Gaviões da Fiel afirma que suposta ligação entre torcidas e o PCC não existe

    Em nota, torcida corintiana diz suposição é ‘uma desleal tentativa de desmoralizar’ os esforços para a paz entre organizadas de SP

    Torcida Gaviões da Fiel afirma que notícias da investigação que vai apurar suposto envolvimento de organizadas com PCC são tentativa de desmoralizar uniformizadas - Foto: Bruno Rolo/Facebook/Gaviões da Fiel
    Torcida Gaviões da Fiel afirma que notícias da investigação que vai apurar suposto envolvimento de organizadas com PCC são tentativa de desmoralizar uniformizadas – Foto: Bruno Rolo/Facebook/Gaviões da Fiel

    Depois de a Polícia Civil suspeitar de uma ligação entre as torcidas organizadas de São Paulo e a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) anunciou nesta quinta-feira (8) que a Drade (Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva) abriu um inquérito para apurar o caso. Quem estará à frente das investigações é a delegada Margarete Barreto.

    As principais torcidas organizadas dos quatro grandes clubes de São Paulo — Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo — procuraram a Polícia Civil na última terça-feira (6) afirmando que selaram um pacto de paz com o objetivo de acabar com a violência no futebol. Os líderes das torcidas disseram que já conversavam havia três meses sobre o acordo e que, após a tragédia com o avião da Chapecoense, decidiram firmar a paz entre todos os que frequentam as arquibancadas.

    O fato de mídias jornalísticas divulgarem a suspeita e a investigação da Polícia Civil sobre o assunto fez com que a torcida Gaviões da Fiel divulgasse uma nota, na tarde desta quinta-feira (8), afirmando que “qualquer associação das recentes ações em prol da paz nos estádios com ‘mandos criminosos’, não passam de uma desleal tentativa de desmoralizar o que estamos nos esforçando para fortalecer entre as torcidas organizadas do nosso Estado“.

    De acordo com a nota oficial da principal torcida organizada do Corinthians, “os diretores de diferentes torcidas já mantêm amplo e direto diálogo, tanto entre si quanto com autoridades e Poder Público, com o intuito de não apenas diminuir casos de violência, como também resgatar a verdadeira festa nos estádios”.

    Conforme a Ponte Jornalismo noticiou, a delegada Margarete Barreto afirmou que “o estabelecimento do diálogo não tem nada a ver com o que se está tentando… até denegrir a imagem de um posicionamento de paz entre as torcidas. Existe crime organizado em várias organizações da sociedade. Claro que dentro da torcida também existe, mas não acredito na força de mandar ou desmandar nas torcidas”.

    “Eles sinalizaram que querem voltar a assistir partidas de futebol, querem estar no espetáculo, querem fazer a festa. Isso é um início de tratativas. A única coisa que eu fiz foi abrir uma porta para que eles falassem e colocassem o plano de paz que eles têm”, disse. “As prisões não vão parar porque eles estão tentando fazer tratativas de paz. As prisões de pessoas que cometeram crimes continuam. Nós não estamos dando uma água para a criminalidade. Muito pelo contrário”, explicou a delegada do Drade.

    Segundo ela, um dia antes da reunião entre as uniformizadas e a Polícia Civil, ou seja, na segunda-feira (5), a Drade cumpriu dois mandados de prisão preventiva. “Os crimes serão investigados com maior rigor ainda. Porque existe a credibilidade do departamento que não pode ser alcançada  com uma conversa dessa”, complementou.

    De acordo com a diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) da Polícia Civil, Elisabete Sato, os presidentes das quatro grandes torcidas afirmaram querer o fim da intolerância no futebol. Por isso, ofereceram um pacto, com o slogan “mais festa, nenhuma violência”, para que eles possam assistir aos clássicos com as torcidas rivais no estádio. Até a quarta-feira (7), Sato negava que a polícia investigaria a ligação entre o PCC e as uniformizadas.

    Desde abril deste ano, os clássicos ocorridos em São Paulo tiveram torcida única. A medida havia sido pedida pelo MP (Ministério Público) à FPF (Federação Paulista de Futebol) e foi anunciada com aval da SSP (Secretaria da Segurança Pública) após a morte de um torcedor em São Miguel Paulista, na zona leste, depois de um jogo entre Palmeiras e Corinthians, válido pelo Campeonato Paulista de 2016.

    No último sábado (4), as quatro torcidas dos clubes de São Paulo se uniram, em frente ao estádio do Pacaembu, em solidariedade às vítimas da tragédia que matou 71 pessoas em um voo que levava a equipe da Chapecoense a Medellín, na Colômbia. Para a Polícia Civil, há a hipótese de que as organizadas estão aproveitando a onda de “fair play” para terem um voto de confiança da sociedade e dos órgãos de segurança pública.

    Mas a polícia também investiga a hipótese de o acordo de paz ter sido selado após um “salve”, ou seja, uma determinação que surgiu da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde está presa a cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Desde a última segunda-feira (5), quatro áudios de conversas de integrantes das torcidas circulam por grupos de WhatsApp, incluindo os restritos a policiais, em que os rapazes afirmam terem recebido ameaças do crime organizado, caso haja brigas e mortes entre torcidas.

    Um investigador do DHPP, da Polícia Civil, que pediu para não ser identificado, confirmou a veracidade dos áudios. “O PCC deu a ordem para acabar com as brigas. O que a gente investiga é qual o interesse que a facção tem com isso, ou seja, no que estaria interferindo as brigas com o negócio do PCC”, disse. “A Polícia Civil identificou como reais as conversas. Mas detalhes podem atrapalhar investigações maiores”, complementou.

    “Quem deu o salve foi o maninho Marcola. Acabou a briga, mano. Acabou a guerra de torcida. Se tiver… Quem vai [morrer] é os líderes (sic) aí, ó! Os caras da [zona] norte tavam falando aí. Acabou, mano. E, se matar, quem vai morrer é os líderes (sic)”, afirma um dos torcedores.

    “Tô vindo da subsede agora. Os caras pediram uma reunião, né?! Esses bagulhos de torcida aí… Segundo eles, se reuniram com a ND lá, né, o Baby, o Batata, o Negão, e receberam ordem do Marcola… De que não é pra ter briga nenhuma de torcida. Nem morte, nem briga, nem nada”, diz outro torcedor.

    “O cara que brigar, vai apanhar; e o cara que matar, vai morrer. É ordem do PCC, entendeu? As quatro torcidas de São Paulo. Interior… Onde for, não pode ter briga, nem morte, nem nada. Ordem do Marcola. O bicho vai pegar, hein?!”, afirma outro torcedor.

    “Acabou. Acabou, irmão. Pelo o que eu fiquei sabendo aí, a ideia é quente. Acabou as ideia (sic) de briga. Quem arrumar confusão aí, vai azedar. É sério mesmo. Tô sabendo aí. Tá todo mundo já falando essa caminhada aí. Entendeu? Azedou o molho”, relata em outro áudio o terceiro torcedor.

    O quarto torcedor afirma até vai deixar a organizada após o “salve” do PCC. “O bagulho acabou as brigas, parceiro. É nós que é a frente do barato (sic), devido a [zona] norte aí, vai fazer a reunião. Isso cabe para todas as quebradas. Não tô brincando. É referente o comando. Pôs a pedra em cima do bagulho, tá ligado?”, diz.

    “Se brigou na zona norte, vai berrar pra nós que é liderança (sic). Certo? Matou um moleque que é inimigo, nós vai morrer também (sic), tio. Tá vendo esses bagulhos no estádio, todo mundo junto? Quando eu vi isso, eu pulei fora. Acabou. Não tem mais briga, não vai ter. Quem tiver, segura o bagulho. Infelizmente, aconteceu o que não era pra acontecer. Se ver os inimigos, se marcar, tem que ir pro jogo até junto, que nem tá aí, ó. Eu mesmo, pra mim, não posso ficar nessa fita, não, porque é o seguinte: o barato é torcida uniformizada. Já que acabou, acabou. Tô fora”, pontuou.

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