Governo de SP paga R$ 25 mil a quem denunciou um dos suspeitos de matar ambulante

    Secretaria da Segurança Pública havia prometido R$ 50 mil por informações que levassem aos criminosos, mas determinou na segunda-feira (16/01) o pagamento da metade alegando que a denúncia resultou na prisão de apenas um dos acusados

    Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21, acusados de matar Luiz Carlos Ruas, de 54, em estação de metrô em SP – Foto: Divulgação

    O governo do Estado de São Paulo vai pagar R$ 25 mil a quem denunciou um dos assassinos confessos do ambulante Luiz Carlos Ruas, de 54 anos: os primos Alípio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21. O vendedor foi morto na noite de Natal, em 2016, dentro da Estação Pedro II do Metrô, ao tentar salvar uma travesti e um morador em situação de rua homossexual que haviam sido agredidos pela dupla anteriormente.

    Dois dias após o crime, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) anunciou que ofereceria uma recompensa de R$ 50 mil por informações que levassem à prisão dos acusados. Ricardo Martins do Nascimento foi preso na noite do dia 27 de dezembro, na cidade de Itupeva, a 72 km de distância de São Paulo. Um dia depois, Alípio Rogério dos Santos foi detido em Itaquera, Zona Leste da capital, após denúncia anônima.

    Secretário determinou pagamento de metade do prometido, de acordo com resolução publicada no Diário Oficial – Foto: Reprodução

    De acordo com resolução publicada nesta quarta-feira (18/01) no DOE (Diário Oficial do Estado), o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho “resolve arbitrar em R$ 25 mil o valor a ser pago àquele que indicou o autor do homicídio cometido contra Luiz Carlos Ruas”, ou seja, metade do prometido no dia 27 de dezembro do ano passado. Quem denunciou os primos será agraciado pelo Programa Estadual de Recompensa.

    Luiz Carlos Ruas, conhecido como Índio, foi espancado por cerca de dois minutos pelos criminosos dentro da estação, que fica na região central da cidade e que é a principal ligação por transporte público entre as Zonas Leste e Oeste. Nenhum segurança do Metrô interveio, de acordo com as imagens das câmeras de segurança do circuito interno do próprio Metrô.

    Em nota, o Metrô afirmou, à época, que “por volta das 20h53 do dia 25, depois de prestarem os primeiros socorros, agentes de segurança conduziram para o Pronto-Socorro Vergueiro um usuário que foi agredido na área livre do mezanino da estação Pedro II. O Metrô colabora com a Autoridade Policial para o esclarecimento do crime.”

    No entanto, o Metrô foi condenado pela Justiça de São Paulo a pagar uma indenização mensal, no valor de R$ 2.232,54, à Maria de Souza Santos, esposa do vendedor ambulante. O valor foi calculado pelo juiz André Salvador Augusto Bezerra com base nos vencimentos de R$ 26,790,50 apresentados por Ruas em seu último Imposto de Renda declarado. O juiz acolheu o pedido do advogado da viúva, Augusto Arruda Botelho, que alegou que, sem a renda de Ruas, a subsistência da família ficará comprometida.

    Ambulante Luíz Carlos Ruas tinha 54 anos e foi morto na noite de Natal dentro do Metrô de SP – Foto: Arquivo Pessoal

    Para o advogado da família de Ruas, o linchamento teve caráter homofóbico, já que minutos antes a dupla perseguiu um gay e uma travesti nos arredores da estação. “Eu tenho bastante cuidado ao fazer acusações através de imagens. Foi uma agressão absolutamente descabida, covarde. Segundo relato da investigação, um crime com caráter homofóbico. Um crime que tem que ser severamente punido”, disse à reportagem.

    Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que “o pagamento de recompensa para o denunciante que contribuísse com informações para a prisão dos dois autores do homicídio de Luiz Carlos Ruas era de até 50 mil reais. A denúncia contribuiu para a prisão de um dos autores, por isso, o valor pago e publicado no Diário Oficial desta quarta-feira (18), foi de 25 mil reais.”

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