Guardas municipais matam mais um adolescente na região metropolitana de SP

    Adolescente de 15 anos foi morto após uma sequência de dois assaltos e uma tentativa de fuga. Outros três foram apreendidos

    Matheus da Silva Wilson, de 15 anos
    Matheus da Silva Wilson, de 15 anos

    Matheus da Silva Wilson, de 15 anos, foi morto na manhã da última terça-feira (12) depois de tentar assaltar dois GCMs (Guardas Civis Municipais) de Diadema, no ABC Paulista. É o segundo adolescente morto por guardas municipais na região metropolitana de São Paulo em menos de um mês. O caso teve início às 5h50 da manhã, na rua Solimões, no bairro Campanário, quando quatro adolescentes, entre eles Matheus, roubaram um veículo Fox.

    Depois de terem roubado o carro, os quatro ainda roubaram uma bolsa e um celular. Foi então, que na fuga, ao passarem pela avenida Prestes Maia, tentaram assaltar dois Guardas Civis Metropolitanos, segundo a GCM de Diadema. Os guardas reagiram no momento em que os adolescentes anunciaram o assalto, ainda segundo a GCM. A rodovia dos Imigrantes foi a saída de fuga para os adolescentes. Lá, teria havido a fuga e uma troca de tiros, onde Matheus foi baleado e morto.

    Segundo Olímpio Dias, Inspetor Chefe de Comunicação da GCM de Diadema, a PM (Polícia Militar) foi acionada e, em seguida, prendeu os outros três menores que participaram da tentativa de assalto aos GCMs. O caso foi registrado na 97º DP (Distrito Policial), no Parque Água Funda.

    Em nota, a GCM afirmou: “Os GCMs E.S.S. e A.L.C. estavam em um carro a caminho do trabalho quando foram abordados por veículo ocupado por quatro elementos que queriam se apoderar do automóvel onde estavam os GCMs. Uma moto com dois suspeitos dava retaguarda aos criminosos. Houve troca de tiros e um dos elementos foi morto. Um dos GCMs levou um tiro de raspão na perna”.

    Caso semelhante

    Waldik Gabriel Silva Chagas, de 11 anos, foi morto com um tiro na nuca, na manhã do último dia 26, na Cidade Tiradentes, extremo leste da capital paulista, também por um guarda municipal. O GCM Caio Muratori, que atirou contra o menino, foi indiciado por homicídio culposo. Ele foi liberado, após pagar fiança. Segundo a prefeitura, Caio e os outros dois GCMs que estavam na perseguição ficarão afastados de suas funções até que se esclareçam os fatos.

    Segundo o histórico do BO (Boletim de Ocorrência), uma viatura da GCM perseguiu o Chevette prata em que Waldik estava. Os guardas afirmaram que os suspeitos atiraram contra eles, mas foi constatado pela equipe pericial apenas um disparo, de fora para dentro do veículo, sendo que os vidros das portas estavam fechados. E não foi encontrada nenhuma arma.

    A perseguição acabou na rua Regresso Feliz, 131, próximo de onde ocorria uma quermesse. Os frequentadores da festa cobraram os GCMs para que eles socorressem a criança que estava agonizando dentro do carro. O menino foi levado a um Pronto-Socorro da região, mas já chegou ao local sem vida. Um policial militar aposentado, identificado como Jackson, e que mora na região, testemunhou à Polícia Civil que presenciou a fuga e, ao perceber que havia uma criança baleada, preservou o local.

    Dilma deu poder de polícia às guardas municipais

    A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) concedeu às guardas municipais o poder de polícia em 8 de agosto de 2014. Dilma sancionou a Lei 13.022/2014, regulamentando o parágrafo 8º do artigo 144 da Constituição Federal. Com isso, os guardas municipais passaram a ter também a missão de proteger vidas, com direito a porte de arma, e não apenas a de proteger o patrimônio público, como antes.

    GCMs também podem atuar em conjunto com órgãos de segurança pública, agindo em situações de conflito, por exemplo. E ainda conseguem trabalhar com órgãos de trânsito, estaduais ou municipais, e até expedir multas. Os agentes têm direito à arma de fogo, mas podem ter isso suspenso nas hipóteses de restrição médica, decisão judicial ou justificativa feita pelo próprio guarda municipal.

    Quando a Ponte Jornalismo revelou a sansão da presidente Dilma, o antropólogo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares alertou que, com a lei, haveria “mais disputas, mais conflitos e mais rivalidade”. Ele afirmou que a lei “busca valorizar o município e as guardas, o que é muito positivo, mas ignora sua inscrição em uma ordem institucional abrangente e negligencia os efeitos desse quadro sobre a nova realidade que pretende criar assim como as consequências dessa nova realidade sobre o quadro mais amplo (…) adicionando à disputa entre PMs e polícias civis, a futura rivalidade entre Guardas e PMs”.

    Para o antropólogo, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 51/2013, que pretende reestruturar do modelo de segurança pública a partir da desmilitarização da PM, deveria ser votada e aprovada em vez da Lei 13.022/2014, porque a proposta “parte de uma compreensão sistêmica e encaminha uma transformação ampla”, diferentemente da lei sancionada por Dilma.

    Outros dois adolescentes mortos pela PM recentemente após perseguição

    O adolescente Robert Pedro de Melo Oliveira Batista da Silva Rosa, de 15 anos, morreu no último dia 24, em Guaianazes, bairro que faz divisa à Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, também após perseguição policial. Ele também estaria fugindo da polícia em um carro roubado. Até que ele perdeu o controle da direção e caiu com o veículo em um córrego. Quando foi sair do carro, pela janela, levou três tiros (2 no peito e 1 na boca) deflagrados por policiais militares da Força Tática.

    Sobre o caso, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou: “O DHPP instaurou inquérito policial para investigar a morte em decorrência de intervenção policial ocorrida na Cidade Tiradentes, na zona leste da capital. O veículo roubado passou por perícia e foi devolvido para a proprietária. A investigação segue em andamento pela Divisão de Homicídios. A Corregedoria da PM acompanha, como é praxe neste tipo de ocorrência.”

    Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, foi morto com um tiro no olho por um policial militar no dia 2 de junho. Quando foi morto pelos PMs, Ítalo vestia bermuda verde, blusa azul, camiseta amarela e calçava um par de chinelos pretos.

    A morte de Ítalo aconteceu às 19h daquele dia, na rua José Ramon Urtiza, na Vila Andrade, região do bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo. Um outro menino, de 11 anos e amigo da criança morta pela PM, foi apreendido na mesma operação da Polícia Militar, que visava recuperar um carro ano 1998 furtado.

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