‘ITA só aceita LGBTs que se comportem como héteros, fiquem no armário’, diz aluno

    Talles de Oliveira Faria recebeu o diploma usando vestido e salto alto para criticar homofobia

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    Estudante escreveu críticas no vestido (Foto: reprodução/Facebook)

    De vestido vermelho e salto alto, Talles de Oliveira Faria se formou em Engenharia da Computação no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) no último dia 17 de dezembro, cena viralizada esta semana na redes sociais com apoios e reprovações, principalmente da classe militar. A intenção do estudante era denunciar a homofobia que enfrentou ao longo de cinco anos.

    Homossexual assumido, Talles explica haver repressão aos alunos LGBTs dentro do Instituto. “O ITA só aceita pessoas LGBTs que se comportem como uma pessoa heterossexual, fiquem no armário. Não se pode falar abertamente sobre sua sexualidade dentro Instituto”, denuncia, rebatendo a resposta da Aeronáutica após o seu protesto, em que a instituição nega haver discriminação no ITA. “Com essa resposta, a Aeronáutica quer dizer que a classe militar é homofóbica”, segue.

    Talles foi rotulado de corajoso até esquesdista nos grupos das redes sociais em que o vídeo dele recebendo o diploma chegou. Foram cinco anos de curso após conseguir uma vaga entre as 120 de Engenharia da Computação em meio a 12 mil concorrentes. Natural de Varginha, ele aponta sua expulsão das Forças Armadas como maior exemplo de homofobia neste tempo.

    Após um protesto no dia do combate à homofobia, em que também usou um vestido, uma sindicância foi aberta contra ele pelo Comaer (sigla para Comando da Aeronáutica), em que posts do Facebook serviram como provas – inclusive para enquadrá-lo em violência contra símbolos religiosos. Com a possibilidade de ser expulso do ITA e não concluir a faculdade, acabou sendo excluído do quadro da Aeronáutica. É um dos casos que motivou o protesto na formatura.

     

    “Tive essa ideia depois de muito tempo tentando dialogar. Vi que a única forma das pessoas verem o problema era uma exposição e chamar a atenção. Queria que ficasse claro visualmente que não era só eu de vestido e salto alto, mas tinha uma mensagem clara. Decidi escrever no vestido”, explica o estudante.

    A parte frontal do vestido vermelho tinha os dizeres “ITA/Aeronáutica, suas tradições em homofobia, racismo, violência psicológica”, seguidos pelo complemento na parte de traz: “Excelência em machismo, falsa meritocracia, elitismo e alunos desligados”.

    Em sua página do Facebook, Talles iniciou uma série de vídeos em que explica e elenca cada exemplo de violência vividas no Instituto dos tópicos escritos.

    “Espero que a Aeronáutica e o ITA tenham se sentido pressionados. Vejo gente que não se manifesta. Muito alunos passam por problemas psicológicos, depressão, tomam remédio para continuar, sempre se sentindo impotentes e violentados pelo abuso de autoridade. Eles saem e preferem ir embora de vez, não ter contato nenhum com o ITA novamente”, diz.

    Procurada pela Ponte Jornalismo, a Aeronáutica não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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