Homem acusado de matar PM por portar um marcador de paintball recebe liberdade

     

    Jamerson estava com o mototaxista Lizien no dia 12 de agosto quando foram presos por policiais militares acusados pela morte do PM Samir da Silva Oliveira

    Jamerson (à esq) comemora liberdade junto de Lizien após decisão da Justiça em liberá-los | Foto: arquivo pessoal

    Acusados pela morte de um policial militar do Rio de Janeiro, Jamerson Gonçalves Dias, 30 anos, e  Lizien Francisco da Silva, 34, foram libertos após 13 dias na prisão pela Justiça entender que não há provas suficientes para incriminar os dois. Abordado por PMs da UPP, Jamerson tinha um marcador de paintball na bolsa, usado como base para a prisão, quando estava voltando para a casa com Lizien, que é mototaxista. Eles estavam presos desde o dia 12 de agosto.

    A decisão de arquivar do processo é da juíza da 3ª Vara Criminal, Raphaela de Almeida Silva. Segundo a magistrada, o mototaxista não foi apontado por nenhuma testemunha como sendo acusado do crime. Enquanto Jamerson responderá em liberdade, pois um policial manteve seu depoimento e disse que viu o vidraceiro sair do carro na hora do crime. O vidraceiro terá de comparecer mensalmente ao Juízo para informar e justificar suas atividades até o julgamento.

    Jamerson e Lizien foram presos no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, na madrugada de sábado (12/08), sob a acusação de terem participado da morte do policial militar Samir da Silva Oliveira, de 37 anos, ocorrido por volta das 18h30 do dia anterior no mesmo bairro. Levados para delegacia, dois policiais militares que estavam com o PM morto no tiroteio horas antes reconheceram a dupla como ocupantes de um carro roubado e que atiraram contra eles.

    Morador do Morro Azul, Jamerson explica que tinha trabalhado o dia inteiro no Barra Point com seu patrão, Djalma Santos, de 60 anos, e depois, no caminho para casa, passaram no Grajaú, Zona Norte, para comprar batatas e goiabada, quando decidiu pegar o mototáxi dirigido por Lizien.  “Peguei a moto e fui conversando com o taxista, o Lizien. Quando foi no sinal, por volta de quase oito horas da noite, três viaturas da Unidade Pacificadora de Polícia (UPP) passaram. Continuamos conversando no sinal até que uns sete PMs nos abordaram”, completou.

    Dupla recebeu liberdade após 13 dias presos. Jamerson (quarto da esquerda para a direita) e Lizien (ao seu lado direito, de branco), foram presos por policiais da UPP | Foto: arquivo pessoal

    Segundo o vidraceiro, o marcador de Paintball estava desmontado, dentro da mochila e um policial, ao revistar a bolsa, montou o equipamento e tirou a ponteira, que serve para deixar claro que é um marcador e não uma réplica. “Foi quando ele falou: vocês usam esse marcador para praticar assalto, né? E eu respondi que não, que no domingo do dia dos pais eu tinha jogo marcado. Ele disse que eu ia explicar isso na delegacia. Cheguei lá e expliquei tudo. Contei a história para o delegado, dei meu Facebook para ele ver minhas fotos e algumas conversas também”, continuou.

    O advogado Bruno Cândido acompanhou o caso dos dois. “Fiz o pedido ao delegado pelo relaxamento. A promotora se manifestou pelo relaxamento da prisão, mas como há o reconhecimento de um policial, ela pediu que a prisão preventiva fosse convertida, no caso do Jamerson, para comparecimento ao juízo”, disse. “Todo mês, Jamerson tem que comparecer até o final do processo, ou até que desapareça esse reconhecimento do policial”, completou. “O processo vai seguir na sede administrativa policial. Não houve sentença ainda”, finalizou.

    O advogado aponta para provas apresentadas na audiência de custódia que comprovam que Lizien nem Jamerson estavam no local do crime quando o policial foi morto. Imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas que acompanhavam os dois no dia foram incluídos.

    “Não entendi porque nos jogaram naquele processo e nem quiseram nos escutar. Nos levaram para a Cidade da Polícia e depois para Delegacia de Homicídio. Lá, só um policial deixou a gente falar, se expressar, que deu atenção para a gente. Daí em diante nossa vida virou um inferno. Fomos para Benfica e ficamos no isolamento. Depois, seguimos para Água Santa”, relembra Jamerson. “Mas agora, graças a Deus, estou com minha família de novo. Só quero retomar minha vida e ficar em paz. Sou um trabalhador do bem”.

     

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