“Você está no seu trabalho e recebe a notícia que sua casa foi arrombada pelos policiais! Isso é um absurdo! Não podemos nem trabalhar em paz!”, escreveu uma moradora que teve a casa arrombada e revirada por policiais
Moradores da Rocinha, maior favela do país, relatam que policiais estão invadindo suas casas sem mandado judicial. “Cheguei ontem em casa por volta das 5h30 e dei de cara com dois fuzis na minha janela. Fiquei em choque. Eu estava voltando do trabalho. Eles perguntaram se eu morava sozinho e pediram para abrir a porta”, disse um homem de Minas Gerais que vive na Rocinha há dois anos. “Eles entraram, procuraram alguma coisa e saíram depois. Foi uma eternidade. Eu fiquei com muito medo”, contou.
Outra moradora da Rocinha postou em rede social fotos que mostram o estado em que encontrou sua casa ao chegar do trabalho (abaixo). “Você está no seu trabalho e receber a notícia que sua casa foi arrombada pelos policiais! Isso é um absurdo! Não podemos nem trabalhar em paz! Saio do meu trabalho correndo, chego em casa e me deparo com isso! Muito triste!”, escreveu em seu Facebook.
A Polícia Civil disse que, por enquanto, não vai pedir mandado de busca coletivo e que a estratégia mudou. O delegado Antônio Ricardo, da 11ª DP (Rocinha), afirmou que está apurando as invasões de casas de moradores por policiais sem mandado.
Uma semana sob tiroteios e medo constante
No alto da rua Dois, na comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio de Janeiro, o cearense Diogo, morador da favela há 30 anos, assistia ao jornal quando os tiros recomeçaram, por volta das 13h de ontem (23/09). A parte de fora da parede da sua casa mostrava a realidade de quem convive com o medo: entre uma pintura vermelha descascada e outra, as marcas de tiros. “Não me assusto mais não. A gente aqui acaba se acostumando. Ou vai viver com medo?”, disse. “Minhas filhas e minha esposa foram lá pra cima, pra rua Um, porque estão assustadas. Eu não vou sair da minha casa. Não posso abandonar as minhas coisas, certo?”.
Há exatamente uma semana a Rocinha vive sob profunda tensão. O medo não cessa, desde que traficantes invadiram o morro armados para tirar o traficante Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, a mando de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que continua no comando do morro mesmo preso em um presídio federal em Rondônia. Desde segunda-feira (18/09), há operações policiais na favela, onde quase mil homens das forças armadas atuam em parceria com a PM.
Polícia suspeita que Rogério 157 voltou de táxi para a Rocinha
Por volta das quatro horas da madrugada de ontem, os moradores foram despertados por mais uma troca de tiros entre criminosos e policiais. O motivo seria a tentativa de fuga do traficante conhecido como “Rogério 157”, dentro de um táxi. O túnel Zuzu Angel, que liga os bairros da Gávea a São Conrado, na Zona Sul da capital fluminense, chegou a ficar fechado por uma hora.
O motorista do táxi, que não quis ser identificado por medo de represálias, conta que estava na região do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, quando um homem fez sinal e um grupo de criminosos armados entrou no carro. “Foi uma noite de terror”, disse. “Ele me pediu pra fazer uma corrida normal, me levaram até um ponto no Horto, perto do Parque da Cidade, onde fizeram a troca de pessoas. Saíram os três que estavam com este homem e entraram quatro. O carro estava cheio e eles armados”, relatou o taxista.
“Em momento algum anunciaram assalto ou mostraram arma para mim. Quando eu estava próximo à Rocinha, eles me falaram que era pra trazer uma pessoa para a comunidade. Não me falaram quem era, mas me davam o nome de ‘pai’. Esse ‘pai’ foi o homem que fez sinal e que sentou ao meu lado no carro”, completou. “Quando chegou no cerco da Rocinha, eu diminuí a velocidade um pouco, depois acelerei. Houve alguns disparos de dentro do carro, conseguimos sair do local, depois passei por outra barreira, onde consegui sair ileso. Ninguém do carro foi atingido. Não sei se a polícia atirou, eu escutava muito tiro e era de dentro do carro”, afirmou o taxista. “Ninguém falou nada, a única coisa que este tal de pai falou dentro do carro foi para não atirar na polícia e que não ia abandonar o morro por ser cria dele. Eu parei o carro e me joguei no chão. Eles saíram atirando. O pessoal do Bope veio e teve confronto. Me rastejei, saí por debaixo da caçamba de entulho e fiquei ali até a poeira abaixar”, finalizou.
De acordo com o delegado Antônio Ricardo, da 11ª DP (Rocinha), há indícios de que quem estava no táxi era o Rogério 157. “A descrição física que o taxista fez dá indícios de que quem estava no banco do carona era o 157. A volta dele para a comunidade foi para não perder o comando”, declarou Antônio. “O que se entende é que ele já tinha fugido, entrou no Horto e voltou para continuar mandando. Ele está sufocado, então se desloca o tempo todo. Vai para mata, para favela, para o asfalto e ele pode ser preso a qualquer momento. O marginal conhece toda a topografia da região e isso facilita muito a fuga dele”, disse o delegado.
A operação já causou um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão para os traficantes, segundo Antônio Ricardo.
De acordo com informações dos Registros de Ocorrências da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, desde a madrugada de hoje, foram apreendidos 18 fuzis, sete granadas, 2.136 munições e 75 carregadores, em operações conjuntas entre Forças Armadas e as Polícias Civil e Militar, ligadas à ocupação e cerco da Favela da Rocinha, em São Conrado, na Zona Sul do Rio.
Em nota, a Seseg (Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro) afirma que, “na madrugada de hoje, quatro homens foram presos por uma Guarnição da Polícia do Exército (PE) quando tentavam entrar na Rocinha, após roubar um motorista do aplicativo Uber. Eles estavam armados, mas foram abordados e capturados pela PE, que faz o cerco na região. Com eles, os militares apreenderam um fuzil AK 47 e uma pistola 9 mm , além de munições e R$ 2.198 em espécie”.
A pasta também afirma que, “na Ilha do Governador, equipes da Delegacia de Roubos e Furtos e da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil prenderam, na madrugada de hoje, Luiz Alberto de Moura, conhecido como Bob do Caju, com 10 fuzis, que iriam para a Favela da Rocinha. Condenado a mais de 40 anos de prisão, ele cumpria pena no regime semiaberto e fugiu. Moura é apontado como um dos homens de confiança de Antonio Lopes Bonfim, o Nem da Rocinha. Em um acesso à Rocinha, uma equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) trocou tiros com quatro homens que tentavam entrar na comunidade em um táxi roubado com o motorista como refém. Na troca de tiros, os criminosos abandonaram o táxi com cinco fuzis e farta munição”.
Confronto na Zona Norte
Segundo a Polícia Militar, na tarde de ontem, policiais do 6º Batalhão da Polícia Militar (Tijuca) trocou tiros com um grupo de criminosos armados, próximo ao Largo da Usina, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Uma criança foi ferida no confronto e, levada ao Hospital Souza Aguiar, passa bem. Em seguida, os policiais prenderam um homem que estava ferido e que, segundo a PM, seria da quadrilha do Rogério 157.
Ainda na Tijuca, na rua Conde de Bonfim, policiais da UPP (Unidade Pacificadora de Polícia) do Morro da Formiga e do Borel trocaram tiros com criminosos que estavam dentro de um carro. Um criminoso morreu e outro baleado foi preso com um fuzil.
Em nota, a Secretaria de Segurança afirma que, “no Alto da Boa Vista e na Tijuca, homens que fugiam da Favela da Rocinha foram interceptados pelo 6º Batalhão de Polícia Militar da Tijuca, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Formiga e da UPP Borel. Três foram baleados e morreram. Quatro foram presos. Dois fuzis foram apreendidos A região também teve o policiamento reforçado por equipes do Comando de Polícia Ambiental nas trilhas da Floresta da Tijuca e policias do Batalhão de Polícia de Choque no Morro do Turano”.
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