Fuminho, do PCC, parceiro do Marcola, é extraditado para Brasil em avião da FAB

    Preso em Moçambique, na África, no último dia 13, Fuminho chegou ao país neste domingo (19/4); ele foi encaminhado para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná

    Fuminho é extraditado para o Brasil | Foto: Arquivo Ponte

    O megatraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, 49 anos, preso no último dia 13 em Moçambique, na África, foi extraditado hoje para o Brasil.

    Ele embarcou 1h30 (horário local) da madrugada deste domingo (19/4) no aeroporto de Maputo, capital moçambicana, em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e estava algemado e com correntes nos pés.

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    Considerado o maior traficante de cocaína do Brasil e o principal fornecedor de drogas para o PCC (Primeiro Comando da Capital), Fuminho acabou preso em um hotel de luxo quando estava com dois nigerianos.

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    Há suspeitas de que os nigerianos não eram amigos de Fuminho, mas homens infiltrados pela DEA (Drug Enforcement Administration), a Polícia Federal dos Estados Unidos, responsável pela prisão do brasileiro.

    Fuminho foi levado para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, por volta das 14h deste domingo. Ele deve ficar lá provisoriamente e depois será levado para outro presídio federal: Brasília (DF), Porto Velho (RO), Mossoró (RN) ou Campo Grande (MS).

    Fuminho estava foragido desde janeiro de 1999, quando escapou da Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte de São Paulo, junto com Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC.

    O advogado de Fuminho, Eduardo Dias Durante, contratou dois escritórios de advocacia para auxiliá-lo na defesa de seu cliente em Moçambique. Um deles é ligado à Sara Mandela, filha do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que acompanhou todo o processo desde a prisão de Fuminho até a extradição dele.

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    Em Maputo, Fuminho ficou preso em uma cela monitorada por diversas câmeras de segurança. Ele permaneceu o tempo todo vigiado por agentes da DEA.

    Os policiais norte-americanos caçavam Fuminho desde 2014, período em que ele morou na Flórida, nos EUA, com o parceiro do PCC Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, 42 anos. Ambos escaparam de um cerco e conseguiram fugir para o Panamá.

    No Brasil há dois mandados de prisão contra Fuminho. Um deles foi expedido pela Justiça do Ceará, em fevereiro de 2018. Ele foi acusado de comandar os assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.

    Ambos eram homens fortes do PCC, apenas abaixo de Marcola e foram executados sob a acusação de desviar dinheiro da facção criminosa. Os dois adquiriram imóveis de luxo no valor de R$ 8 milhões e veículos importados avaliados em R$ 2 milhões no Ceará.

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    O outro mandado de prisão refere-se a uma ocorrência de tráfico de drogas. Fuminho foi acusado pela Polícia Federal de guardar ao menos 18 armas de grosso calibre, como fuzis e submetralhadoras, e 470 kg de cocaína em um sítio em Juquitiba, na Grande São Paulo.

    A droga e o armamento estavam escondidos em um bunker, um poço com mais de 30 metros de profundidade que contava até com um elevador hidráulico.

    Além de Fuminho, foram acusados pelo crime Antonio Farias da Costa, Charles do Reis Araújo, Dirnei de Jesus Ramos, e Vanderlei José Ramos e Ailton José Oliveira, todos considerados megatraficantes.

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    Dirnei, Charles e Ailton foram condenados a 21 anos de prisão. Charles foi apontado como o dono do sítio de Juquitiba. Antonio recebeu uma pena de 24 anos e Vanderlei de 25 anos.

    A Polícia Federal monitorava Fuminho há meses naquela época. Agentes o seguiram e o filmaram em diversas ocasiões, como na Favela Heliópolis, zona sul da cidade de SP, na Favela Pantanal, zona leste, e num posto de gasolina na região de Capivari, interior de São Paulo.

    Os agentes federais já tinham montado um plano para prender Fuminho e sua quadrilha, mas policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), invadiram o sítio de Juquitiba em março de 2103 e o bando conseguiu fugir.

    A Rota alegou na época que havia recebido denúncia anônima sobre a existência do sítio, das armas e da droga apreendidos. Porém, a invasão ocorreu graças às escutas telefônicas feitas com autorização judicial por policiais militares do 18º Batalhão do Interior, em Presidente Prudente.

    Segundo o advogado Eduardo Dias Durante, não há nada que comprove a participação de Fuminho com o tráfico de drogas e com o envolvimento dos assassinatos de Gegê do Mangue e de Paca.

    Caso Fuminho seja mandado para a Penitenciária de Brasília, ele ficará mais perto de Marcola e de outros homens da cúpula do PCC, como Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pachedo de Andrade, o Vida Loka, Anderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, e Paulo Cesar Souza do Nascimento Júnior, o Neblina.

    Histórico de Fuminho

    Desses líderes do PCC, Fuminho cumpriu pena somente com Marcola, na Casa de Detenção do Carandiru. Esse presídio, palco do massacre de 111 preso pela PM em outubro de 1992, foi a “principal escola, a faculdade do crime” para Fuminho.

    Ele foi preso pela primeira vez em 9 de abril de 1990, por uma simples contravenção penal. Foi condenado a pagar uma multa equivalente a 10 dias do salário mínimo da época.

    Em 3 de julho de 1991 foi preso novamente, dessa vez por roubo, e pisou pela primeira vez na Casa de Detenção. Acabou condenado a quatro anos. Sobreviveu ao maior massacre da história prisional do país.

    Em maio de 1993, três meses antes da fundação do PCC, Fuminho foi mandado para o regime semiaberto em Bauru, no interior paulista. Ele fugiu em 4 de janeiro de 1994.

    Nas ruas voltou a roubar. Por um assalto realizado em dezembro de 1993 ele foi condenado a seis anos e oito meses. Em maio de 1998 foi preso e condenado a quatro anos e oito meses por tráfico.

    Em janeiro do ano seguinte, Fuminho escapou da Detenção com Marcola e não parou mais de traficar drogas. Ele é apontado pela Polícia Federal e Ministério Público Estadual como responsável pela exportação de ao menos uma tonelada de cocaína para a Europa por mês.

    Agentes federais já interceptaram vários carregamentos de droga atribuídos a Fuminho, com apreensões inclusive de aeronaves. O advogado Eduardo Dias Durante ressalta que seu cliente jamais foi um narcotraficante.

    Reportagem atualizada às 15h do dia 19/4 para inclusão da atualização do presídio que Fuminho foi levado.

    Reportagem atualizada às 17h do dia 19/4 para inclusão do vídeo do desembarque no Brasil.

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