos envolvidos avaliam a necessidade dessa interação, ficando a cargo dos mesmos consolidá-la ou não.

    Ponte – Agradeço a mensagem enviada, mas é preciso observar que a pergunta não foi de longe respondida. O texto enviado por vocês não tinha relação com o que foi perguntado. Nesse caso, reformulo a pergunta. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sabia das atividades desenvolvidas pelo coronel Willian Pina Botelho em 4 de setembro? A prisão dos 21 jovens no CCSP foi fruto de uma atividade conjunta do Exercito com o governo estadual? Sim ou não?

    Exército – As operações interagências são sempre realizadas em um ambiente de sinergia, o que permite conduzir as ações de maneira oportuna, eficiente e em busca dos objetivos comuns, para gerar o mínimo de danos colaterais. Os Órgãos neles envolvidos têm total liberdade para avaliar as necessidades de troca de dados segundo suas razões operacionais.

    Ponte – Obrigado. Mas lamento constatar que, mais uma vez, o Exército tenha preferido passar declarações que não têm relação com a pergunta que fiz:
    A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sabia das atividades desenvolvidas pelo coronel Willian Pina Botelho em 4 de setembro? A prisão dos 21 jovens no CCSP foi fruto de uma atividade conjunta do Exercito com o governo estadual? Sim ou não?
    Agradeceria muito se o Centro de Comunicação Social do Exército conseguisse me dar uma resposta. Até agora, vocês não o fizeram.

    Exército – O Centro de Comunicação Social do Exército entende que todos os questionamentos realizados por esse jornalista já foram respondidos, por intermédio dos e mail anteriores. Todavia, caso tenha a necessidade de levantar outros esclarecimentos, este Centro ratifica a sugestão para o encaminhamento destas demandas à Procuradoria de Justiça Militar, do Estado de São Paulo, para onde foi encaminhada a Sindicância, instaurada pelo Comandante do Comando Militar do Sudeste, a qual apurou todos os fatos e circunstâncias relativas ao assunto em tela.

    Ponte – Até agora vocês não me responderam se a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo sabia da atuação do capitão Willian Pina Botelho e se a prisão dos 21 jovens no Centro Cultural São Paulo foi fruto de uma operação conjunta com a SSP.
    Continuo no aguardo de uma resposta honesta e transparente do Exército Brasileiro. Espero que não seja pedir demais.

    Exército – … [ainda não respondeu]

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