Governo de SP aumenta em 136% os gastos com armamentos

    Até 12/10, gastos consumiram R$ 97 milhões, contra R$ 41 milhões em todo o ano passado. Compra de munições impulsionou as despesas

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    Tropa de Choque em ação na zona oeste de São Paulo. Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Os gastos do governo Geraldo Alckmin (PSDB) com armamentos neste ano já superam em 136% os valores utilizados em todo o ano passado. Segundo o Portal da Transparência de SP, entre 1º de janeiro e 12 de outubro de 2016 o governo gastou R$ 97.995.842,35 em materiais bélicos, explosivos e munições. Em 2015, o gasto foi de R$ 41.475.350,90.

    No ano passado, o governo comprou materiais que não foram adquiridos neste ano, como pistola, espingarda, submetralhadora, lançador de munição química e arma de imobilização, entre outros. Mesmo assim, os números apontam uma explosão nos gastos com armamentos, puxado pelas despesas com cartuchos balísticos, que consumiram R$ 42,5 milhões.

    Além disso, o governo Alckmin gastou R$ 11,1 milhões em fuzis, R$ 3,4 milhões em granadas, R$ 746 mil em projéteis e R$ 582 mil em cartuchos com projéteis de borracha. Em capacetes, escudos e coletes balísticos, o governo gastou mais de R$ 39 milhões. Os escudos anti-tumulto, usados em manifestações, custaram R$ 161 mil para o Estado. O governo ainda desembolsou R$ 135 mil em algemas de punho, R$ 17 mil em algemas de tornozelo, R$ 977 em bastões tonfa e R$ 752 em cassetetes. Para a limpeza dos armamentos, com produtos, kits e escovas, o governo paulista utilizou mais de R$ 40 mil. Gastou, também, R$ 6,2 mil em peça de reposição para espingarda calibre 12 e R$ 4 mil em peça de reposição para revólver Taurus calibre 38. Por fim, usou R$ 12,6 mil em capa para colete balístico.

    Em 2015, os principais gastos do governo em materiais bélicos, explosivos e munições foram com pistolas, que consumiram R$ 11,7 milhões. Em seguida, ficaram os cartuchos balísticos, com R$ 7,5 milhões.

    “Falta prevenção”

    Para o advogado Henrique Apolinário, assessor do programa Justiça da ONG Conectas Direitos Humanos, os gastos com armamentos “são mais do que desnecessários, são contraproducentes”. Ele acredita que “a diminuição dos índices de criminalidade se dá com atenção especial a grupos vulneráveis e certeza na solução de crimes violentos”.

    Apolinário conta que o dinheiro gasto com armamentos deveria ser investido em outras formas de diminuir a criminalidade. “O policiamento comunitário e as câmeras corporais não são implementados por alegação de falta de recursos”, disse. Segundo ele, o Estado não desenvolve “uma lógica de prevenção do crime, com medidas de inteligência destinadas ao solucionamento e à desarticulação de grupos criminosos”.

    Para Apolinário, é difícil analisar o valor gasto pelo governo de São Paulo com armamentos porque não existe um controle “sério e transparente” do uso de munições. “O que se sabe é que o número de feridos e mortos pela polícia vem aumentado paulatinamente”, apontou.

    Outro lado

    Procurada pela reportagem da Ponte Jornalismo, a CDN Comunicação, empresa contratada pelo governo para o serviço de assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, comandada por Mágino Alves Barbosa Filho, não respondeu às seguintes questões:

    Por que o Governo de São Paulo mais que dobrou o valor gasto em armas, bombas, equipamentos para proteção de policiais, manutenção e acessórios de armamentos em 2016, em comparação ao ano de 2015?

    É necessário gastar todo esse valor com esses materiais?

    A SSP-SP consegue provar, em números, os resultados desses investimentos?

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