Família denuncia que prisão de jovem é represália por morte de policial Civil

    Morador do Jardim Macedônia, zona sul de SP, estava na casa do tio quando foi abordado, segundo sua mãe; em audiência de custódia, juíza estranhou machucados e pediu exame

    Local onde o policial civil morreu em confronto no Jardim Macedônia, zona sul de SP | Foto: Arquivo pessoal

    Marcos*, 29 anos, estava na casa do tio no Jardim Macedônia, zona sul de São Paulo, quando um policial o abordou. Era o dia 19 de março. “Você tem passagem?”. Preso por tráfico em 2017, ele confirmou e também disse que vai ao fórum a cada dois meses para manter sua situação dentro das regras. Foi o suficiente para o jovem ser espancado, torturado e acusado de tráfico de drogas em represália ao homicídio de um policial civil, segundo denuncia sua família.

    A mãe do rapaz, Janete* conta que ouviu o tiroteio no bairro logo pela manhã, ação da Polícia Civil que terminou com a morte do agente Wesley Benites, 35 anos – a morte gerou comoção entre os agentes da corporação. O barulho aconteceu por volta de 8h. Ela acordou com o som, levantou, fez café e avisou os filhos de que “não era para saírem, teve tiroteio”. Porém, conta que Marcos quis sair depois de umas horas para ir à casa do tio, 20 metros distante do espaço onde vivem.

    “Foi quando pegaram ele. Perguntaram se já tinha passagem e caíram matando em cima dele. Desmaiaram meu filho de tanto bater, depois o acordaram com água no rosto e bateram de novo”, conta a mãe. Ela foi até a delegacia atrás do filho mais velho. Nesse momento, ela conta que outros policiais foram até sua casa.

    “Eles pegaram e perguntaram se meu filho menor, de 14, tinha passagem. Apontaram a arma no rosto dele e tiraram foto. Ele estava com meu neto de 5 anos e meu irmão que ficou cuidando deles enquanto eu estava atrás do Marcos”, explica Janete, dizendo que todos foram ameaçados. “Está todo mundo aqui assustado. Falaram que se não entregassem ‘o pessoal que pegou o policial’, que iriam fazer igual, eliminar a família inteira”, continua.

    Marcos passou por audiência de custódia. Segundo o documento, os policiais que o detiveram o acusam de estar na rua próximo a um beco e, na “iminência de ser abordado”, ter fugido e resistido à prisão quando foi capturado. Esse seria o motivo para ele estar ferido, de acordo com a versão dada por um agente da Polícia Civil à juíza do caso.

    Por conta dos ferimentos, ela determinou que Marcos passasse por um exame de corpo de delito no IML “por ele estar muito machucado”, conforme explica a mãe. Contudo, não o liberou da acusação por tráfico de drogas e decidiu que ele vai responder em prisão preventiva. Ele está no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros.

    Em outubro de 2017, Marcos passou por audiência de custódia também por envolvimento com o tráfico de drogas. Responde em liberdade por este caso até hoje, o que o fazia ir a cada dois meses no fórum para assinar a cautelar. Até o momento, não conseguiu um emprego “por preconceito”, conta Janete.

    A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos, e a Polícia Civil sobre a prisão e as supostas agressões contra Marcos. Em nota, a pasta informou que “policiais do 36º DP (Vila Mariana) realizavam diligências quando viram o suspeito mencionado saindo de uma residência onde foi localizada grande quantidade de drogas, sendo o mesmo indiciado por tráfico de entorpecentes. Ele também foi visto por um dos agentes que participava da ação contra o tráfico na região do Capão Redondo, que vitimou o policial Wesley, juntamente com os demais suspeitos. A autoridade policial do 47º DP (Capão Redondo) solicitou exame residuográfico ao suspeito para apurar se ele teve envolvimento direto na morte do policial”, sustenta a pasta.

    *Os nomes foram trocados a pedido das vítimas por medo de represália

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