Familiares de vítimas de violência policial pedem agilidade nas investigações

    Em protesto no centro do Rio de Janeiro, manifestantes exigem que o Ministério Público cumpra o dever de investigar e pedem agilidade em processos de homicídios praticados por policiais

    Um grupo de familiares de vítimas de violência de Estado se reuniu ontem (19/4) na frente do MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), no centro da capital fluminense, para pedir “o fim da inércia do órgão na investigação de homicídios praticados por policiais” nas favelas do Rio, conforme declaram em documento distribuído no ato.

    Uma das principais reivindicações do movimento é a de que o GAESP (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do MP) tenha autonomia nas investigações de homicídios praticados por policiais. Dessa forma, haverá maior agilidade no andamento dos processos.

    “É dever do Ministério Público fiscalizar o que acontece nas delegacias, o que acontece quando os casos são arquivados”, disse Deize Carvalho, mãe de Andreu Luiz da Silva Carvalho, morto sob tortura nas dependências do Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) em 2008, aos 17 anos. “Infelizmente os familiares têm que provar para o Poder Judiciário a violência sofrida”, criticou.

    Em ato, familiares levaram cartazes pedindo justiça e celeridade nas investigações (Crédito: Luiza Sansão/Ponte)

    Dezenas de mulheres que tiveram seus filhos assassinados por policiais em favelas do Rio nos últimos anos participaram do ato. Entre elas:

    – Monica Cunha, mãe de Rafael da Silva Cunha, morto por um policial civil aos 20 anos de idade, no dia 5 de dezembro de 2006, no Riachuelo, Zona Norte do Rio. Ela é fundadora e coordenadora do Movimento Moleque, que reúne mães de vítimas de violações em instituições socioeducativas.

    – Maria Dalva Correa da Silva, mãe de Thiago da Costa Correa da Silva, mecânico e estudante assassinado em 2003, aos 19 anos, por policiais militares perto de sua casa, no Morro do Borel, favela na Tijuca, Zona Norte do Rio, no episódio ficou conhecido como Chacina do Borel.

    – Fátima dos Santos Pinho, mãe de Paulo Roberto Pinho, espancado e morto por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) de Manguinhos, Zona Norte do Rio, em 2013.

    – Ana Paula de Oliveira, mãe de Johnatha de Oliveira Lima, morto aos 19 anos com um tiro nas costas por um policial da UPP de Manguinhos, em maio de 2014.

    – Tereza Maria de Jesus, mãe de Eduardo de Jesus, morto por PMs com um tiro na cabeça na porta de casa, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, em 2015. https://ponte.org/justica-do-rio-arquiva-processo-contra-pms-acusados-de-matar-crianca-em-favela/

    – Lucia Helena Camilo Neri, mãe de Rafael Neri, entregador de pizza morto aos 23 anos por PMs do Bope (Batalhão de Operações Especiais), no Morro da Coroa, favela no bairro de Santa Teresa, região central do Rio, em 28 de junho de 2015.

    Também bradava por Justiça Gilberto Lacerda, pai de Thiago Guimarães, mototaxista morto por um policial junto com o colega Jorge Lucas Paes, na Pavuna, Zona Norte do Rio, em 29 de outubro de 2015, com o mesmo disparo de fuzil, que atravessou os corpos dos dois jovens.

    Familiares de vítimas da violência policial em protesto em frente ao prédio do MP (Crédito: Luiza Sansão/Ponte)

    Reunião no MP

    O ato resultou em uma reunião com representantes do MP à tarde, na qual foi discutida a necessidade de responsabilização dos policiais que praticam os crimes e a questão da morosidade dos processos.

    Durante o encontro, o procurador-geral de Justiça Eduardo Gussem disse aos familiares que irá “perseguir os responsáveis e as autoridades que foram negligentes e tomar as medidas cabíveis”.

    Um grupo de 44 familiares de vítimas também foi recebido pela procuradora Viviane Tavares, pela promotora Eliane de Lima Pereira e pelo promotor Luiz Fernando Rabelo, subcoordenador do GAESP, que explicaram ao grupo sobre o papel da instituição na investigação dos casos e se comprometeram a receber os familiares, nas próximas semanas, para analisar seus casos individualmente.

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