Favela Sounds: um festival de protagonismo periférico em Brasília (DF)

    Brasília recebe, pela quarta vez, festival que traz cultura, debate, formação e educação para jovens de quebrada; o evento conta com shows gratuitos de Tássia Reis, Majur e Black Alien neste fim de semana

    O festival acontece desde 2016 | Foto: Divulgação

    Foi com a bola nos pés e os pés no gramado que Mané Garrincha driblou e desaforou a vida. Em 1974, o Estádio Nacional de Brasília foi inaugurado com o nome de um dos maiores futebolistas brasileiros. Neste ano, entre os dias 11 e 17 de novembro, a cultura periférica invade os gramados do estádio, dribla o papel de coadjuvante e protagoniza o seu próprio festival: o Favela Sounds. 

    Quando Amanda Bittar e Guilherme Tavares estudavam Comunicação Social na UNB (Universidade de Brasília), nasceu o que seria o maior projeto da vida deles. Crias do Guará, região administrativa de Brasília, a dupla resolveu tirar o projeto do papel e, em 2016, o Favela Sounds ganhou sua primeira edição. 

    Quatro etapas compõem o festival, que leva cultura, formação, discussão, educação e festa para os jovens da quebrada: Ralação (com oficinas de formação profissional), Papo Reto (bate-papo em escolas e no estádio sobre temas sociais), Tamo Junto (ações em unidades do Sistema Socioeducativo do DF) e O Baile (dois dias de shows). As primeiras três etapas rolaram de 11 a 14 de novembro, que tem a sua última etapa nos dias 16 e 17.

    “A ideia é que elas [oficinas] sejam formações, para quem tem interesse em trabalhar no universo da cultura”, conta Amanda à Ponte. “A gente sempre busca para que essas oficinas aconteçam em regiões administrativas de menor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e de menor poder aquisitivo também”, completa. 

    Majur (esq.), Black Alien (centro) e Tássia Reais (dir.) fazem parte da programação dos últimos dias de shows | Foto: Divulgação

    Na terceira etapa do Favela Sounds, jovens privados da liberdade em unidades do Sistema Socioeducativo do Distrito Federal – sistema para menores infratores -, recebem a rapper e pedagoga Vera Verônica para uma conversa sobre futuro, projetos e a vida em liberdade.

    “Que a gente consiga levar um pouco de alento mesmo, conforto para esses jovens. Como vai ser quando você sair? Quais são os seus planos? Levar um pouco de rap, de arte. Muitos deles pedem o microfone para cantar”, conta Amanda.

    Entre as oficinas, discotecagem, literatura negra e educação financeira foram alguns assuntos. Além das palestras de Ana Paula Paulino, produtora artistas e empresária de nomes como Mc Carol, Heavy Baile e Bronca, da rapper e professora Preta Rara e do muralista e artista plástico inglês Dreph.

    Ano passado, o festival contou com a participação de 30 mil pessoas, de acordo com a organização | Foto: Divulgação

    Segundo Amanda, quando o festival traz o protagonismo para as chamadas minorias – que são, na verdade, a maioria no Brasil – não é para essas pessoas falarem só sobre o fato de participarem de um grupo minoritário. O negro não fala só sobre racismo. LGBT+ não falam só sobre LGBTfobia. Favelado não fala só sobre favela.

    “A gente também tem que falar de amor, de vivências enquanto ser humano e não quanto um ser humano negro, um ser humano gay e um ser humano periférico”, pontua Amanda, que ressalta a presente pluralidade no Favela Sounds. 

    Os coordenadores gerais Guilherme Tavares (dir.) e Amanda Bittar (esq.) | Foto: Divulgação

    O projeto, que começou no papel, dentro da UNB, não perdeu o ideal do primeiro escopo: um ponto de encontro para a quebrada. Por isso, todas as atividades são gratuitas e o festival ainda disponibiliza ônibus para quem quer participar e não tem a grana do transporte. E, assim, durante as quatro edições, o público não só participou como também abraçou a ideia. De acordo com Amanda, ano passado o evento contou com cerca de 30 mil pessoas. 

    Neste ano, a cultura periférica invade o gramado nos dias 16 e 17 de novembro, sábado e domingo, respectivamente. E conta com nomes como Majur, Tássia Reis, Black Alien e a banda de moçambicana Gato Preto. 

    Confira quem vai tocar no Favela Sounds:

    Birosca convida Favela Sounds – Festa de abertura do festival

    15 de novembro, na Birosca do Conic, às 22h, com Djam Neguin (Cabo Verde), DJ Donna (DF), Felipe Pomar – TrapFunk&Alívio (BA) e Tyrone (DF).

    Cortesias disponíveis no Sympla para entrada até às 23h.

    O Baile

    Os shows serão nos dias 16 e 17 de novembro, no espaço Arena Lounge do Estádio Nacional Mané Garrincha. A entrada é gratuita, com emissão de ingressos pelo Sympla (após às 21h, a entrada será realizada mediante doação de 1 kg de alimento).

    16 de novembro – sábado: Afoxé Ogum Pá (DF), Doralyce (PE), Amaro (DF), Majur (BA), Alt Niss (SP), Gato Preto (Moçambique/Alemanha), Enme Paixão (MA), Tássia Reis (SP), DJ Byano (RJ), Shevchenko & Elloco (PE), DJ Tyrone (DF).

    17 de novembro – domingo: 7 na Roda (DF), Prethaís (DF), Tuyo (PR), Djam Neguin (Cabo Verde), Vandal (BA), TrapFunk&Alívio (BA), A Dama do Pagode (BA), DJ Donna (DF), Black Alien (RJ), Iasmin Turbininha (RJ).

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas