Transsexual tem dados e fotos expostos após alistamento no Exército

    Após militar do 4º Batalhão de Infantaria Leve de São Paulo expôr menor de idade, jovem recebeu várias ligações. Capitão do Exército teria orientado adolescente a trocar seu número de telefone

    A jovem Marianna Lively, que completou 18 anos no domingo (27), teve seus dados, fotos e CAM (Certificado de Alistamento Militar) expostos após participar do obrigatório alistamento militar, no último dia 23, quando ainda era menor de idade. Com a exposição, passou a receber ligações de pessoas procurando por David, seu nome de registro. “Esses desconhecidos caçoavam de mim por eu ser trans. Outros diziam ter gostado de mim e queriam deixar o telefone para eu entrar em contato”, afirmou a jovem em uma rede social.

    Marianna afirma que se apresentou no 4° Batalhão de Infantaria Leve, em Osasco, na Grande São Paulo, que é subordinada ao CMS (Comando Militar do Sudeste), com sede no bairro do Paraíso, na zona sul da capital, por seu “dever de cidadã brasileira”. Chegando lá, afirmou ter sido tratada com educação. “Porém, no mesmo dia, quando era 14h, começaram algumas ligações estranhas em minha residência, pessoas desconhecidas do RJ, SP, Brasília e Ceará, procuravam por David (meu nome de registro)”, explica.

    A jovem conta que só soube do ocorrido por volta das 22h do dia 23, quando uma amiga lhe avisou que havia fotos dela em grupos do Facebook e do WhatsApp. A trans acusa um soldado que estava em serviço pela exposição. As fotos de Marianna no quartel poderiam ter sido divulgadas por quaisquer dos outros jovens que estavam no local para a segunda fase do processo seletivo, mas com a divulgação do CAM fica clara participação de militares, já que só eles têm acesso ao documento. Endereço, telefone residencial, número do RG e nome completo dos pais também foram divulgados.

    Outro ponto grave é que, quando expostos os dados, Marianna era menor, o que configura desrespeito ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que proíbe a divulgação da identificação de menores. A vontade de Marianna em não servir também não foi levada em consideração em seu primeiro alistamento, que aconteceu no dia 22 de junho. Ela não foi dispensada.

    Ao procurar, no dia seguinte um superior, foi atendida por um capitão que se desculpou, mas pediu para a jovem se acalmar e a orientou a trocar seu número de telefone para evitar ainda mais constrangimentos. Através da rede social, ela cobra punição aos responsáveis. A exposição da jovem deixa nítida uma brecha na defesa do alistamento obrigatório militar, que confronta adolescentes a estarem frente a frente a “brincadeiras” bizarras, quase sempre em tom pejorativo e ordens de jovens soldados. Vale destacar que o 4° Batalhão de Infantaria Leve esteve nas manchetes policiais no início do ano após um comandante ordenar que seus subordinados trocassem socos, até um deles cair no chão.

    O Exército Brasileiro foi procurado através do Comando Militar do Sudeste, mas até a publicação do texto não havia respondido.

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